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O ato foi na Avenida Paulista, em São Paulo (Foto: Miguel Schincariol) |
Em mais um capítulo da saga para livrar o ex-presidente Jair Bolsonaro de uma eventual prisão por tentativa de golpe de Estado, a oposição reuniu milhares de pessoas na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), ontem (06/04). Os discursos em prol dos presos pelo 8 de janeiro seguiram o roteiro dos atos anteriores, com direito a críticas ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), mas o que se viu foi um aumento das cobranças em cima do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que tem evitado pautar o tema na Casa Baixa para evitar se indispor com o STF e com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na
última semana, os líderes da oposição, da minoria e do PL intensificaram as
conversas com Motta para tentar convencê-lo a dar andamento ao projeto. O
presidente, por sua vez, não mudou de ideia. Até proibiu que a oposição levasse
familiares dos presos do 8 de janeiro dessem entrevistas no Salão Verde da
Casa, o que deputados de direita chamaram de “censura”.
O deputado Altineu Côrtes (PL-RJ), vice-presidente da Câmara, participou do ato de Bolsonaro e disse que Motta será pautado pela maioria. “Eu vou me ater a uma pauta fundamental para todos nós: a pauta da justiça, que o presidente Bolsonaro, que o pastor Silas, que o presidente Valdemar Costa Neto, e que todos nós estamos aqui para defender: a pauta da anistia. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, ele é um presidente que vai ser pautado pela maioria da Câmara dos Deputados”, afirmou o deputado.
Já pastor evangélico Silas Malafaia, aliado de Bolsonaro e organizador do ato, não poupou críticas ao presidente da Casa. “Se Hugo Motta está assistindo isso aqui, que ele mude. Porque você, Hugo Motta, está envergonhando o povo da Paraíba”, disse o religioso no alto do trio elétrico ao lado de Bolsonaro.
O ex-presidente, por sua vez, não mencionou o nome de Motta em seu discurso. Ao tomar a palavra, voltou a dizer que a liberdade é mais importante que a vida e afirmou que, quando o assunto é anistia, os governistas “já perderam a guerra”. “A grande maioria do povo brasileiro entende as injustiças e agora se socorre da nossa Câmara Federal, do Senado Federal para fazer justiça. E a anistia é competência privativa do Congresso Nacional. Caso eles votem, o projeto seja sancionado ou promulgado no caso de veto, vale a anistia”, disse.
“Nós estamos aqui principalmente impulsionados pelo episódio da Débora (Rodrigues dos Santos)”, disse o ex-presidente, referindo-se à cabeleireira que pintou de batom a Estátua da Justiça durante os atos de vandalismo na Praça dos Três Poderes. Durante sua fala, Bolsonaro chamou familiares da mulher, que já está em casa depois de o STF conceder-lhe prisão domiciliar no fim de março. Em determinado momento de seu discurso, o político tentou ler um breve discurso em inglês para falar da situação de alguns dos presos do 8 de janeiro para, segundo ele, “mandar uma mensagem para o mundo”. A falta de habilidade na pronúncia rendeu uma enxurrada de memes nas redes sociais.
O ex-presidente, que é réu por tentativa de golpe de Estado, negou também ter havido uma tentativa de ruptura democrática no fim de 2022 e afirmou que o verdadeiro golpe foi a vitória de Lula nas urnas. “O golpe deles só não foi perfeito porque em 30 de dezembro eu saí do Brasil. Algo me avisou (disse, apontando para o alto) que alguma coisa ia acontecer. Se eu estivesse no Brasil, seria preso na noite de 8 de janeiro. E estaria apodrecendo na cadeia até hoje ou até mesmo assassinado por esses mesmos que botaram esse vagabundo na Presidência”, afirmou.
Durante seu mandato (2019-2023), o ex-presidente questionou diversas vezes o resultado das eleições de 2018 (que ele mesmo venceu) e levantou dúvidas sobre a lisura do processo eleitoral. Ontem, o discurso mudou. De olho em 2026, Bolsonaro disse aos seus apoiadores que o TSE terá um perfil “completamente de isenção” — o presidente será o ministro Nunes Marques, indicado por ele ao Supremo Tribunal Federal (STF) em 2020 — e que será possível confiar no resultado da eleição.
“No ano que vem, o TSE terá um perfil completamente de isenção e podemos voltar a confiar nas eleições do ano que vem. O atual sistema busca cada vez mais tirar da cédula eleitoral do ano que vem as lideranças de direita. O (governador Ronaldo) Caiado (União Brasil-GO) está aqui inelegível, vai recuperar a elegibilidade dele, se Deus quiser. Eu estou inelegível porque me reuni com embaixadores”, destacou Bolsonaro.
Tiro
no pé
Para os governistas, a estratégia de aliados do ex-presidente de encurralar Hugo Motta sairá pela culatra. A análise é de que, se o presidente da Câmara já havia deixado claro que não cederia fácil, não o fará depois de ser insultado publicamente na Avenida Paulista. “Os ataques ao presidente Hugo Motta foram um tiro no pé para os defensores do PL da anistia. Alguém acha mesmo que o presidente vai pautar esse PL depois desses ataques? Claro que não. Agora é que ele não pauta mesmo. Seria se render a uma política de intimidação grosseira”, disse o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), em seu perfil no X.
“Foram
muitas mentiras e só uma verdade: 56% são contra a anistia; 67% não querem que
Bolsonaro seja candidato; Lula vence em todos os cenários e o ex-presidente é o
político mais rejeitado do país”, disse Lindbergh, ao citar números das últimas
pesquisas Quaest e Datafolha, divulgadas no fim de semana.
Já o deputado José Guimarães disse considerar o ato um “fracasso”. “Os governadores que lá foram estão solidários com quem tentou destruir a democracia. Não se está discutindo o tamanho das penas dos condenados. O fato é se os generais e Bolsonaro vão ou não para a cadeia”, pontuou.
Além dos congressistas que estão engajados em pautar a anistia no Legislativo, Bolsonaro reuniu também sete governadores, alguns deles de olho no posto de candidato da direita à Presidência em 2026, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Romeu Zema (Novo-MG), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO).
Segundo
pesquisa Datafolha divulgada no sábado, nenhum deles venceria Lula se a eleição
fosse hoje. Também participaram os governadores Jorginho Mello (PL-SC), Mauro
Mendes (União Brasil-MT) e Wilson Lima (União Brasil-AM).
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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