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Em 2026 a disputa será pelas cadeiras de Cid Gomes e Eduardo Girão (Foto: Reprodução/Agência Senado) |
Na disputa pelo governo estadual, a base parece estar pacificada em torno do projeto de reeleição de Elmano. Ruídos envolvendo líderes, como no caso do senador Cid Gomes (PSB), foram pacificados e o governador deve contar com apoio dos principais caciques políticos do Estado. Apesar disso, novos estremecimentos em uma base que aglutina diversas legendas - e interesses - não estão descartados. Surge o desafio para o governo costurar a chapa sem provocar rompimentos.
Já a oposição tem demonstrado que eleger pelo menos uma das vagas no Senado é prioridade. É o caso do PL, que tem André Fernandes e Carmelo Neto como líderes locais, mas que não podem disputar nem o Executivo, nem o Senado, por não terem idade mínima exigida em lei. O Senado se torna ainda mais atrativo tendo em vista o resultado da eleição de 2018, quando Eduardo Girão (Novo) beliscou, à época, a segunda vaga. Girão é, inclusive, o único pré-candidato ao governo, de oposição, posto até então, mas deve dialogar com colegas.
Paula Vieira, professora universitária e pesquisadora vinculada ao Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídias da Universidade Federal do Ceará (Lepem-UFC), diz que o que joga o Legislativo no centro das disputas pré-eleitorais é, justamente, o tamanho da base governista. “Quando pensamos em eleições, o mais comum é que a discussão para o nome do Executivo puxe os nomes da chapa para o Legislativo. O primeiro ponto, aqui, é que a base está pacificada em torno da indicação de Elmano. A questão que traz o Legislativo para o primeiro plano é o fato da base ser grande e ter seus interesses próprios. Poderemos começar a ver as disputas entre as lideranças dessa base”, avalia.
Já no caso da oposição, a professora cita que ainda há um caminho de composição a ser trilhado. “Em termos de Senado, ainda não está claro, embora sinalizações tenham sido feitas. A oposição também não tem um nome definido para o Executivo, ou seja, todos os nomes estão sendo pautados e testados em alguma medida. Apesar disso, eles têm força, e os nomes da chapa, tendo a achar, certamente serão nomes competitivos”.
A pesquisadora avalia que há muito em jogo tanto para representantes da esquerda quanto para os nomes da direita cearense. “A esquerda parece estar mais formulada e a direita está se adequando às novas alianças feitas na eleição municipal. Roberto Cláudio, (José) Sarto, (Capitão) Wagner, essas lideranças estão observando onde vão se acomodar juntamente com o PL. Existiu uma aproximação, mas ainda não se teve uma consolidação dessa aliança”, conclui.
Para Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), a disputa fervorosa em torno do Senado se deve a um plano nacional do campo bolsonarista e de setores do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para privilegiar o Legislativo. “O presidente Lula já falou, algumas vezes, em sacrificar algumas candidaturas aos governos estaduais em nome daquilo que representa o Senado”, argumenta.
Emanuel explica que a Câmara dos Deputados tem um cenário mais favorável à direita, o que dá mais peso ao Senado. “Na Câmara está meio que resolvido, mas no Senado é onde passam algumas pautas importantes para o segmento de extrema-direita, como, por exemplo, impeachment de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e mudanças na Constituição. Tanto o governo, quanto a oposição, enxergam o Senado como campo de batalha para suas pautas em longo prazo. O Senado pode dar vida fácil ou complicar a vida de presidentes”, analisa.
No caso do Ceará, o professor lembra que as vagas do Senado, por muito tempo, foram ocupadas por aliados do governo. Ou seja, o governador eleito também conseguia eleger os senadores. Salvo algumas exceções históricas, o Emanuel lembra que, desde a redemocratização, isso ocorria pelo menos até 2014, quando Tasso Jereissati (PSDB) foi eleito.
