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3 de novembro de 2024

O desafio de quem tem vitória apertada, por Érico Firmo

Para consolidar liderança Evandro precisará desviar de agendas negativas e driblar polêmicas (Foto: Ricardo Sturket)

Evandro Leitão (PT), após eleito, falou em unir a cidade que saiu tão dividida das urnas e governar para todos. São uma necessidade política e uma obrigação administrativa. E um desafio considerável para o prefeito eleito.

Ninguém antes dele se elegeu prefeito com tantos votos: 716.133. Mas, numa eleição tão apertada, também nunca um prefeito tivera tantos votos contrários: 705.295. Aliás, nenhum prefeito até agora teve tantos votos quanto André, que não foi eleito. O potencial de instabilidade para Evandro não é pequeno.

Isso significa que o petista tem pouca margem para erro. Até porque os que não votaram nele são inflamados de um modo que aqueles que o apoiam não são. A campanha de Evandro, de forma inteligente, usou como arma principal a rejeição a Jair Bolsonaro (PL) e a André Fernandes (PL). O que não significa que haja disposição que apoiar o prefeito eleito independentemente de qualquer coisa, pelo menos para uma parcela dos eleitores de Evandro que considero não ser desprezível.

Diria até que Evandro chegou a atrair votos de quem não gosta dele como candidato, mas votou por, do outro lado, estar quem estava. É meio caminho andado para crises e impopularidade.

O prefeito eleito precisará, ao menos até se firmar, desviar de agendas negativas e driblar polêmicas. O que é complicado, pois quem não contraria interesses não chega a lugar nenhum nem faz nada em gestão pública.

Ecos de 1988

A eleição deste ano foi, proporcionalmente, a mais apertada na história. Em, em números absolutos, a mais parelha desde 1988. Naquela época o eleitorado era menor e não havia 2º turno. Há algumas semelhanças em relação ao momento atual. Foi a primeira — e única até agora no pós-redemocratização — que houve alinhamento entre Prefeitura, Governo do Estado e Governo Federal. Tasso Jereissati estava no PMDB e tinha sido eleito em 1986. Elegeu Ciro Gomes, então peemedebista, dois anos depois, contra Edson Silva, do PDT. O presidente era José Sarney, do mesmo partido — o atual MDB. O alinhamento durou um ano e 15 dias. Ciro tomou posse em 1º de janeiro de 1989. Em 16 de janeiro de 1990, ele, Tasso e grande número de aliados se filiou ao PSDB. Desde aquela data, Fortaleza não conhece a conjunção marcada para se repetir em 1º de janeiro próximo.

Curioso perceber o que se seguiu a 1988. Ciro deixou a Prefeitura em abril de 1990 para ser candidato a governador. Ganhou. O poder estadual do grupo se consolidou e expandiu. Mas, Tasso nunca mais conseguiu eleger um prefeito na Capital. A única vez, nos últimos 36 anos, em que o PSDB esteve numa aliança vitoriosa em Fortaleza foi com José Sarto (PDT), em 2020. Mas, não tinha o candidato a prefeito e nem o vice — o hoje tucano Élcio Batista era do PSB e só se filiou no ano passado.

Tasso ascendeu em 1986, assim como Camilo se afirmou como líder estadual — independente dos Ferreira Gomes — em 2022. Dois anos depois, ambos elegeram aliado em Fortaleza, por uma nesga. A conferir se o que virá a seguir em Fortaleza será a consolidação do poder ou um período de jejum. Talvez seja algo entre um e outro.

Claro, há diferenças. Em 1988, as prefeituras haviam recém-conquistado autonomia. Evandro não renunciará para concorrer a nada em 2026. Camilo não era um estreante na política em 2022, longe disso. Vinha de dois mandatos de governador e uma vitória contundente em 2018.

Mas, há outros exemplos, em esferas diferentes de poder, de alerta que se seguem a vitórias apertadíssimas. Lúcio Alcântara teve uma vitória inacreditavelmente apertada para governador. A de Evandro Leitão foi histórica de tão parelha, com 10.838 votos de diferença apenas na Capital. A diferença de Lúcio para José Airton Cirilo (PT) foi de 3.047 votos. A base política de Lúcio rachou na segunda metade do mandato e ele foi o único governador até hoje a não conseguir reeleição.

Reeleição que Dilma Rousseff (PT) conseguiu na Presidência da República, em 2014, por diferença de 3,28 pontos percentuais — para os padrões de polarização de lá para cá, soa até uma boa vantagem. O País estava rachado, o governo assumiu já politicamente frágil e foi perdendo apoio. Dilma sofreu impeachment antes da metade do segundo mandato. Unir a cidade — qualquer cidade — é muito difícil, ainda mais atualmente. Mas, construir alguma maioria consistente na sociedade é condição para a estabilidade da gestão. A maioria de Evandro mal é visível a olho nu.

Com informações portal O Povo +

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