14 de fevereiro de 2025

Oposição a Elmano tenta superar arestas, por Henrique Araújo

O ex-prefeito Roberto Claudio se encontrou com lideranças da oposição na Alece (Foto: Igor Magalhães)

A oposição ao condomínio governista no Ceará tem ao menos dois desafios significativos pela frente, um dos quais é superar divergências internas a fim de dar tratos de bloco ao que hoje é apenas uma nebulosa de nomes mais ou menos interessados numa composição única para concorrer ao Governo em 2026.

Capitão Wagner (União), Tasso Jereissati (PSDB), Roberto Cláudio (PDT), André Fernandes (PL): o que há em comum entre eles senão o fato de que hoje não podem prescindir de um arranjo mútuo com o propósito de representar ameaça ao grupo constituído por Elmano de Freitas (PT), Cid Gomes (PSB), Domingos Filho (PSD), Eunício Oliveira (MDB) e Camilo Santana (PT)?

A segunda dificuldade é programática, isto é, formular uma agenda comum e atraente ao eleitorado, que talvez até esteja procurando alternativas ante deficiências que identifique nas administrações consorciadas (o tal Ceará três ou quatro vezes mais forte). Os obstáculos não são triviais, noves fora as articulações já em andamento entre Wagner e RC.

O ex-prefeito pisa em chão acidentado dentro do PDT neste momento, de maneira que mesmo sua posição no tabuleiro do ano que vem está condicionada ao rumo que o partido deve começar a decidir nesta sexta-feira, se de oposição ou de base.

O engodo do PDT

O PDT, contudo, está às voltas com mais impasses do que apenas a gestão do discurso de RC, que modulou suas palavras desde o fim do governo de José Sarto, deslocando a crítica do âmbito da economia/finanças para o da segurança.

Afinal, como fica a bancada da legenda na Assembleia: base ou oposição? E os vereadores? A preço de hoje, a agremiação tenta se equilibrar, concedendo uma licença para que RC siga explorando os pontos fracos do Abolição de olho no próximo pleito, quando não se sabe ele sairá candidato ao Executivo ou a deputado.

Presidente interino, o deputado federal André Figueiredo tem adotado postura salomônica, sem desautorizar o neogovernismo dos vereadores mais afoitos, tampouco silenciar as vozes oposicionistas renitentes - ele mesmo declarou-se pró-Evandro em 2024, assim como Carlos Lupi, enquanto RC gastou sola tentando eleger Fernandes.

Crise no ninho tucano

Outra sigla tragada por uma crise é o PSDB do ex-senador Tasso e do agora ex-presidente tucano, Élcio Batista - cuja versatilidade política levou-o de braço direito de Camilo no governo a vice de Sarto entre 2021 e 2024. Para declinar da direção partidária da força social-democrata, Élcio alegou que se mudaria para São Paulo, onde atende a compromissos profissionais.

Em seu lugar, assumiu Ozires Pontes, prefeito de Massapê e filho do ex-senador Luiz Pontes, filiado histórico que ironizou a passagem do aliado pelo comando do partido (apenas para recuar posteriormente, cobrindo-o de elogios).

Descentralizar, mas o quê?

A palavra da moda é "descentralizar", com a qual se deve ter zelo, sobretudo para não desgastá-la, fazendo-a passar como passaporte mágico de ideias feitas que dispensam qualquer elaboração. Na esfera da cultura, por exemplo, a descentralização implica necessariamente um conjunto de atos que não se esgotam numa agenda ou numa programação eventual, obrigando o poder público a estar presente de fato. A isso se chama governo descentralizado, ou seja, uma administração cujos serviços e órgãos decisórios estão estrategicamente distribuídos por regiões periféricas, criando uma oferta de bens sem esse caráter de efemeridade. Um centro cultural, uma rede de cinemas populares, uma articulação de clubes de leitura e de bibliotecas comunitárias integradas aos acervos públicos, enfim. E digo isso sem entrar no mérito do contrassenso que é essa convivência harmoniosa entre descentralização como discurso e concentração de poder como prática no dia a dia.

Publicado originalmente no O Povo +

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