18 de novembro de 2024

O que levou Cid a romper com Elmano, por Henrique Araújo

Cid com Elmano em ato de campanha de Evandro Leitão (Foto: Fábio Lima)

É cedo para qualquer prognóstico mais seguro, mas o rompimento entre Cid Gomes (PSB) e o governo de Elmano de Freitas (PT) tem potencial para alterar o quadro político cearense, com chances de dificultar a vida do chefe do Executivo estadual e de redesenhar a disputa de 2026. Um efeito imediato, claro, é o de desfalcar a base num momento sensível para a gestão, com possibilidade de formação de um polo concorrencial que pode ou não se fundir com outros já estabelecidos em torno de Roberto Cláudio (PDT), Capitão Wagner (União) e André Fernandes (PL). Há muitas lacunas no ar, contudo. Primeiro, não se sabe qual é a real disposição de Cid fora do arco de sustentação do Abolição, se de se manter neutro ou de fazer oposição. Segundo, se a decisão de romper com Elmano se estende ao aliado Camilo Santana (me parece que não, mas a dúvida existe), principal fiador da candidatura do deputado ao Governo em 2022. Terceiro, se as bancadas de PDT e PSB alinhadas ao senador devem acompanhá-lo, inclusive entregando cargos que ocupem no Estado e abrindo mão de preencherem espaços na esfera municipal, com Evandro Leitão (PT). Finalmente, se a ruptura significa que Cid apresentará nome para bater chapa com Fernando Santana (PT) pelo comando da Assembleia - ou se foi somente uma maneira de pressionar o PT a recuar da indicação.

A origem da contrariedade

À época no PDT, Cid foi peça importante para a eleição do próprio Elmano dois anos atrás, ao deflagrar guerra interna na agremiação, opondo-se ao irmão Ciro, de quem nunca mais se aproximou - até aqui, pelo menos. Mesmo agora, em 2024, Evandro não teria chegado ao Paço sem a carta de anuência assinada por ele, com a qual pode deixar o trabalhismo e ingressar no PT. As duas grandes vitórias petistas recentes, portanto, têm DNA "cidista", ou seja, demandaram do ex-governador algum nível de articulação, colocando-o em rota de colisão com parte da família. Sem ele, é possível que Elmano e Evandro fossem bem-sucedidos, mas tudo teria sido mais difícil. A despeito disso, o PT "passou o trator", negligenciando-o no processo de escolha de Evandro como candidato e no de Fernando como pretendente a sucessor no Legislativo. Levando-se tudo isso em conta, mais o seu histórico beligerante, diria que o rompimento até demorou.

Camilo reafirma apoio

Ao comentar o episódio, o ministro Camilo Santana disse à coluna nesse domingo que "divergências são normais" e "já ocorreram outras vezes", mas que "isso se resolve com mais diálogo". Ainda segundo ele, "fato é que Cid é um grande amigo, parceiro de projeto e de luta". Em seguida, enfatizou: "É meu candidato ao Senado em 2026", acrescentando que "não só pela gratidão que tenho a ele, mas pelo o que ele representa para o Ceará". Nesta segunda, 18, deputados federais ligados a Cid se reúnem para avaliar o cenário e acertar os próximos passos. Embora o senador tenha alegado que o gesto de ruptura é posição pessoal, uma parcela dos parlamentares considera segui-lo em eventual desfiliação do PSB/PDT.

Os riscos para Cid

O ato de rompimento político com o governador também colocou Cid numa posição de risco. Hoje no PSB, o senador não controla a direção da sigla, a cargo de Eudoro Santana - pai de Camilo. Sob sua influência, os socialistas elegeram 65 prefeitos, é verdade, mas nenhum deles trocaria a guarida da base por uma aventura oposicionista. O mesmo vale para os deputados federais e estaduais, que talvez prefiram se manter próximos do "camilismo". Qual seria, então, a alternativa de Cid? Das duas, uma: ou migrar para um partido cuja executiva passasse a seu comando, a exemplo do Podemos, sem garantia de manutenção do poder de fogo que detém hoje; ou se recompor com Ciro de olho em 2026.

Publicada originalmente no portal O Povo +

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