![]() |
O governador Tarciso e o ex-presidente em ato na Praia de Copacabana no Rio de Janeiro (Foto: Alexandre Cassiano) |
Lembra o pacto do Dr. Fausto (Faust, em alemão), lenda tedesco popularizada na literatura pelo poema dramático de Johann Wolfgang von Goethe (1808 e 1832). O protagonista é um sábio insatisfeito com sua vida e seus conhecimentos. Frustrado porque ainda não alcançou a verdadeira essência da existência, faz um pacto com Mefistófeles, um demônio que representa a tentação.
Mefistófeles promete conceder a Fausto tudo o que ele deseja — prazer, juventude, conhecimento ilimitado —, mas em troca, quando Fausto encontrar a plena satisfação e desejar que o tempo pare, sua alma será entregue ao diabo. A morbidez permeia toda a história. Fausto se torna jovem novamente e se apaixona por Gretchen (Margarida), uma jovem inocente, que engravida. Entretanto, seu irmão morre em um duelo e sua mãe é envenenada; ao fim, Gretchen enlouquece e é presa.
Após a tragédia, Fausto viaja com Mefistófeles, em busca de novas experiências, incluindo o prazer na Corte do imperador e até um romance com Helena de Troia. Apesar dos prazeres e conquistas, Fausto nunca encontra a satisfação total, que faria o tempo parar. No final, tenta criar um império utópico, mas morre antes de concluí-lo. No texto de Goethe, porém, Fausto é salvo por forças divinas: apesar dos erros, ele nunca parou de buscar algo maior.
Ato
esvaziado
Cínico e irônico, Mefistófeles não é um demônio clássico, sempre tenta provar que os humanos são fracos e corrompíveis. Seu papel vai além do vilão tradicional, é um crítico da sociedade e da própria condição humana. Tarcísio de Freitas está mais para Fausto. Foi a grande estrela do ato realizado por Bolsonaro, em Copacabana, no Rio de Janeiro, que contou também com a participação dos governadores do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL); de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil); e de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL). Pré-candidatos a presidente da República, os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União); de Minas, Romeu Zema (Novo); e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), não compareceram.
Há controvérsias sobre a envergadura da manifestação. A Polícia Militar fluminense divulgou que teria chegado a 400 mil pessoas. Levantamento do Monitor do Debate Público do Meio Digital, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), apontou que a manifestação reuniu 18,3 mil pessoas, ou seja, menos de 2% do público de um milhão de pessoas que era aguardado para o ato.
Embora esses números enfraqueçam o projeto de anistia dos condenados pelo 8 de Janeiro, que foi anunciado durante o ato pelo líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), o mais importante foi o discurso do governador de São Paulo. Tarcísio de Freitas subiu o tom contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e reiterou sua lealdade a Bolsonaro, de tal maneira que o gesto foi interpretado no Palácio do Planalto como a disposição de deixar o governo de São Paulo e, realmente, disputar a Presidência da República.
"A gente está aqui para pedir, lutar e mostrar que todos estamos juntos para exigir anistia daqueles inocentes que receberam penas desarrazoadas (...) Quero ver quem vai ter coragem de se opor (ao projeto da anistia)", afirmou. "Qual razão para afastar Jair Messias Bolsonaro das urnas? É medo de perder eleição, por que sabem que vão perder?", questionou o governador paulista.
Tarcísio sabe que Bolsonaro está inelegível e não disputará a eleição, por isso, foi para a aba do chapéu do ex-presidente para ser seu candidato à Presidência, com o compromisso de anistiar todos os envolvidos na tentativa de golpe de 8 de janeiro e, principalmente, Bolsonaro, que está inelegível e pode ser condenado à prisão por tentativa de golpe de Estado.
Entretanto, o ato foi um banho de água fria nos setores do PSDB, MDB, Podemos e PSD que articulam uma ampla aliança de "centro democrático" em torno de Tarcísio de Freitas, "contra a polarização". Esses setores não têm o menor interesse na anistia de Bolsonaro e estão numa articulação muito forte em São Paulo.
Ocorre que o arranjo político que está sendo tecido por Bolsonaro não é o que desejavam. O esquema do "centro democrático" era uma dobradinha de Tarcísio com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), mas o candidato de Bolsonaro ao Palácio dos Bandeirantes é o presidente reeleito da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado André do Prado (PL), que seria apoiado por Tarcísio.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
Leia
também:
Rubens
Pierrotti Jr: "Militares são contaminados por mentalidade golpista"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.