Analistas apontam que a escolha de Onélia para o TCE é um desgaste para Camilo Santana (Foto: Aurélio Alves)
Para o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), a escolha é um desgaste. No momento em que o PT já vem sendo — há muitos meses — criticado pela concentração de poder. E quando a aliança governista quase é implodida por causa disso. Tinha dúvidas se iriam bancar tal decisão diante dessa conjuntura. Foi-se adiante. Por melhor e mais qualificada que seja Onélia, a indicação tem silhueta de atraso.
Camilo tem uma imagem diferente disso. É percebido majoritariamente como governante moderno, progressista, de diálogo, conciliador. Por que ele compromete uma parte dessa reputação com a indicação? Pelo peso político de ter uma familiar direta no TCE? Não me parece. Pela importância da remuneração vitalícia para o orçamento doméstico? Duvido que seja só isso.
Camilo, desde 2022, dá uma guinada na trajetória política. Passa a concentrar poder e ocupar espaço. A velocidade é maior do que a vista com antecessores. Mais recentemente isso ficou cada vez mais evidente, mas nada é tão escancarado quanto a escolha de Onélia. Duvido muito que alguém ache isso bonito ou elogiável. A não ser que pense — e na política quase todos pensam — na lógica da ocupação de espaços. Nesse caso, defende-se aquilo que se criticaria em adversários. É o jogo.
O
desgaste vale o cargo?
O ministro e seus auxiliares não são bobos e sabem de tudo que está escrito aqui. Por que escolhem o desgaste mesmo assim? Não seria melhor preservar o ministro? O cargo compensa?
Bem, a maior parte da população, e dos eleitores de Camilo, não vai nem tomar conhecimento ou se importar com isso. Então, esse fator deve pesar. O estrago é limitado. Subestima-se o impacto da opinião pública. Para quem acompanha política, é uma nódoa na imagem de Camilo. Do ponto de vista nacional, é um carimbo feio. Uma fila de ministros de Lula fizeram a mesma coisa. Virou triste regra. Mas, nenhum com a repercussão e a relevância de Camilo. Talvez nem Rui Costa, chefe da Casa Civil, tenha a presença midiática do ministro da Educação. Certamente não tem o mesmo impacto na ponta, a mesma presença em agendas positivas nem imagem tão favorável.
O fato é que Camilo segue tendências. Ocupa espaços, e faz isso enquanto pode. Poder passa e às vezes passa rápido. Ele faz quando tem poder para tanto. (Não devem faltar os áulicos para dizer para indicar mesmo, que as críticas são bobagens preciosistas e hipocrisia.)
Depois da vitória de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza e todo o impacto do significado, políticos também podem achar que podem tudo. Há um preço político. Mas, a recompensa de um cargo vitalício talvez seja vista como algo que vale o “sacrifício”.
Publicado
originalmente no O Povo+
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