16 de dezembro de 2024

Universidade Federal do Ceará completa 70 Anos transformando vidas e impulsionando o Ceará

Reitoria da UFC ganha nova iluminação em comemoração aos 70 anos da instituição (Foto: Fernanda Barros)

O Ceará é berço de uma instituição que, ao longo das últimas sete décadas, tem transformado a educação superior e o conhecimento científico para além do Nordeste. A Universidade Federal do Ceará (UFC), que celebra seu 70º aniversário nesta segunda-feira, 16, é o legado de um sonho coletivo que se materializou através do esforço incansável de educadores visionários e da mobilização popular pela democratização do ensino superior.

Mais de 120 mil alunos já absorveram e compartilharam o saber na Instituição ao longo dos 70 anos. Para o Prof. Custódio Luís Silva de Almeida, reitor da UFC desde 2023 e com mandato até 2027, a atuação da Universidade inaugurou uma nova consciência coletiva de que o Ceará também é um terreno fértil para a educação superior.

“Muitas pessoas formadas na UFC levaram essa identidade cearense para diferentes lugares, mostrando que o Ceará também é um polo de produção de saberes e disputas, seja no campo artístico, científico, filosófico ou religioso. A UFC proporcionou a inclusão do Ceará em mesas de debate e decisões nacionais, contribuindo para um País mais equitativo”, diz o reitor.

A UFC foi criada pela Lei nº 2.373, em 16 de dezembro de 1954, mas a ideia de sua fundação começou a ser moldada anos antes. Em 1944, o médico Antônio Xavier de Oliveira apresentou ao Ministério da Educação e Cultura uma proposta para a refederalização da Faculdade de Direito do Ceará e a criação de uma universidade em Fortaleza.

A mobilização para a fundação da universidade teve início em 1947, com Antônio Martins Filho, que posteriormente se tornaria o primeiro reitor da UFC, "o reitor dos reitores".

Em 1953, o Conselho Nacional de Educação emitiu um parecer favorável à criação da Universidade do Ceará, e, no mesmo ano, o presidente Getúlio Vargas enviou ao Legislativo o Projeto de Lei para a fundação da instituição.

A UFC foi inicialmente composta por instituições já existentes na Capital (Escola de Agronomia do Ceará, a Faculdade de Direito, a Faculdade de Medicina e a Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará). Ao longo dos anos, no entanto, a Universidade expandiu suas unidades e incorporou novos cursos. Em 1965, a UFC adotou seu nome atual, alinhando-se à padronização das universidades federais no Brasil.

Conforme destaca o reitor Custódio Almeida, o crescimento do próprio estado do Ceará está fortemente ligado à UFC. Afinal, para integrar novos saberes, ciências ou tecnologias, é preciso alguém que faça essa ponte.

“Seu legado está presente em todas as áreas: na formação de médicos, advogados, engenheiros, professores e muitos outros profissionais. A UFC também trouxe a possibilidade de conectar o Ceará com o mundo. Hoje, professores formados em diversos países, como Canadá, Japão, Estados Unidos e na Europa, chegam à UFC e integram o Ceará a um circuito internacional de produção de conhecimento em todas as áreas”, comenta.

O ex-governador do Estado do Ceará e atualmente ministro da Educação, Camilo Santana (PT), também destaca a Universidade Federal do Ceará como um patrimônio do Estado, contribuindo para o desenvolvimento do povo e da região.

“É um orgulho, para nós cearenses, que a nossa UFC seja uma das universidades brasileiras a brilhar no ranking das melhores do globo. É a marca da força da nossa gente também no ensino superior e na pesquisa científica, exemplo de como a Educação é o grande caminho para integrar, expandir e mudar a vida das pessoas. Longa vida à UFC!”, aponta.

Em 2024 a UFC foi classificada como uma das 18 universidades brasileiras entre as mil melhores do mundo no prestigiado Academic Ranking of World Universities (ARWU), também conhecido como Ranking de Xangai.

