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7 de dezembro de 2024

O triste fim de um prefeito, por Juliana Diniz

A equipe de transição tem reclamado publicamente da falta de transparência com os dados (Foto: Fabio Lima)

Sabemos como foi um gestor pelo estado em que ele deixa a casa que não governará mais. Nas últimas semanas, foi com surpresa que descobrimos a temeridade com que a cidade foi administrada por José Sarto, sobretudo nos últimos meses do seu mandato. A situação da saúde municipal é mais dramática: destaco a falta de insumos básicos, denunciada por servidores e pacientes, além da iminência de vencimento de um concurso público que poderia suprir os mais de mil cargos vagos em equipamentos como o IJF.

É chocante o grau de descaso com que o principal hospital municipal da cidade, referência para tratamento de traumas, foi gerido. O choque se agrava quando descobrimos que já se sabia, desde o início do ano, que o colapso ocorreria se a gestão não tomasse as providências necessárias para regularizar as demandas do hospital.

A saúde não foi a única pasta a sofrer nos últimos meses. Durante a semana, o próprio prefeito veio a público anunciar que as festas de final de ano seriam reduzidas em razão da falta de recursos suficientes para bancá-las. O réveillon de Fortaleza, evento de importância para o setor do turismo, sempre aquecido na temporada das festas, contará apenas com as atrações na virada do ano, sendo canceladas as festas previstas para os dias 29 e 30 de dezembro. Para os visitantes, para todos que participam da cadeia econômica do turismo e também para os cidadãos que gostariam de participar das festividades, o que fica é uma sensação de alegria roubada pelo fim triste de um governo.

A equipe de transição, responsável por receber as informações da gestão atual, tem reclamado publicamente da falta de transparência com os dados, o que mobilizou a entrada em cena do Ministério Público Estadual. Por obrigação legal, qualquer chefe do poder executivo tem a responsabilidade de gerir até o último dia de seu mandato, mantendo com zelo a continuidade dos serviços públicos e assegurando uma transição civilizada que permita, ao grupo eleito, já estar no domínio da situação no primeiro dia de mandato.

Não se trata de uma obrigação em benefício de um político, mas de uma população, porque, se os políticos vão, as políticas permanecem (ou deveriam permanecer). Por isso, tem o Ministério Público desempenhado há anos o importante trabalho de acompanhar as transições e prevenir o desmonte que penalize a população dos municípios.

Testemunhamos com tristeza o abandono da cidade ao mesmo tempo em que constatamos a desconstrução da ideia de que o grupo pedetista que conduziu a cidade durante os ciclos de Roberto Cláudio e José Sarto é formado por "bons gestores". Um bom gestor não deixa uma administração em estado de desordem, não lega como herança para o seu sucessor o desequilíbrio das contas, não tem a ousadia de aprovar uma licitação bilionária nas vésperas do fim do mandato.

Quando o ano virar, Fortaleza começará um novo ciclo administrativo tendo um novo grupo político à frente de suas pastas. Nossa esperança é que a cidade e seu eleitorado, mais amadurecidos, saibam exatamente o que esperar, em termos de política pública, da nova gestão, e o que exigir, em termos de zelo com a cidade, de seu novo prefeito.

Publicado originalmente no O Povo+

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