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Lula repete mesma fórmula na demissão de Nísia (Foto: Ricardo Stuckert) |
O União Brasil ganhou três ministérios e é um dos partidos que menos vota com o governo. Claro, se não tivesse os cargos, provavelmente votaria menos ainda, e seria pior para o governo. O fato é que não dá certo, não é suficiente.
Na primeira passagem de Lula pelo governo, cargos eram distribuídos e assim se construíam maiorias no Congresso Nacional. Nas vésperas da votação do impeachment de Dilma Rousseff (PT), houve farta distribuição de cargos, que não deu resultado. O método fracassou por alguns motivos. O primeiro é que de pouco vale nomeação para um governo que está claramente prestes a acabar. Outro aspecto é que já ali havia se processado uma profunda transformação. A criação das emendas impositivas ao Orçamento.
Emendas são verbas que os deputados e senadores têm direito de decidir como investir. Antigamente, os parlamentares diziam para onde iam as emendas e os governos pagavam se quisessem. A política em Brasília era um jogo de chantagem. Parlamentares só votavam se o governo pagasse as emendas. E o governo segurava para perto de votações importantes. Liberava o dinheiro em troca dos votos. Todo governo fazia isso. Claro que era ruim.
Em
2015, sob comando de Eduardo Cunha, foi aprovado que as emendas seriam
impositivas. Até então, o Congresso era submisso aos governos. Foi o ponto de
virada. Passou a haver superpresidentes da Câmara. Cunha foi um deles. Tantas
fez que acabou caindo em desgraça. Arthur Lira (PP-AL) deu sequência.
O Congresso, principalmente a Câmara, não fica mais de pires na mão diante do governo. Não depende mais de cargos ou pedir a bênção a ministros. O Legislativo hoje tem mais força até que o Executivo. Isso pode ser positivo, se houver espírito público. E responsabilidade. Como disse certa vez, e causou uma confusão, o ministro Fernando Haddad: “Virou um parlamentarismo que, se der errado, não dissolve o Parlamento, e sim a Presidência da República”.
O governo joga com ferramentas que não funcionam mais e não encontra novos instrumentos.
A
esquerda tem saída?
A Alemanha teve eleição no domingo, com retorno ao poder da centro-direita e a preocupante ascensão da extrema-direita. Mas, houve a notícia que pode ser um alento e um caminho para a esquerda. O partido Die Linke (A Esquerda) era uma força decadente, rumo à irrelevância. Mas, renovou lideranças e linguagem. Tem como expoente uma política de 36 anos, Heidi Reichinnek, que se tornou fenômeno no TikTok. O partido foi o mais votado em Berlim. Não está entre as principais forças, mas surpreendeu. Saiu de 3% dos votos nas projeções até dezembro para 8,8% dos votos no País. A União foi a mais votada, com 28,6%. O partido só tem representação parlamentar se alcançar 5% dos votos, e quase ninguém apostava que isso ocorreria.
A Esquerda tem como bandeiras tradicionais a taxação de super-ricos e a oposição às propostas da União contra imigrantes. Porém, a chave do sucesso eleitoral parece ter sido a sintonia com preocupações da vida real das pessoas, muitas vezes esquecidas num debate que os conservadores puxaram para a questão migratória. Por exemplo, pobreza e moradia se tornaram temas centrais. Demandas de inquilinos, pressionados pelos preços dos aluguéis em Berlim, foram uma chave para se conectar aos eleitores.
Numa época em que discursos extremistas levantam debates políticos vazios, um caminho para a viabilidade política parece ser tratar de problemas reais e mostrar que compartilha a mesma realidade e enfrenta as mesmas questões.
Publicado
originalmente no O Povo+
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