Atualmente, a Universidade Federal do Ceará (UFC) conta com cerca de 26 mil alunos matriculados em mais de 125 cursos de graduação. Desses, 7.246 estão engajados em programas de pós-graduação, entre mestrados e doutorados, tanto profissionais quanto acadêmicos.

De sonhos a uma vida transformada

Ao longo dos anos, mesmo diante de desafios profundos, como tempos de ditadura, cortes severos e a desvalorização da pesquisa, a Universidade resistiu disposta a se reinventar. Preservando sua essência como guardiã do conhecimento e impulsionadora do progresso, no ano de 2010 substituiu o acesso via vestibular pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), com vagas ofertadas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu).

Além disso, em 2012 foi instaurada a Lei N° 12.711, conhecida como a Lei de Cotas. A partir daí vemos uma Universidade mais plural, com a expansão facilitada por políticas de inclusão, que ampliam o acesso para estudantes de diferentes classes sociais, regiões e etnias.

Segundo Wagner Bandeira Andriola, professor da UFC e coordenador do Mestrado em Políticas Públicas e Gestão da Educação Superior, os impactos positivos dessas políticas já são comprovados.

“Alunos que entram na UFC pela lei de cotas, mesmo com notas iniciais inferiores aos de ampla concorrência, superam dificuldades. Em alguns cursos, seu desempenho chega a superar o dos alunos não cotistas. Isso sugere que, com mais apoio, os resultados poderiam ser ainda mais expressivos. A lei de cotas se revela uma ação afirmativa fundamental para a justiça social no Brasil”, esclarece.

Natural do município de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), Felipe Caetano da Cunha, de 23 anos, é um exemplo do impacto transformador da educação pública e das políticas de inclusão. Ele se formou em Direito, mas sua paixão pela área começou muito antes. “Foi quando me percebi em situação de trabalho infantil e busquei conhecer mais dos meus direitos enquanto criança”, aponta.

Ele foi o primeiro de sua família a entrar e concluir o ensino superior, algo que sua mãe, uma ex-empregada doméstica, e ele próprio jamais imaginaram ser possível. “Fazer faculdade, para muitos, era coisa apenas para filhos de doutores. Nunca me sonharam na UFC, mas eu tive que me sonhar e concretizar esse sonho”, relata.

Hoje, Felipe é servidor concursado do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE). Em sua trajetória representou adolescentes no Conselho Nacional dos Direitos das Crianças, foi conselheiro do Unicef e, aos 17 anos, discursou na Organização das Nações Unidas (ONU).

“Me alegra saber que não serei o único da família a chegar até aqui. Para mim, o maior legado da UFC é abrir suas portas para que pessoas pobres e periféricas possam estudar, pesquisar e fazer Ciência”, destaca.

Rogério Bié também é o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Filho de agricultores, ele é originário da zona rural de Quixeramobim, a 212 km de Fortaleza. Para ele, a Universidade Federal é, além de um espaço acadêmico, um agente de transformação social.

“Cresci em um assentamento do Movimento Sem Terra (MST) e vivenciei o ativismo por causas socioambientais, direitos humanos e educação. No ensino médio, descobri novas oportunidades e percebi que meu sonho era possível. Decidi cursar Comunicação por acreditar que é uma ferramenta poderosa para mudar realidades e defender direitos fundamentais”, relata.

Ele ingressou em Jornalismo na UFC e se formou no final de 2023. Atualmente, atua como gerente de mídias sociais na Secretaria da Educação do Ceará (Seduc).

"Vejo na minha trajetória o propósito de fazer com que jovens como eu não sejam exceções, mas uma realidade comum no Brasil. A UFC ampliou minha visão de mundo, fortaleceu meu compromisso com a justiça social e me mostrou que a graduação vai muito além da sala de aula”, relata Bié.

