24 de janeiro de 2025

"Ainda Estou Aqui" faz história e concorre a três categorias no Oscar

Elenco de "Ainda Estou Aqui" com o diretor Walter Salles (Foto: Franco Origlia)

Quando Fernanda Torres entrou no estúdio do "Jimmy Kimmel Live!", programa de televisão popular nos EUA, era perceptível que o apresentador não tinha se preparado, de fato, para recebê-la. Pautado pelo tom rígido e cruel de "Ainda Estou Aqui" sobre a ditadura militar brasileira, ele talvez esperasse uma entrevista mais tensa e contida. Fernanda Torres, porém, é sempre uma explosão. A gente já está acostumado, mas a indústria dos EUA não estava.

O programa foi exibido em 16 de janeiro, véspera do último dia de votação para os indicados ao Oscar 2025. A presença firme e carinhosa dela naquele dia tão importante, inclusive apresentando o filme no contexto da história política americana, foi a cartada final para cravar vaga na categoria "Melhor Atriz", tornando-se a segunda brasileira indicada — depois da própria mãe, Fernanda Montenegro.

A campanha feroz da Sony Pictures Classics, no entanto, foi além. A indicação na principal categoria do Oscar, de "Melhor Filme", ao lado de musicais, blockbusters aclamados e até filme da Netflix, marca a história do cinema brasileiro de um jeito tão único que chega a assustar. "Ainda Estou Aqui" superou expectativas — nacionais e internacionais — arrematando as indicações com uma terceira categoria: "Melhor Filme Internacional".

Diante do imperialismo cultural dos EUA sobre o Brasil, que chega a ocupar até 80% das nossas salas com seus grandes "filmes-eventos" da cultura pop, essa presença ganha uma força enorme. Principalmente porque não estamos falando de uma comédia ou de uma aventura, mas de um drama que conta o passado militar ainda tão corrosivo na política brasileira.

Convivendo com esse grande entusiasmo, porém, precisamos perceber que a olhar pela configuração de hoje, não somos favoritos a nenhuma das três categorias. Com o recorde de 13 indicações, o francês "Emília Pérez", de Jacques Audiard, seria o vencedor da categoria Internacional se a votação fosse hoje. Mas o filme vem causando controvérsia no México pela forma como retrata o conflito dos desaparecidos no contexto do narcotráfico, mesmo que também tenha celebrações importantes — Karla Sofia Gascón, principalmente, a primeira mulher trans indicada na categoria.

Mesmo que a favorita ainda pareça ser Demi Moore, o impacto de Fernanda Torres ainda não foi propriamente medido. O filme estreou nos EUA apenas no fim da semana passado, mas já em primeiro lugar na média de salas ao ultrapassar filmes como "Sonic" e "Mufasa". Guy Lodge, crítico do jornal britânico The Guardian, aponta que ao assistirem ao filme em fevereiro, "muitas pessoas mudarão seu voto planejado para Melhor Atriz".

A corrida, portanto, está só começando. As indicações nas três categorias dão uma sobrevida na campanha que parecida vencida pelo tsunami francês. Com mais de um mês de trabalho pela frente, tudo pode acontecer. O diretor Walter Salles, Fernanda e a Sony, certamente, não vão medir esforços para amplificar ao momento histórico e virar esse tabuleiro do avesso.

A Prefeitura de Fortaleza preparou atrações nacionais para o Carnaval, mas no domingo, 2 de março, grande parte da religiosa e incontível folia brasileira vai pausar trompetes e tambores para segurar a respiração naqueles cinco intermináveis segundos, quando uma nação inteira vibrará em silêncio na expectativa de se ver em cima daquele palco tão distante que, de repente, pode parecer de casa. "E o Oscar vai para…".

Os indicados das categorias:

Melhor Atriz: Demi Moore, (A Substância), Mikey Madison (Anora), Karla Sofía Gascón (Emilia Pérez), Cynthia Erivo (Wicked) e Fernanda Torres (Ainda Estou Aqui). 

Melhor Filme Internacional: "Ainda Estou Aqui", "A Garota da Agulha", "Emilia Pérez", "A Semente do Fruto Sagrado" e "Flow".

Melhor Filme: "Emilia Pérez", "O Brutalista", "Anora", "Conclave", "Um Completo Desconhecido", "Ainda Estou Aqui", "Nickel Boys", "Wicked", "Duna: Parte 2" e "A Substância".

Publicado originalmente no O Povo+

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