8 de janeiro de 2025

O que são as notas de contexto que a Meta adotará

A Meta é a empresa responsável pelo Facebook e pelo Instagram (Foto: Romain Talon)

A Meta anunciou ontem (07/01), que encerrará seu programa de verificação digital nos Estados Unidos para substituí-lo por um sistema de notas de contexto, semelhante ao utilizado pela rede social X.

"Vamos eliminar os fact-checkers (verificadores de conteúdo) para substitui-los por notas da comunidade semelhantes às do X (antigo Twitter), começando nos Estados Unidos", escreveu nas redes sociais o fundador e CEO da Meta, Mark Zuckerberg.

O diretor-executivo afirmou que "os verificadores de fatos têm sido muito parciais politicamente e destruíram mais confiança do que construíram, especialmente nos Estados Unidos".

Além disso, o executivo bilionário anunciou que os sites da Meta, incluindo o Facebook e o Instagram, "simplificariam" as políticas de conteúdo para se livrar de "muitas restrições sobre tópicos como imigração e gênero que simplesmente não se conectam com o discurso dominante".

O anúncio da Meta ressalta muitas das críticas dos republicanos e do proprietário do X, Elon Musk, sobre os programas de verificação de fatos que muitos conservadores consideram censura.

Este anúncio de mudança de estratégia ocorre no momento em que Zuckerberg tem feito esforços para se reconciliar com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, incluindo uma doação de US$ 1 milhão (R$ 6,1 milhões na cotação atual) para o fundo de posse. O republicano assumirá o cargo na Casa Branca em 20 de janeiro.

Trump tem sido um crítico severo da Meta e de Zuckerberg nos últimos anos, acusando a empresa de apoiar políticas liberais e de ter uma visão tendenciosa contra os conservadores.

O magnata republicano foi expulso do Facebook depois que seus partidários invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, em Washington, em uma tentativa de impedir a certificação da vitória do rival democrata Joe Biden. A empresa restabeleceu a conta no início de 2023.

Zuckerberg jantou com o futuro presidente na residência de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, em novembro, em outra tentativa de consertar o relacionamento da empresa com o candidato republicano após a vitória eleitoral.

Outro gesto recente de Zuckerberg para com o governo Trump foi a nomeação, na semana passada, de Joel Kaplan, um membro do partido republicano, para chefiar os assuntos públicos da Meta, substituindo Nick Clegg, ex-vice-primeiro-ministro britânico.

"Muito conteúdo inofensivo é censurado, muitas pessoas são injustamente presas na 'cadeia do Facebook'", disse Kaplan em um comunicado, insistindo que a abordagem atual da moderação de conteúdo "foi longe demais".

Zuckerberg também nomeou Dana White, diretor do Ultimate Fighting Championship (UFC), um aliado próximo de Trump, para a diretoria da Meta.

Como parte da reestruturação, a Meta disse que transferirá as equipes de confiança e segurança da Califórnia, onde as opiniões liberais são generalizadas, para o Texas, um estado mais conservador.

"Isso nos ajudará a criar confiança para fazer esse trabalho em lugares onde há menos preocupação com os preconceitos de nossas equipes", disse Zuckerberg.

Outra mudança anunciada é o fim de restrições para conteúdos sobre imigração e gênero, temas caros à Donald Trump, que assume a Casa Branca este mês. "O que começou como um movimento para ser mais inclusivo tem sido cada vez mais usado para calar opiniões e excluir pessoas com ideias diferentes, e isso foi longe demais", afirmou Zuckerberg.

O empresário também anunciou a intenção de "trazer de volta o conteúdo cívico". Segundo ele, no passado, a "comunidade" pediu para ver menos política nas redes, mas que isso teria mudado.

"[O conteúdo sobre política] estava deixando as pessoas estressadas, então paramos de recomendar essas postagens. Mas parece que estamos em uma nova era agora, e estamos começando a receber feedback de que as pessoas querem ver esse conteúdo novamente", explicou.

O CEO anunciou ainda que vai se aliar ao governo Trump para pressionar países que buscam regular o ambiente digital. "Vamos trabalhar com o presidente Trump para pressionar os governos ao redor do mundo que estão perseguindo empresas americanas e pressionando para censurar mais".

Zuckerberg argumentou que a Europa está "institucionalizando a censura", que os países latino-americanos têm "tribunais secretos que podem ordenar que empresas retirem coisas discretamente" e que a China "censurou nossos aplicativos".

