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Lula venceu 5 das ultimas 6 eleições disputadas (Foto: Aldo Barranco) |
Nesses 25 anos do novo século, algumas coisas melhoraram, especialmente no campo das políticas sociais. A pobreza não diminuiu muito, mas a condição de vida dos pobres tornou-se menos perversa, graças ao SUS e ao Bolsa Família, obras coletivas do sistema político brasileiro, e não uma iniciativa exclusiva dos governos do PT. O crescimento econômico foi irregular, alternando momentos bons e situações críticas, especialmente no governo Dilma. Ao final das contas, o Brasil não se libertou da pobreza crônica, nem mudou de patamar nas comparações internacionais.
Parece que o longo ciclo de Lula está se aproximando do fim. Apesar de tanto tempo no poder e do uso aberto desse mesmo poder para fins políticos, o PT vem definhando. É claramente um partido de velhos quadros e velhas ideias, que sobrevive pelas sobras do carisma de seu líder. E tal como seu partido, Lula também não foi capaz de se renovar e compreender as mudanças no mundo e no Brasil.
O presidente venceu as últimas eleições não pelas suas ideias ou propostas, mas por ter se tornado a única alternativa para derrotar Jair Bolsonaro. Infelizmente, não compreendeu isso e preferiu governar em minoria com os companheiros de sempre e, também, com as ideias de sempre.
Não podia dar certo. Graças à expansão fiscal patrocinada por Bolsonaro no ano eleitoral e aos gastos públicos autorizados, a seu pedido, pelo antigo Congresso, o governo Lula surfou numa onda de crescimento e de baixo desemprego nos dois primeiros anos. O custo deste falso crescimento, como não poderia deixar de ser, foi uma crise fiscal, o aumento perigoso da dívida pública e juros na estratosfera. Os próximos dois anos serão de baixo crescimento, juros altos e inflação acima da meta e essas expectativas estão disseminadas em toda a população.
Os baixos índices de aprovação e a alta rejeição do governo e do próprio presidente não são o resultado de falhas de comunicação, mas o fruto de um governo ausente, omisso e que não entrega resultados. É um governo sem pensamento estratégico, fechado em si mesmo e sem horizontes. É o exercício puro do poder pelo poder.
O mundo está passando por turbulências nunca vistas, e com toda certeza será radicalmente reconfigurado em termos econômicos e geopolíticos. Será um mundo de grandes riscos e perigos para nós, mas, também, de muitas oportunidades que, para serem aproveitadas, precisarão de um governo que tenha clareza estratégica, compreensão da realidade e visão de longo prazo — tudo que não temos, mas precisamos ter.
Sem
alternativa
Nesses 25 anos, o país fracassou em encontrar uma alternativa a Lula e seu partido. Várias candidaturas convencionais foram tentadas, mas as disputas foram perdidas, até que um candidato improvável se apresentou e resgatou, finalmente, a grande legião de brasileiros que não votava no PT. Os eleitores de Bolsonaro foram praticamente os mesmos que votaram sempre no PSDB e perderam todas as eleições.
Hoje a política brasileira está dividida entre Lula e Bolsonaro, porque nossa vida cívica deteriorada não consegue projetar novas lideranças. Ambos são políticos de um tempo que já passou, incapazes de guiar o Brasil para as mudanças que chegam em toda parte.
Uma oportunidade está se abrindo finalmente para nós. O governo Lula parece irrecuperável e o julgamento de Bolsonaro, qualquer que seja o seu desfecho, certamente afetará sua relevância. Os ventos parecem favoráveis à renovação. Resta ao sistema político cumprir seu papel e, à população brasileira, recuperar o ativismo e a esperança.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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