10 de fevereiro de 2024

Além de tudo, burros, por Érico Firmo

O ex-presidente Bolsonaro em reunião ministerial onde foi tratada as tramas do golpe (Foto: Reprodução/STF)

Está evidente que não foi por falta de vontade ou tentativa que não houve um golpe de Estado no Brasil em 2022. Como de resto no governo Jair Bolsonaro (PL), faltou competência, inteligência, capacidade. Mas, houve intenção, planos e ações com esse objetivo. O fracasso não elimina a ocorrência do crime. E o imperativo de punição rigorosa e exemplar.

A chance de sucesso da empreitada era zero, mas isso não inocenta ninguém. Não bastam armas e soldados para dar um golpe de Estado. Escrevi isso em dezembro. Tomemos o exemplo de 1964. Para a deposição de João Goulart, houve apoio internacional, principalmente dos Estados Unidos, simpatia do empresariado, da cúpula da Igreja Católica, da imprensa, de grande parte da classe média. O Congresso Nacional contribuiu, ao tentar dar ares de legalidade, e o Judiciário se omitiu. Quanto a Jango, nada o sustentava além do mandato para o qual não havia sido diretamente eleito, pois era o vice. A própria esquerda comunista não tinha por ele, e pelos trabalhistas em geral, o maior dos apreços.

Agora, o cenário internacional era ativamente contrário, assim como o Judiciário e a imprensa. A Igreja Católica demonstrou várias ressalvas, classe média se dividiu. Sobre o Congresso Nacional, o plano passava pela prisão do presidente, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como os gênios esperavam sustentar um negócio desses? Ainda mais numa época de redes sociais, em que não bastaria colocar censores em redações de jornal para controlar a informação?

O notório fascínio dos líderes do bolsonarismo pela ditadura militar os fez superestimar o peso das armas e desconsiderar o amplo aparato social e civil que viabilizou o golpe de 1964. Mas, como essa gente ia saber disso, com o desprezo pela pela história e pelos professores?

Sem surpresa

As evidências enrolam bastante Bolsonaro no plano de golpe. O que não surpreende ninguém. O ataque às urnas e às instituições era o pretexto. A mobilização em frente aos quartéis e nas ruas criava a impressão de mobilização popular. E havia a ação subterrânea com os militares. Chama atenção que tenham registrado e preservado a evidência do próprio crime. O que fizeram mesmo não é surpresa para ninguém.

Fajuto

Fica evidente também que o propalado apoio popular a Bolsonaro, as “manifestações espontâneas” de golpismo, eram urdidas nos palácios, articuladas, organizadas e mobilizadas nos quartéis.

Argumentos por terra

Um argumento comum em redes sociais, para negar o caráter golpista do 8 de janeiro, é afirmar que não se daria “golpe sem armas”. Ora pois, é justamente o que se escancara que pretendia Bolsonaro.

Papelão da oposição

A postura da oposição até aqui é repugnante. Diante dos absurdos expostos, têm a pachorra de fazer a defesa dos golpistas. Fazem alegações vagas, genéricas, sem enfrentar os fatos. Inacreditável que tenham essa ousadia. Progressista ou conservador, nenhum político com alguma dignidade pode defender os autores do ataque à democracia agora escancarado.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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