18 de abril de 2025

Porque eu sou contra a anistia e porque você também deveria ser! por Camila Arraes

Manifestantes fazem protesto contra os projetos de anistia aos presos pelo 8 de Janeiro (Foto: Fernando Frazão)

Em um passado não tão distante, na década de 1960, uma família composta por um casal e duas crianças, uma delas ainda bebê, saia de Recife, Pernambuco, para o Crato, no Ceará. O pai dessa família não ocupava nenhum cargo político, mas simplesmente era primo de Miguel Arraes e, por ter o mesmo sobrenome Arraes de Alencar, estava sendo perseguido pela ditadura militar.

Foi nessa família que nasci; a bebê era minha mãe, que não lembra de nada do período por ser pequena, mas minha avó relata o medo que teve de ficar em uma casa com duas crianças, enquanto meu avô se escondia na Serra de Araripe. Ironicamente, muitos anos depois, eu já adulta, tive que ouvir de meu pai a velha balela de que no período da ditadura era que era bom, era tudo seguro, as pessoas conseguiam comprar as coisas etc.

Meu pai conviveu com o meu avô e mesmo assim defendia a visão que possuía da vida que teve em outro interior do Ceará no qual a ditadura não teve grande influência. Meu pai havia sido mais um iludido pelo boom econômico e pela segurança que jamais existiu.

Certo dia fui questionada por um aluno sobre o porquê de a ditadura não ter a mesma proteção que o holocausto. E o respondi: exatamente por conta da anistia. Quando se perdoa quem matou, torturou, sumiu com corpos de centenas de pessoas, mostra-se que aquilo não foi um fato relevante para a história. Associado a isto, o impacto do holocausto teve uma dimensão um pouco maior, por abranger a extinção da raça considerada impura.

A ditadura perseguia os opositores ao governo militar. Então, a partir do momento que não se responsabiliza na proporção das penas devidas quem comete crimes, quer seja de homicídio, tortura, quer seja de dilapidação de patrimônio público com intuito de subverter a ordem do Estado Democrático de Direito por meio da intervenção militar, esse crime não cessará, e chegará um outro momento da história que os golpistas conseguirão atingir o seu objetivo.

Não foi somente uma pichação, os arruaceiros se encontravam na esplanada lutando contra o resultado das eleições, pedindo a intervenção de militares no STF, sem contar os meses acampados nos quartéis e as inúmeras ameaças enviadas aos ministros da Suprema Corte.

Por isso, eu e você temos o dever de nos opor à anistia - para que histórias como as que vivi com minha família, e tantas outras ainda mais graves, não voltem a acontecer em um futuro que pode estar mais próximo do que imaginamos. Que possamos gritar e lutar em um coro único: SEM ANISTIA PARA GOLPISTAS!

Publicado originalmente no O Povo+

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