21 de novembro de 2024

Por que Cid recuou do rompimento, por Henrique Araújo

Eudoro Santana e Cid Gomes em reunião do PSB (Foto: Aurélio Alves)

O senador Cid Gomes (PSB) fez saber que havia rompido com o governador Elmano de Freitas (PT) no último fim de semana. Não se trata de exagero nem de força de expressão, mas de ruptura mesmo, confirmada por diferentes interlocutores do pessebista ouvidos por um sem número de repórteres de veículos diferentes. Pelas 72 horas seguintes, o ex-governador se manteria em silêncio, quebrado apenas na última terça-feira, 19, quando ressurgiu emitindo sinais ambíguos. Afinal, Cid está hoje na base de Elmano ou não? Está rompido com a gestão petista ou não? São perguntas simples. Pelo que sustentou em coletiva de imprensa após reunião do PSB conduzida por Eudoro Santana, sim, permanece no arco de sustentação do chefe do Executivo estadual - até que se prove o contrário. A rigor, Cid disse o seguinte: não existe decisão antes da "conclusão dos ritos". Que ritos são esses? O senador não explicou. Supõe-se, contudo, que se refira às conversas que vem mantendo com diferentes atores desde o estouro da boiada, entre os quais Camilo Santana, Eudoro e deputados mais fiéis de PSB e PDT.

A volta dos que não foram

O assunto à mesa, evidentemente, são os termos da aliança com o PT. Em bom português: uma repactuação do contrato, considerado desfavorável tendo em vista o papel desempenhado por Cid nas duas últimas eleições. O fato de que estivesse ali afirmando com todas as letras que não havia definido qualquer rumo é um indicativo concreto de que continua aberto ao diálogo, ao menos em tese. Logo, se rompeu com Elmano, recuou. Se não rompeu, passou aos mais próximos uma mensagem desencontrada cuja leitura permitiu interpretações diversas, inclusive a de que ele não compunha mais o bloco governista. Das duas alternativas, a do recuo soa mais verossímil. É possível imaginá-lo, num gesto mercurial, mandando a aliança às favas após a escolha de Fernando Santana (PT) para a presidência da Assembleia, assim como é perfeitamente cabível que tenha reconsiderado a atitude talvez intempestiva e ponderado melhor a situação depois de ouvir gente de confiança.

A reação do PT e a de Camilo

Houve, porém, reações diferentes ao hipotético rompimento de Cid. Uma do PT e outra de Camilo. Na legenda, a posição do senador foi tratada como contornável desde o início, como se intuíssem que ele não tivesse tantas opções, salvo manter-se atrelado ao bloco e tentar se viabilizar para 2026 numa costura direta com o ministro da Educação, como se Cid fosse um problema de Camilo, e não do partido. De fato, ouvi de um petista relato segundo o qual a investida contra Elmano não tinha força para dissuadir a base (leia-se, as lideranças do PT e o governador) da indicação de Fernando. Da parte de Camilo, por sua vez, a conversa se deu noutro tom. O chefe do MEC se mostrou visivelmente preocupado, a ponto de acenar, já numa primeira declaração, com o compromisso de apoiar o amigo para o Senado daqui a dois anos, a despeito do leque de governistas interessados nas duas cadeiras livres, a exemplo de Chiquinho Feitosa (Republicanos), José Guimarães (PT) e Eunício Oliveira (MDB). Resumo da ópera: o PT fez pouco caso do rompimento, enquanto Camilo tentou se blindar.

A preocupação é 2026

Entre petistas, no entanto, existe uma tácita preocupação quanto ao papel que Cid poderia ter na oposição caso levasse adiante a disposição para o rompimento. O motivo é claro: apenas ele, conforme avaliação de alguns, reuniria condições de recompor o campo adversário, naturalmente não sobre as mesmas bases pré-cisão entre PT e PDT, mas ainda assim com chances de chegar ao pleito coesionado em torno de uma candidatura mais competitiva. Daí os muitos esforços, visíveis e nos bastidores, para retê-lo perto do Abolição.

Publicada originalmente no portal O Povo +

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