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7 de março de 2025

Os "defensores da liberdade" negam a ditadura brasileira, por Érico Firmo

O deputado Eduardo Bolsonaro acha Moraes ditador e Médici, não (Foto: Reprodução/Facebook)

Como teve gente que ficou zangada com o que escrevi na coluna de ontem, volto ao assunto para falar mais do tema ditadura brasileira. Eduardo Bolsonaro (PL), na postagem em que atacou Walter Salles, falou que o regime militar instituído em 1964 foi uma “ditadura inexistente”. O posicionamento brutesco tem como positivo reavivar a memória o explicitar a quem não sabe qual é a história do grupo que dá sustentação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A extrema-direita no mundo tem na raiz — e no caule, nas folhas, flores e frutos — a defesa do autoritarismo e da autocracia, o exercício da política pela força e a eliminação dos contrários. Mas, numa estratégia malandramente esperta, passou-se a adotar o discurso de defesa da liberdade. Uma conversa fiada sem tamanho.

O bolsonarismo se diz contrário a todo tipo de regime autoritário no mundo. Desde que de esquerda: Cuba, Venezuela, Coreia do Norte, Nicarágua e por aí vai. Mas, Arabia Saudita tudo bem, até joia de presente chega — escondida. Da China se reclama, mas não muito. Sabe como é, maior parceira comercial do País. Porém, e sobre a ditadura que durante 21 anos solapou a democracia aqui mesmo? Ah, dessa não reclamam. A história do seu Jair Bolsonaro, o defensor das liberdades, foi pavimentada ao defender a ditadura brasileira, torturadores e afins. Agora, o filho vem dizer que a ditadura não existiu.

Foram 25 anos sem eleições diretas para presidente da República. Sem eleição para governador foram 17 anos. Em capitais, 23 anos. Presidente era escolhido pelo Congresso Nacional — nas três últimas eleições, foram agregados delegados eleitos pelas assembleias legislativas estaduais, no chamado “colégio eleitoral”. Coisa para dar mais representatividade, tornar mais democrático, sabe como é? Mas o voto não era secreto, porque aí era arriscado demais.

Um presidente legítimo foi deposto, mandatos foram cassados, partidos foram extintos, opositores foram presos por serem opositores. Houve 173 deputados federais cassados. O Congresso Nacional foi fechado três vezes. Três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tiveram aposentadoria compulsória decretada pelo então presidente Costa e Silva. Outros dois abandonaram a Corte em protesto.

Havia golpes dentro do golpe. Regras eram alteradas a cada resultado adverso nas — limitadas e controladas — eleições que eram mantidas.

Habeas corpus foram abolidos para crimes políticos que se considerava atentar contra a segurança nacional.

Hoje há protestos veementes contra a “censura” de pessoas acusadas de usar redes sociais para cometer crimes. Na ditadura, nem o “Zero Três” de Bolsonaro vai negar que houve censura nas redações de jornais, notícias eram proibidas de ser veiculadas, músicas, peças de teatro, novelas eram proibidas.

E só elenquei o que era oficial, explícito, escancarado, política de Estado. Nem mencionei os porões da ditadura, a ação subterrânea que torturou, estima-se, 20 mil pessoas, levou 7 mil ao exílio e matou pelo menos 434 — tem gente que acha poucas vidas.

Eduardo Bolsonaro acha ditatorial mesmo o “regime instaurado pelo Alexandre de Moraes”. A ditadura de verdade, para ele, é inexistente.

O democrata Dudu

Quem vê Eduardo Bolsonaro deve imaginar um grande defensor da democracia. Num grupo que falava que não aceitaria derrota na eleição, ainda em 2018, que falava que não haveria eleição se não fosse como eles queriam. Eduardo mesmo, antes da vitória do pai há sete anos, falava: Se quiser fechar o STF, sabe o que você faz? Você não manda nem um jipe, cara, manda um soldado e um cabo. Num é querer desmerecer o soldado e o cabo, não”.

Ele posa de grande defensor da liberdade. Isso é normal. Anormal é alguém cair nessa.

Publicado originalmente no O Povo+

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