5 de dezembro de 2024

Ajustes de Elmano, por Érico Firmo

Elmano de Freitas caminha para a segunda metade do mandato (Foto: João Filho Tavares)

O governador Elmano de Freitas (PT) prepara uma minirreforma de secretariado a ser colocada em prática a partir de janeiro, informou Romeu Aldigueri (PDT), presidente eleito da Assembleia Legislativa e, enquanto não assume, líder do governo na Casa. Trata-se de ajuste para os dois últimos e cruciais anos do mandato, quando o governador deverá buscar a reeleição.

Elmano já fez uma reforma do secretariado este ano. Em maio, mexeu em quatro secretarias — uma delas foi provisória e tinha fins eleitorais, quando Luisa Cela (PSB) deixou a Cultura diante da possibilidade de ser candidata a vice-prefeita. Quando não se concretizou, ela retornou à pasta. As outras mudanças foram na Segurança Pública, Planejamento e Gestão e Infraestrutura. Além de órgãos importantes: Superintendência de Obras Públicas (SOP), Zona de Processamento e Exportação (ZPE), Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice), CearaPar e CearaPrev.

Há pouco mais de seis meses, o governador mexeu, principalmente, numa área crítica, a segurança, na área econômica, e no setor de obras. Havia, e ainda há, expectativa de um possível “choque de gestão” para o momento mais importante da administração, quando Elmano terá de mostrar serviço e o resultado do trabalho.

Cid dá uma de “João-sem-braço”

Cid Gomes (PSB) falou publicamente, na noite de terça-feira, 3, pela primeira vez depois do desfecho das articulações para a presidência da Assembleia Legislativa, que terminaram com a eleição de Romeu Aldigueri (PDT). O senador disse o seguinte: “Eu nunca falei que rompi, que estava rompendo minha relação com Elmano de Freitas. Nunca falei isso”. A expressão hoje soa capacitista, mas antigamente, no Jardim América, o que se diria era que ele deu uma de “João-sem-braço”.

A rigor, a rigor, Cid não falou mesmo. Publicamente. Porém, algo nos bastidores aconteceu que os aliados dele entenderam como rompimento. O presidente do partido dele, Eudoro Santana, entendeu assim. Contou que Cid telefonou para ele logo depois da conversa com Elmano e relatou o que houve. A irmã de Cid, deputada Lia Gomes (PDT), entendeu como rompimento. Os aliados do governador, que ouviram de Elmano o relato da conversa, também entenderam que o rompimento estava colocado na mesa. Fizeram reunião de emergência para tentar contornar a situação.

No mínimo, no mínimo, Cid não se fez entender com o próprio grupo. O que as várias partes consideraram é que a situação ainda era contornável, e houve tratativas e ações para isso.

Cid falou ainda: “Eu me manifesto sobre o que eu penso publicamente”. Às vezes. Em muitos momentos, porém, o senador, estrategicamente, recolhe-se. Foi assim em 2022, quando a aliança entre PDT e PT estava indo à bancarrota. Só quando o racha já tinha ocorrido e a campanha estava no mundo, ele apareceu e explicou o sumiço.

Agora, ele falou: “Você ouviu alguma declaração minha? Você só pode dizer que uma coisa aconteceu quando você tem uma declaração da pessoa”. Ocorre que, se a pessoa não se manifesta em público, mas fala aos aliados e nos bastidores, e essa manifestação é publicizada por interlocutores graduados e relevantes, e isso provoca desdobramentos políticos, torna-se notícia. Ninguém inventou uma crise. Cid deixou o assunto correr solto. Inclusive, a repercussão pública o beneficiou.

O senador havia sido perguntado, duas semanas atrás, direta e especificamente sobre isso. A resposta mais confundiu que explicou. Saiu-se com uma conversa sem pé nem cabeça, sobre a perspectiva de o Ceará subir para a série A — que acabou acontecendo.

“A gente só pode falar e comemorar a elevação do Ceará à Série A depois de completada a 38ª rodada”, foi o comentário dele quando perguntaram se tinha rompido com Elmano. O significado do comentário ele expôs a seguir: "Não tem nada decidido”. Falou sobre esperar, aguardar o desfecho, que política tem ritos e estavam havendo muitas conversas. E prometeu, para o momento certo, uma nota ou uma comunicação.

“Agora, não coloquem na minha boca palavras dos outros. Eu converso com as pessoas e as pessoas não estão submetidas a um sigilo ou a uma interpretação do que eu possa ter falado", ele dizia lá atrás. Esse é o ponto. Ninguém pode falar que ele disse, publicamente, mas não se pode deixar de noticiar o que aliados falam.

Cid dizia não haver decisão, mas tampouco explicava o que estava acontecendo. E agora aparece como que incomodado com o que foi dito e ele fez questão de confundir ainda mais. E ganhou politicamente com isso. 

Publicado originalmente no portal O Povo +

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