A Praça de São Pedro ficou pequena para multidão de fiéis que compareceram ao funeral do papa Francisco (Foto: Alberto Pizzoli)
O
jesuíta que escolheu o nome do santo que guia os franciscanos já prenunciava,
nesse rebatismo, a simplicidade que pretendia imprimir em seu pontificado. A
revolução que promoveu ao conduzir uma instituição tradicionalista, alicerçada
em dogmas, conquistou ao redor de todo o mundo até quem não era adepto ao
cristianismo.
Clamou por uma igreja em saída, aproximou religiões, direcionou os refletores globais para temas emergentes. Debruçou-se sobre mudança climática, rogou pela paz diante de conflitos humanitários, permitiu bênção a casais homoafetivos e orientou o acolhimento a casais de segunda união. Desagradou conservadores, mas também o foi. Condenou o aborto e, assim, a luta pela garantia de direitos reprodutivos das mulheres.
É neste espaço paradoxal que o primeiro Sumo Pontífice latino-americano deixa o trono de São Pedro para o seu sucessor. Um legado forte e controverso. Ampliou os espaços geográficos e culturais da eleição de um líder religioso, mas também de um chefe de Estado, ao indicar 108 dos 135 cardeais aptos a participarem do conclave. O grupo, todavia, é composto por nomes ligados aos antecessores Bento XVI e João Paulo II.
O Brasil foi seu primeiro destino internacional, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), em 2013. No papamóvel, a poucos metros de mim, acenou aos fiéis. Com sua trajetória, acenou para como deseja ser conduzida a Igreja Católica. Aplainou o caminho, mas já não repousam em suas mãos os rumos. Se pertence a Deus, o futuro também depende da influência que o catolicismo está disposto a exercer nos próximos anos.
Papa Francisco é sepultado em cerimônia simples após milhares lotarem último adeus ao pontífice
Um "viva, viva" soou entre os longos aplausos a Francisco neste sábado, 26, última vez que esteve entre uma multidão de fiéis, que o acompanharam da basílica de São Pedro até a de Santa Maria Maior, local de seu sepultamento.
O caixão do papa Francisco foi enterrado neste sábado na basílica de Santa Maria Maior, em Roma, após multidões de fiéis se reunirem para se despedir do papa do "fim do mundo", que colocou os desfavorecidos no coração da Igreja Católica.
Seu enterro, o primeiro de um pontífice fora dos muros do Vaticano desde Leão XIII em 1903, conclui o pontificado de 12 anos marcado pela defesa dos migrantes, do meio ambiente e da justiça social.
Em sua última viagem, seu caixão percorreu de papamóvel as ruas da Cidade Eterna, passando por locais icônicos como o Coliseu e os Fóruns Imperiais em um ensolarado dia de primavera europeia. A bordo do papamóvel, seu caixão percorreu 4 km.
"Grazie, Francesco", dizia uma faixa branca com letras vermelhas gigantes pendurada em um prédio em frente à basílica onde o primeiro pontífice latino-americano foi enterrado. Um grupo de pessoas marginalizadas o acolheu como símbolo de seu pontificado.
Os aplausos deram lugar ao silêncio quando o caixão foi retirado do veículo e desapareceu pelas portas da imponente igreja do século V, localizada no coração de Roma. O enterro privado durou cerca de meia hora, mas as pessoas permaneceram nas proximidades de Santa Maria Maior por mais tempo.
O sepultamento ocorreu às 13h30 locais (8h30 em Brasília) durante uma cerimônia íntima presidida pelo cardeal camerlengo Kevin Farrell, na presença de familiares do primeiro papa latino-americano, como informou o Vaticano.
Seu túmulo é fiel à imagem de simplicidade que ele construiu para si mesmo: feito de mármore da região do norte da Itália, de onde sua família é originária, e com "Franciscus" como única inscrição. O público poderá visitá-lo a partir deste domingo, 27.
Pelo menos 400 mil pessoas acompanharam o dia de despedida a Francisco nas ruas da capital italiana e na Praça de São Pedro e arredores, onde ocorreu a Missa de Exéquias. Além de fiéis, a celebração reuniu chefes de Estado, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o argentino Javier Milei, o francês Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte, o rei Felipe VI e a rainha Letizia da Espanha. Líder dos Estados Unidos, Donald Trump, também se fez presente.
Homenagens também foram prestadas em outros lugares do mundo como Tailândia e sua Argentina natal, para onde nunca retornou como papa.
O local de descanso final do papa fica a 11.000 km de sua cidade natal, Flores. Em frente à Catedral de Buenos Aires, na Praça de Maio, cem jovens se reuniram com cantos e velas até o início do funeral, às 5h da manhã.
"Seja corajosos. Não tenham medo de chorar (...) A dor nos une como povo", disse o arcebispo de Buenos Aires, Jorge García Cuerva, durante uma missa para o papa diante de milhares de pessoas.
Após três dias de velório aberto, Francisco descansou."Era um pastor simples e muito querido em sua arquidiocese, que viajava para todos os lugares, até mesmo de metrô e ônibus (...) porque se sentia como mais um do povo", diz Rogito, um obituário oficial que repassa sua vida.
Ele foi depositado na noite de sexta-feira em seu caixão de madeira, coberto com uma placa de zinco e uma placa de madeira marcada com uma cruz. Seus sapatos pretos e seu inseparável rosário também o acompanham por toda a eternidade.
Publicado
originalmente no O Povo+
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