21 de dezembro de 2024

Renato Roseno diz que Elmano estava "irredutível" para liberar drones com agrotóxicos

Renato também externou críticas a outros pontos da gestão ao destacar sua posição de independência ao governo (Foto: Júnior Pio)

Uma das principais vozes contra o uso de agrotóxicos, o deputado Renato Roseno (Psol) colocou na conta do governador Elmano de Freitas (PT) a movimentação que findou na aprovação, na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), do projeto que a permite drones realizarem a pulverização de agrotóxicos no Ceará.

Na sessão da última quinta-feira, 19, da Alece, foram 22 votos a favor e nove votos contrários ao texto, que libera a pulverização realizada por meio de "Aeronaves Remotamente Pilotadas - ARPs, Veículo Aéreo Não Tripulado - Vant ou Drones" no Estado. Um dos votos contrários foi o de Roseno, que afirmou, nesta sexta-feira, 20, que o governador foi notificado por associações e outros órgãos sobre as problemáticas do uso, mas estava “intransigente e irredutível”.

O deputado explicou que os projetos, posteriormente apensados, estavam parados por terem parecer contrário da Procuradoria da Alece. “A última pessoa, na nossa cabeça, que colocaria isso para frente seria o Elmano. E no dia 6 de dezembro, o Elmano bota para frente. No dia 9 de dezembro, a CCJ reverte o parecer contrário da Procuradoria e dá parecer favorável a partir o dia 6. Só andou por causa do Elmano”, afirmou na edição da noite do programa O POVO News.

Roseno apontou que ele conversou com interlocutores do chefe do Executivo, que também foi procurado por organizações e associações que pediam ou suspensão do projeto, ou, pelo menos, o adiamento até o ano que vem.

“Em todas as negociações, o governador estava intransigente, o governador estava irredutível, o governador fez esse acordo com o agronegócio. Conversei com quem eu podia conversar, todos os interlocutores políticos. O Ministério Público Estadual fez apelos ao Elmano, o Ministério Público do Trabalho fez apelos ao Elmano, as entidades científicas, SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Fiocruz, a Associação dos Professores de Direito Ambiental do Brasil, a Sociedade Brasileira de Agroecologia, o MST, de onde saiu o ex-advogado do MST Elmano de Freitas”, disse.

E complementou: “Todo mundo fez apelos para que ele desistisse disso ou deixasse isso para frente. Ele foi intransigente e irredutível. A decisão de colocar isso para frente é única e exclusivamente dele (Elmano).

Críticas em outros pontos da gestão

O parlamentar também externou críticas a outros pontos da gestão ao destacar sua posição de independência ao governo. Ele citou, por exemplo, a questão da colocação de Bíblias em escolas da rede estadual. “Ele acolheu mais os apelos da extrema-direita para deixar o tema para o ano que vem do que a nossa própria demanda de tema. Tenho acumulado muitos votos contrários ao governo”, ponderou.

“Óbvio que eu não esperava que se acumulassem em um período tão curto tamanhas divergências em temas que, para nós, eram temas de esquerda. Sempre pensei que era necessário proteger o governo da extrema-direita, os governos que ajudamos a eleger. Eles podem ter a minha voz e o meu voto no combate à extrema-direita. Agora, eu acho muito ruim os acenos que se faz à direita”, disse.

Na campanha de 2022, o Psol retirou candidatura ao Governo do Estado e apoiou Elmano. Roseno questionou a retirada do nome de Paulo Anacé da disputa pelo Senado, mas demonstrou apoio à composição com o PT para derrotas o fascismo “nacional e estadualmente”.

Preocupação com o uso dos drones para pulverização

Com aprovação da permissão do uso dos drones para pulverização, Roseno ressaltou preocupação com o uso, especialmente perto de escolas, territórios indígenas e nas regiões com proximidade a aquíferos. “Leva a molécula de veneno para muito longe porque estamos em um território muito quente e que venta muito”, destacou.

“O último levantamento da Cogerh (Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos) de agrotóxico em poços profundos do aquífero Jandaíra, que é nosso maior aquífero, foi em 2011. Há 13 anos não há monitoramento da presença de agrotóxico do aquífero Jandaíra, que é o maior do Ceará e que abastece a nossa maior zona agrícola que é o Vale do Jaguaribe, nós precisamos avançar muito”, ressaltou.

Publicado originalmente no O Povo+

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