Expansão do conhecimento para o Interior

Graças à interiorização, o sonho de ingressar na UFC também se tornou possível no interior do Ceará, cumprindo o lema do reitor Antônio Martins Filho: “Como Universidade, cultivamos o saber. Como Universidade do Ceará, servimos ao meio. Realizamos assim o Universal pelo Regional”.

Campi em Fortaleza

Campus do Pici: principal campus. Abriga os Centros de Ciências, Ciências Agrárias e Tecnologia.

Campus do Benfica: abriga a Reitoria e vários cursos, como os das áreas de Humanidades e Economia. Inclui a Concha Acústica, Casa Amarela Eusélio Oliveira e o Teatro Universitário.

Campus do Porangabuçu: dedicado à Saúde, com faculdades de Medicina, Farmácia, Odontologia e Enfermagem. Conta com hospitais universitários, laboratórios e unidades de saúde.

Campi no Interior

Campus de Sobral (2001): oferece cursos de Medicina, Engenharia e Psicologia, além de programas de mestrado e doutorado.

O campus Sobral, com cerca de 2.400 alunos, é o mais antigo do Interior. Segundo o diretor, Prof. Mário Áureo Moreira, os cursos da UFC têm impulsionado o desenvolvimento local e criado oportunidades para alunos de diferentes perfis socioeconômicos. "O polo ajudou a manter profissionais qualificados na cidade, como médicos, dentistas, professores de música, engenheiros e psicólogos".

Campus de Quixadá (2008): oferece cursos de Computação, Design Digital e Engenharia de Software.

Campus de Russas (2011): com cinco cursos de graduação -  Ciência da Computação e Engenharias Civil, de Produção, de Software e Mecânica. Possui mestrado em Engenharia Civil.

Campus de Crateús (2012): oferece cursos de Sistemas de Informação, Ciências da Computação, além das engenharias Civil, de Minas e Ambiental e Sanitária.

Campus de Itapajé - Jardins de Anita (2021): oferece o curso de Tecnologia como Ciência de Dados.

O campus de Itapajé, caçula entre os polos, também tem sido um importante agente de transformação no Município, como destaca o Prof. João Henrique Corrêa, diretor do campus. “A Cidade experimenta crescimento econômico, com geração de renda e movimentação da economia local. Além disso, muitos dos nossos alunos são os primeiros em suas famílias a conquistar a graduação. Isso é a democratização do ensino”.

Pesquisa e Inovação

A UFC é referência em pós-graduação, com 89 programas de pós-graduação e 141 cursos. Desses programas, 15 têm conceitos de excelência 6 e 7, o que coloca a universidade entre as 20 melhores do Brasil nesse aspecto.

A Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, Profª Regina Célia Monteiro de Paula, destaca a relevância social das pesquisas desenvolvidas na instituição. Segundo ela, "toda pesquisa gerada na universidade traz benefícios e conhecimento para a sociedade".

Confiras algumas pesquisas de destaque da UFC:

(2011) Estudo epidemiológico sobre a população do Baixo Jaguaribe exposta a agrotóxicos: Revelou os impactos negativos da irrigação empresarial e do agronegócio da fruticultura, como concentração fundiária, uso excessivo de agrotóxicos e aumento de conflitos sociais. A pesquisa foi crucial para a criação da Lei Maria do Tomé, que proíbe a pulverização aérea no Ceará. A lei está agora ameaçada por propostas de uso de drones.

(2015) Pele de Tilápia: Foca no uso da pele de tilápia como biomaterial para tratamento de queimaduras, feridas e cirurgias ginecológicas, incluindo a reconstrução vaginal e procedimentos de redesignação sexual. O estudo já está sendo utilizado em pacientes no Brasil e no exterior.

(2020) Capacete Elmo: Capacete de respiração assistida cearense, não-invasivo e mais seguro para profissionais de saúde e pacientes. Surgiu como uma solução inovadora para o tratamento de pacientes com insuficiência respiratória aguda hipoxêmica devido à Covid-19.

