24 de fevereiro de 2025

Uma oportunidade para zerar o jogo, por Roberto Brant

Lula venceu 5 das ultimas 6 eleições disputadas (Foto: Aldo Barranco)

Desde o início deste século, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem sido a figura dominante e invencível da política brasileira. Das seis eleições presidenciais que foram disputadas, de 2002 até 2022, ele venceu cinco, três pessoalmente e duas por meio de uma indicada sua, Dilma Rousseff, sem nenhum capital político próprio. Na única vez que seu candidato foi derrotado, estava preso por condenação criminal, em um momento particularmente adverso para ele e seu partido. Na eleição seguinte, venceu novamente.

Nesses 25 anos do novo século, algumas coisas melhoraram, especialmente no campo das políticas sociais. A pobreza não diminuiu muito, mas a condição de vida dos pobres tornou-se menos perversa, graças ao SUS e ao Bolsa Família, obras coletivas do sistema político brasileiro, e não uma iniciativa exclusiva dos governos do PT. O crescimento econômico foi irregular, alternando momentos bons e situações críticas, especialmente no governo Dilma. Ao final das contas, o Brasil não se libertou da pobreza crônica, nem mudou de patamar nas comparações internacionais.

Parece que o longo ciclo de Lula está se aproximando do fim. Apesar de tanto tempo no poder e do uso aberto desse mesmo poder para fins políticos, o PT vem definhando. É claramente um partido de velhos quadros e velhas ideias, que sobrevive pelas sobras do carisma de seu líder. E tal como seu partido, Lula também não foi capaz de se renovar e compreender as mudanças no mundo e no Brasil.

O presidente venceu as últimas eleições não pelas suas ideias ou propostas, mas por ter se tornado a única alternativa para derrotar Jair Bolsonaro. Infelizmente, não compreendeu isso e preferiu governar em minoria com os companheiros de sempre e, também, com as ideias de sempre.

Não podia dar certo. Graças à expansão fiscal patrocinada por Bolsonaro no ano eleitoral e aos gastos públicos autorizados, a seu pedido, pelo antigo Congresso, o governo Lula surfou numa onda de crescimento e de baixo desemprego nos dois primeiros anos. O custo deste falso crescimento, como não poderia deixar de ser, foi uma crise fiscal, o aumento perigoso da dívida pública e juros na estratosfera. Os próximos dois anos serão de baixo crescimento, juros altos e inflação acima da meta e essas expectativas estão disseminadas em toda a população.

Os baixos índices de aprovação e a alta rejeição do governo e do próprio presidente não são o resultado de falhas de comunicação, mas o fruto de um governo ausente, omisso e que não entrega resultados. É um governo sem pensamento estratégico, fechado em si mesmo e sem horizontes. É o exercício puro do poder pelo poder.

O mundo está passando por turbulências nunca vistas, e com toda certeza será radicalmente reconfigurado em termos econômicos e geopolíticos. Será um mundo de grandes riscos e perigos para nós, mas, também, de muitas oportunidades que, para serem aproveitadas, precisarão de um governo que tenha clareza estratégica, compreensão da realidade e visão de longo prazo — tudo que não temos, mas precisamos ter.

Sem alternativa

Nesses 25 anos, o país fracassou em encontrar uma alternativa a Lula e seu partido. Várias candidaturas convencionais foram tentadas, mas as disputas foram perdidas, até que um candidato improvável se apresentou e resgatou, finalmente, a grande legião de brasileiros que não votava no PT. Os eleitores de Bolsonaro foram praticamente os mesmos que votaram sempre no PSDB e perderam todas as eleições.

Hoje a política brasileira está dividida entre Lula e Bolsonaro, porque nossa vida cívica deteriorada não consegue projetar novas lideranças. Ambos são políticos de um tempo que já passou, incapazes de guiar o Brasil para as mudanças que chegam em toda parte.

Uma oportunidade está se abrindo finalmente para nós. O governo Lula parece irrecuperável e o julgamento de Bolsonaro, qualquer que seja o seu desfecho, certamente afetará sua relevância. Os ventos parecem favoráveis à renovação. Resta ao sistema político cumprir seu papel e, à população brasileira, recuperar o ativismo e a esperança.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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