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1 de dezembro de 2024

Bolsonaro e o golpe à brasileira

A defesa de Bolsonaro sustenta que ele não seria beneficiado por golpe (Foto: Sérgio Lima)

O ex-presidente Jair Bolsonaro é astucioso - ou pensa que é. Desde que seus planos golpistas vieram a público na investigação conduzida pela PF, tem se empenhado em convencer a opinião pública de que se tratou de ideia de "aloprados", que algo do tipo não seria concebível no país de hoje e que não se leva golpe adiante com meia dúzia de oficiais e generais da reserva. Pior, ele mesmo seria não o perpetrador, mas uma vítima do golpe.

Ora, Bolsonaro explora em seu argumento de defesa o que há de ridículo na empreitada fracassada, como de fato é risível toda investida dessa natureza que dá com os burros n'água. Vista agora, fica mais fácil ainda divertir-se com o roteiro jocoso da intentona autoritária, dos personagens envolvidos até os diálogos de fardados encolerizados. Daí a acreditar que tudo não passasse de "delírio bananeiro" vai boa distância.

Bolsonaro, a se crer no que a investigação aponta mediante fartos elementos, capitaneou tentativa de solapar o poder democrático no Brasil, não com tanques nas ruas (não por falta de tentativa), mas corroendo desde dentro o funcionamento das instituições, como fizeram seus homólogos nos regimes iliberais mundo afora. É precisamente o que a PF indica no inquérito apresentado na semana passada, ou seja, que o ex-chefe do Executivo concorreu para o cometimento do crime, do qual era o principal beneficiário, a despeito do que possa existir de mequetrefe no script elaborado a muitas mãos para a consumação do golpe à brasileira.

Advogado diz que Bolsonaro não seria beneficiado por golpe

O criminalista Paulo Cunha Bueno, que representa Jair Bolsonaro (PL), afirmou ontem em entrevista à GloboNews que o grande beneficiado com um golpe de Estado não seria o ex-presidente, mas sim uma junta militar. Segundo ele, Bolsonaro seria traído pelos militares envolvidos na trama golpista.

"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mário Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro. Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso", afirmou.

"Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo".

De acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), um documento apreendido com Fernandes — que foi secretário executivo da Presidência da República no governo Bolsonaro — previa, no fim de 2022, o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, do vice Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Fernandes, outros três militares das Forças Especiais do Exército e um agente da própria PF foram presos na semana passada por suspeita de ter armado a trama golpista.

O relatório final da PF indiciou Bolsonaro e outras 36 pessoas por crimes que, somados, podem chegar a 28 anos de prisão. O documento diz que Bolsonaro sabia do plano Punhal Verde e Amarelo. O advogado negou, dizendo que a trama assassina "nunca chegou ao conhecimento dele".

Bueno também declarou que o cliente dele seria traído pelos militares porque não estaria de acordo com o golpe. Por essa razão, segundo o advogado, o ex-presidente não tinha a obrigação de denunciar a intentona.

Para ele, "é crível que as pessoas o abordassem (Bolsonaro) com todo tipo de proposta". "O que eu espero em primeiro lugar é que meu cliente seja julgado pela corte competente, por juízes imparciais e não por desafetos pessoais. Isto é o mínimo que alguém acusado, eventualmente, tem o direito de ter", disse.

Conforme a PF, o plano que detalhava a estratégia para o assassinato de autoridades foi discutido no fim de 2022 em reunião na casa do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e candidato a vice na chapa à reeleição. Braga Netto seria, segundo a investigação, o coordenador de um "Gabinete Institucional de Gestão da Crise" pós-golpe.

Publicado originalmente no O Povo+

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