A Pró-Reitora também enfatizou a importância dos mestrados profissionais que atendem a demandas específicas da sociedade, como a rede de ensino, saúde da família e cultura. "Muitas de nossas teses e dissertações se transformam em políticas públicas que são implementadas e geram impacto concreto na sociedade", afirmou.

Um olhar para o futuro: Os 70+ da UFC

Segundo o reitor da UFC, apesar dos desafios orçamentários, o plano "70 +1" da UFC já está em andamento. Pelo novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal, a UFC receberá R$ 195,8 milhões para a construção do Campus Iracema (R$ 40 mi), para o novo hospital universitário (R$ 40 mi) e para obras nos campi de Crateús, Itapajé, Quixadá, Russas e Sobral (R$ 75,8 mi).

Para o reitor da UFC, Custódio Almeida, talvez o maior desafio seja a instalação do Distrito de Inovação em Saúde no bairro Porangabuçu, em Fortaleza. A área já conta com cursos de Medicina, Fisioterapia, Farmácia, Odontologia e Enfermagem, além de um Hospital Universitário, Maternidade, Hospital São José, Instituto do Câncer e vários laboratórios de pesquisa.

“A solução proposta é transformar a área em um distrito integrado de inovação em saúde. No entanto, apesar da infraestrutura, a organização da área ainda é insuficiente para seu pleno funcionamento e a violência no bairro afetam o desenvolvimento”, pontua o reitor.

Ele aponta que, sem uma intervenção, o potencial do distrito e as atividades realizadas ali não corresponderão à realidade do espaço. “Estamos trabalhando com a Prefeitura de Fortaleza e o Governo do Estado para garantir a continuidade deste projeto”, conclui.

Linha do Tempo da Universidade Federal do Ceará (UFC)

1903: Fundação da Faculdade Livre de Direito do Ceará, a primeira instituição de ensino superior do Estado.

1947: Inicia-se a mobilização para a criação da Universidade do Ceará, com Antônio Martins Filho como principal interlocutor.

1954: A Universidade do Ceará é criada oficialmente como autarquia vinculada ao Ministério da Educação.

1955: Instalação oficial da Universidade do Ceará e Antônio Martins Filho toma posse como o primeiro reitor.

1956: Instalação da Escola de Engenharia.

1961: Instalação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras.

1962:Federalização da Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará.

1965: Reforma universitária: a instituição passa a se chamar Universidade Federal do Ceará (UFC).

1973: Conclusão da reforma universitária com a organização em seis centros:

Centro de Ciências; Humanidades; Tecnologia; Ciências Agrárias; Ciências da Saúde; Estudos Sociais Aplicados

1984: Extinção do Centro de Estudos Sociais Aplicados, com departamentos redistribuídos em novas faculdades.

1997: Extinção do Centro de Ciências da Saúde.

1998: Criação da Faculdade de Farmácia, Odontologia e Enfermagem e da Faculdade de Medicina.

2001: Inauguração do campus de Sobral, com o curso de Medicina.

2007: Instalação do campus de Quixadá

2012: Criação do campus de Crateús.

2013: Inauguração dos campi de Russas.

2021: Inauguração do campus de Itapajé

16 de dezembro de 2024: Celebração dos 70 anos da UFC.

 A UFC em números

Graduação

Total de alunos: 26 mil alunos

Total de cursos: 125

Ensino Presencial: 117 cursos

Ensino a Distância: 8 cursos

Pós-Graduação:

Total de Alunos de Pós-Graduação: 7.246 alunos

Mestrados Profissionais: 1.022 alunos

Mestrados Acadêmicos: 3.094 alunos

Doutorados (Profissionais + Acadêmicos): 3.130 alunos

Programas: 89

Total de cursos: 141

Mestrados Profissionais: 20

Doutorados Profissionais: 3

Mestrados Acadêmicos: 65

Doutorados Acadêmicos: 53

Publicado originalmente no O Povo+

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Décadas de sonhos e conquistas


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