Como funcionam as notas de contexto?

As notas de contexto são uma ferramenta de moderação coletiva de conteúdos. Elas aparecem abaixo de algumas publicações potencialmente enganosas.

O Twitter as utiliza desde 2021, e em 2022 foram amplamente implementadas na rede social, comprada pelo bilionário Elon Musk em 2022 e renomeada como X.

As notas são propostas e redigidas por usuários voluntários, que precisam se inscrever previamente, e não são editadas pelas equipes do X.

Depois, "outros usuários avaliam se a nota é útil ou não, com base em critérios como a pertinência das fontes e a clareza das informações", explicou à AFP Lionel Kaplan, presidente da agência de criação de conteúdos em redes sociais Dicenda.

"Se houver avaliações positivas suficientes, a nota aparecerá abaixo do post, fornecendo informações adicionais", detalhou.

As avaliações "levam em conta não apenas o número de colaboradores que classificaram uma publicação como útil ou inútil, mas também se as pessoas que a avaliaram parecem pertencer a diferentes esferas", explica o X em seu site oficial.

O princípio é semelhante ao da Wikipédia. "Nós nos baseamos nos usuários mais ativos de uma rede social ou plataforma para aumentar a qualidade dos conteúdos", acrescentou Kaplan.

A Meta, que anunciou que seu programa de notas será similar ao da X, considera o sistema "menos parcial" do que o fact-checking.

Quais são os riscos?

O Facebook possui um programa de fact-checking em mais de 26 idiomas que remunera mais de 80 organizações de mídia em todo o mundo, incluindo a AFP, para usar suas verificações de fatos em suas plataformas, como WhatsApp e Instagram.

Com as avaliações, "o problema é que a verificação depende da multidão", aponta Christine Balagué, professora do Instituto Mines-Télécom e fundadora da rede de pesquisa "Good in Tech", que trabalha com desinformação.

"A multidão pode dizer o certo, mas também pode haver pessoas mal-intencionadas que estão ali para disseminar informações erradas", alerta.

"Essa decisão afetará os usuários que buscam informações precisas e confiáveis", comentou no X Angie Drobnic Holan, diretora americana da Rede Internacional de Fact-Checking (IFCN, na sigla em inglês).

"Os checadores nunca demonstraram parcialidade em seu trabalho, e essas críticas vêm de pessoas que acreditam que podem exagerar os fatos e mentir sem serem refutadas ou contraditadas", acrescentou, destacando o clima de pressão política nos Estados Unidos às vésperas da posse do presidente eleito Donald Trump.

Bill Adair, cofundador da IFCN, afirmou que é "preocupante ver Mark Zuckerberg ecoar os ataques políticos aos checadores, já que ele sabe que os participantes de seu programa assinaram uma carta de princípios que exige transparência e imparcialidade".

Trump, que foi especialmente crítico em relação à Meta e ao seu CEO nos últimos anos, acusando a empresa de viés progressista, declarou que "provavelmente" influenciou a decisão.

As avaliações são eficazes contra a desinformação?

Pesquisadores mostraram que as notas de contexto "reduzem a disseminação de desinformação em cerca de 20%" no X, admitiu Balagué.

E, embora esse sistema "não seja 100% confiável", Kaplan acredita que as notas de contexto são eficazes.

Ele considera que permitem processar um maior volume de informações do que o fact-checking, que é "complicado de aplicar". Também destaca o funcionamento "democrático", que permite "ter e confrontar diferentes pontos de vista".

O X, no entanto, é frequentemente acusado de permitir a difusão de informações falsas desde que Musk reduziu drasticamente as equipes de moderação.

Mas, segundo o especialista, isso se deve principalmente ao fato de que "o X incentiva o radicalismo", tornando os conteúdos falsos mais visíveis do que em outras plataformas.

A Meta informou que os usuários poderão começar a se inscrever a partir de segunda-feira para escrever notas assim que o programa for lançado, mas não forneceu detalhes sobre os critérios de participação.

A empresa também anunciou que dará aos usuários mais controle sobre a quantidade de conteúdo político que desejam ver no Facebook, Instagram ou Threads.

Resta saber se esse sistema aumentará a disseminação de informações falsas. De acordo com Kaplan, a Meta não tem necessariamente interesse em destacar conteúdos controversos, pois isso poderia desagradar os anunciantes.

Com informações portal O Povo +

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