30 de dezembro de 2024

Quem perdeu na reforma de Elmano, por Henrique Araújo

Governador Elmano de Freitas em entrevista exclusiva para OP NEWS (Foto: Aurélio Alves)

A reforma administrativa conduzida pelo governador Elmano de Freitas (PT) consagrou alguns grupos, entre os quais o de Domingos Filho (PSD) e o de Cid Gomes (PSB), mas acabou por reduzir ou apenas manter os espaços de outros. É o caso, por exemplo, do deputado federal José Guimarães (PT), cujo capital não se ampliou nesse movimento que realocou cadeiras no primeiro escalão. O momento pede atenção para o líder do governo Lula na Câmara, que considera a sério a hipótese de concorrer ao Senado em 2026, tendo como adversários internos o também deputado federal Eunício Oliveira (MDB) e o próprio Cid, ambos chancelados com apoio do ministro Camilo Santana (Educação). A se considerar que o governador assegurou mais poder no Abolição ao trio Eunício/Domingos/Cid, o entendimento é de que essa coalização se apresenta como ensaio do bloco formado para a corrida eleitoral de daqui a dois anos, com posições nas chapas já previamente marcadas. Pelo menos é assim que um petista mais atento aos gestos políticos dentro do Executivo tem interpretado os passos de Elmano.

Outra liderança mantida afastada do "núcleo duro" do governo Elmano é a (ex) aliada Luizianne Lins (PT). Com o deslocamento do ex-candidato Waldemir Catanho para o Detran, deixando a Articulação Política nas mãos de Nelson Martins, a ex-prefeita da capital cearense se viu ainda mais distante do chefe do Executivo, de quem já foi mais próxima - Elmano integrou as gestões de LL no Paço mais de uma década atrás. Para interlocutores, o cenário é inédito dentro do PT, ou seja, figuras históricas e relevantes politicamente ainda hoje (Luizianne e Guimarães), mas sem grande protagonismo dentro da administração do partido, seja em âmbito estadual, seja municipal. Não por acaso, ambos resistem a se converter à cartilha do "camilismo" no Ceará. LL já desde algum tempo é desafeta de Camilo, uma indisposição mútua que só se ampliou no curso do processo eleitoral deste ano (por isso Catanho foi rifado do centro de comando), chegando hoje quase ao ponto da ojeriza recíproca; Guimarães, por sua vez, detém controle da máquina partidária, um trunfo ao alcance para fazer frente a possíveis resistências no caminho no desenho da chapa que se esboça para 2026.

O governador Elmano de Freitas fez mais do que uma alteração pontual no secretariado para melhorar seu desempenho na segunda metade do mandato. Ele se pintou para a guerra em um ano pré-eleitoral, no qual os dados de 2026 começam a ser de fato jogados.

Em termos políticos, trata-se de um novo governo começando, agora com espaço ampliado para o PSD de Domingos Filho, aliados do senador Cid Gomes (PSB) incorporados ao Abolição e o deslocamento de atores importantes até então – a exemplo de Max Quintino (Pecém) e Waldemir Catanho (Detran).

Essa dupla, originalmente encarregada da articulação do Governo, foi substituída por Chagas Vieira (Casa Civil) e Nelson Martins, que retoma o comando da interlocução, ambos egressos da gestão de Camilo Santana. É um retorno ao modo “camilista” de tocar o barco da administração.

Ex-vice-governador e agora titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico (SDE), Domingos alarga ainda mais o seu capital no grupo que hoje tem domínio da Prefeitura de Fortaleza e do Executivo estadual.

Sua chegada não apenas consolida o PSD como grande parceiro do PT e do PSB no projeto de reeleição de Elmano. Para além disso, é o reconhecimento tácito de que o dirigente é figura incontornável no xadrez político local.

A nomeação de Lia Gomes (Mulheres) e de Eduardo Bismarck (Turismo) é resultado daquela costura que se seguiu ao quase rompimento entre Cid e Elmano – a do deputado federal em menor proporção que a de Lia, irmã do ex-governador e nome inegavelmente mais ligado ao pessebista.

Fernando Santana, por sua vez, era pedra cantada, embora não se soubesse exatamente para onde iria, se Proteção Social (SPS), que acabou indo parar com a vice-governadora Jade Romero (MDB), ou se Recursos Hídricos, como a coluna havia antecipado. Ficou na SRH, uma pasta com capilaridade, boa para quem quer buscar reeleição ou eleição para deputado federal.

Há ainda o “upgrade” de Jade, que saiu da pasta de Mulheres para assumir a cadeira de Onélia Santana na SPS, vitaminada com orçamento deixado de herança pela ex-chefe, eleita para conselheira do TCE.

Sem mudar de status, uma vez que já era secretária, Jade passou a encabeçar uma estrutura mais robusta e de maior visibilidade (tanto que abriu uma disputa na base), o que significa uma dupla premiação: a ela, por seu desempenho tanto na eleição de Evandro Leitão quanto na defesa pública de Onélia; e ao MDB do deputado Eunício Oliveira.

No sentido inverso, o “downgrade” de Catanho pode ser traduzido como uma tentativa de Elmano de restaurar aquele núcleo decisório estratégico do último mandato de Camilo.

Finalmente, a escolha do deputado Guilherme Sampaio (PT) para a liderança do governo na Assembleia Legislativa, também antecipada pela coluna, é movimento que contempla membros do grupo que se tornou mais coeso a partir de 2024, tendo como catalisador o processo de definição de Evandro como postulante do PT.

Guilherme, não se esqueça, era um dos aspirantes a candidato, mas retirou nome para apoiar o colega recém-chegado ao partido como representante da legenda na corrida pelo Paço.

No geral, noves fora as mexidas em setores como CearáPar e TV Ceará, a reforma no secretariado não tinha nada de “mini”, como se previra.

É uma dança das cadeiras superlativa, que reorganiza o governo a partir do peso das forças que o sustentam no pós-2024 e o prepara claramente para o pleito de logo mais.

Mesmo o formato do anúncio da mudança, feito às 7 horas da manhã e sucedido por maratona de Elmano em canais de TV e programas de rádio/jornais, é já novidade, fruto da expertise de Chagas, cuja função é também a de aperfeiçoar a comunicação do governador.

Assim, a mensagem pretendida é a de que o chefe do Executivo começa o dia cedo e de que a gestão está empenhada em trabalhar. A ver como as coisas se dão a partir de agora.

Publicado originalmente no O Povo+

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