“A
gente pensar que, de 1986 até 2014, as vagas no Senado foram ocupadas a reboque
do governo, é bastante coisa. Aqui sempre teve mais essa disputa pelo governo
do que do Senado propriamente. Por isso, candidaturas pouco competitivas se
colocavam para o Senado, porque dada as composições fortes do governo, como foi
com Tasso, com Ciro (Gomes), com Cid (Gomes) e com Camilo (Santana), não havia
muito o que se disputar para o senador. Isso mudou em 2014 e, talvez, tenha se
legitimado com a eleição de Eduardo Girão em 2018, nome da oposição. Aí se viu
a possibilidade de ser mais rentável investir nessas vagas”, finalizou.
O que querem e dizem caciques e partidos sobre a disputa ao Senado no Ceará
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Quem ocupa a cadeira de senador fala em não disputar Crédito: Luciana Pimenta |
O acirramento na disputa pelas duas vagas que estarão abertas no Senado cearense, a partir da eleição de 2026, tem uma contrapartida. Os dois senadores que poderiam disputar a reeleição para a posição que já ocupam têm falado que não pretendem se candidatar. Cid Gomes (PSB) e Eduardo Girão (Novo) já deram inúmeras declarações públicas nesse sentido, o que movimenta os bastidores políticos e os interesses de partidos nessas vagas.
No caso de Cid, o senador chegou a citar o deputado federal Júnior Mano (PSB) como um apadrinhado para as eleições. O governador Elmano de Freitas (PT), que deve concorrer à reeleição, e o ministro Camilo Santana (PT) já defendem que Cid concorra novamente. Emanuel Freitas, pesquisador do Lepem-UFC, projeta que Cid "jogará um peso pesado nessa eleição" e, por isso, os aliados têm insistido na manutenção da reeleição dele. "Porque sabem que qualquer outro nome, mesmo apoiado por Cid, terá mais dificuldades", diz.
Em outra ponta, Girão já se colocou como pré-candidato a governador em 2026, mas não descarta conversas com aliados da oposição para definir os rumos do bloco. Tendo em vista que, em 2022, o então candidato a governador Elmano conseguiu se eleger já em um turno.
A cientista política Paula Vieira projeta uma "tendência de que a direita seja bem votada no Estado" nas eleições de 2026 para o Legislativo. "Se as forças de oposição se organizarem em bloco ficam competitivas eleitoralmente para tentar eleger um senador, como foi com Girão (2018). Agora, se contarmos as prefeituras e, em termos de articulação política, Cid e José Guimarães têm mais permeabilidade, tanto pelas prefeituras, quanto pelo capital político já consolidado, mas acredito que a direita vem competitiva também", projeta.
Embora haja certa desconfiança com as falas dos senadores sobre não se candidatarem, especialistas não descartam eventuais reviravoltas, pois ainda resta um ano e meio até o pleito. "Talvez eles queiram outros rumos para vida pública e falam que não tem mais interesse ou pode ser uma forma de testar nomes e ver como o ano pré-eleitoral caminha", diz Paula, reforçando que Cid tem um peso na construção da chapa em 2026.
"Ele querendo, será candidato e isso é inegável. Mas há fatores a serem analisados, quais os nomes, quem está mais competitivo para puxar votos e tentar as duas vagas no Senado. Seria Cid e Guimarães? Seria Júnior Mano? E a oposição, quem vai lançar? Alcides (Fernandes). Por isso eles não dizem, logo de cara, que continuam. Tem muita água para rolar", provoca.
Emanuel
diz que a oposição se fortaleceu nas últimas eleições municipais, agrupando
atores políticos da direita tradicional, de centro e também o grupo
bolsonarista. "Se viu uma oportunidade de acumular forças. Mas, a preço de
hoje, me parece que Girão não pretende tentar a reeleição e que tentará se
candidatar a deputado federal, porque, embora tenha mandato expressivo para ala
conservadora, não consegue ampliar para além disso. Enquanto Cid tem dado suas
manifestações de que não deseja continuar", concluiu.
Publicado originalmente no O Povo+
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