11 de dezembro de 2024

Camilo está com tudo, até demais, por Érico Firmo

Analistas apontam que a escolha de Onélia para o TCE é um desgaste para Camilo Santana (Foto: Aurélio Alves)

Quanto compensa ter um aliado num cargo público? No caso, uma aliada, e tão próxima quanto pode ser. Não se trata de discutir as qualificações de Onélia Santana (PT). Ela tem formação, embora, na maior parte, não seja exatamente relacionada às atribuições mais comuns do Tribunal de Contas do Estado (TCE). Já houve gente menos qualificada indicada para o TCE, o que não chega a ser um argumento a favor de ninguém. O problema é que Onélia não era uma escolha natural e nem iria virar conselheira se não fosse pelo casamento com a pessoa mais poderosa do Ceará na atualidade.

Para o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), a escolha é um desgaste. No momento em que o PT já vem sendo — há muitos meses — criticado pela concentração de poder. E quando a aliança governista quase é implodida por causa disso. Tinha dúvidas se iriam bancar tal decisão diante dessa conjuntura. Foi-se adiante. Por melhor e mais qualificada que seja Onélia, a indicação tem silhueta de atraso.

Camilo tem uma imagem diferente disso. É percebido majoritariamente como governante moderno, progressista, de diálogo, conciliador. Por que ele compromete uma parte dessa reputação com a indicação? Pelo peso político de ter uma familiar direta no TCE? Não me parece. Pela importância da remuneração vitalícia para o orçamento doméstico? Duvido que seja só isso.

Camilo, desde 2022, dá uma guinada na trajetória política. Passa a concentrar poder e ocupar espaço. A velocidade é maior do que a vista com antecessores. Mais recentemente isso ficou cada vez mais evidente, mas nada é tão escancarado quanto a escolha de Onélia. Duvido muito que alguém ache isso bonito ou elogiável. A não ser que pense — e na política quase todos pensam — na lógica da ocupação de espaços. Nesse caso, defende-se aquilo que se criticaria em adversários. É o jogo.

O desgaste vale o cargo?

O ministro e seus auxiliares não são bobos e sabem de tudo que está escrito aqui. Por que escolhem o desgaste mesmo assim? Não seria melhor preservar o ministro? O cargo compensa?

Bem, a maior parte da população, e dos eleitores de Camilo, não vai nem tomar conhecimento ou se importar com isso. Então, esse fator deve pesar. O estrago é limitado. Subestima-se o impacto da opinião pública. Para quem acompanha política, é uma nódoa na imagem de Camilo. Do ponto de vista nacional, é um carimbo feio. Uma fila de ministros de Lula fizeram a mesma coisa. Virou triste regra. Mas, nenhum com a repercussão e a relevância de Camilo. Talvez nem Rui Costa, chefe da Casa Civil, tenha a presença midiática do ministro da Educação. Certamente não tem o mesmo impacto na ponta, a mesma presença em agendas positivas nem imagem tão favorável.

O fato é que Camilo segue tendências. Ocupa espaços, e faz isso enquanto pode. Poder passa e às vezes passa rápido. Ele faz quando tem poder para tanto. (Não devem faltar os áulicos para dizer para indicar mesmo, que as críticas são bobagens preciosistas e hipocrisia.)

Depois da vitória de Evandro Leitão (PT) em Fortaleza e todo o impacto do significado, políticos também podem achar que podem tudo. Há um preço político. Mas, a recompensa de um cargo vitalício talvez seja vista como algo que vale o “sacrifício”.

Publicado originalmente no O Povo+

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