Antes da desistência de Fernando, parlamentares diziam que a indicação era "irreversível" (Foto: Paulo Rocha) |
O deputado estadual Fernando Santana (PT) anunciou na noite desta sexta-feira, 22, que não irá concorrer à presidência Assembleia Legislativa do Ceará (Alece). A indicação de seu nome para representar a base teria sido o "estopim" para o estremecimento da relação entre o senador Cid Gomes (PSB) e o governador Elmano de Freitas (PT).
Em longo texto publicado nas redes sociais, Fernando ressalta que faz parte de um projeto. Ele cita o ministro Camilo Santana, Elmano e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e menciona também a "parceria com grandes aliados". A fala do deputado ressalta ainda que o projeto seria forte por ser "construído na base do diálogo e do respeito, e sempre buscando o melhor para nossa população".
Fernando explica que ficou "feliz e honrado" por ter o nome colocado para a presidência da Alece. "A lembrança e, principalmente, com a acolhida dos companheiros deputados", ressaltou. No entanto, o deputado pondera que "também houve discussões, impasses, o que é natural numa democracia".
"Diante de algumas ponderações, e do atual contexto, para a importância da manutenção dessa aliança coesa e forte, anuncio que abro mão de minha candidatura. Faço isso com a tranquilidade da alma, porque não faço política como projeto pessoal, mas coletivo. Continuarei firme, ao lado dos nossos aliados, na luta por um Ceará cada vez mais forte", finalizou sua nota.
Com a desistência de Fernando Santana, o líder do governo na Alece Romeu Aldigueri foi apontado por aliados como favorito para entrar na disputa. O nome de Guilherme Landim também é citado como alguém mais próximo a Cid. Os dois deputados são filiados ao PDT, mas há a expectativa de saírem da sigla.
Ruptura e reviravolta
O nome de Fernando Santana era dado como certo para ser o candidato da base à presidência da Alece. Reuniões foram realizadas entre petistas para a confirmar a escolha. Até que na sexta-feira, 15, Cid teve reunião com Elmano no Palácio Abolição. Segundo relatos, o encontro foi curto e teve como desfecho o senador afirmando que estaria se afastando da base do Governo.
O principal ponto seria a concentração de poder do PT que ficaria com, além da presidência da Alece, com a Prefeitura de Fortaleza a partir de 2025 e os governos Estadual e Federal. Além disso, haveria o incômodo com o martelo "batido" pelo nome de Fernando sem a consulta prévia aos aliados, como Cid e deputados ligados a ele.
Na última terça-feira, 19, Cid não deu como consumado o rompimento com o governo Elmano e disse ser necessário esperar o desenrolar do processo.
Eudoro Santana, presidente do PSB e pai de Camilo Santana, alegou que também não foi chamado assim como pessoas do PSB também não.
Dia foi marcado por Elmano e Camilo evasivos, mas reforçando diálogo
Foi uma sexta-feira movimentada para Camilo e Elmano. Ambos evitaram dar declarações públicas sobre a relação com Cid ou sobre a situação envolvendo a presidência da Alece. Os dois petistas eram esperados no Encontro Regional de Gestores Eleitos e Reeleitos do Ceará, realizado pela Caixa Econômica Federal e Secretaria de Relações Institucionais do Governo Federal. Não compareceram.
Depois, participaram da ExpoFavela Ceará. Em um primeiro momento, Elmano respondeu ao O POVO que falaria depois. A assessoria afirmou que o governador estava atrasado para o evento e não responderiam naquele momento. Resposta semelhante foi dada pela assessoria do ministro: não haveria conversa com a imprensa pelo atraso para a agenda. Anteriormente, no entanto, a assessoria do evento havia informado que haveria coletiva de imprensa com Camilo.
Finalizado o evento, Elmano mais uma vez foi abordado pelo O POVO para falar sobre sua relação com o senador. Em meio a fotos com os participantes, foi curto e direto ao responder após uma pausa. “Estamos dialogando”, disse.
O mesmo ocorreu com Camilo. Ao descer do palco, o ministro foi abordado por pessoas que pediam fotos. Para a imprensa, ele afirmou que tem conversado com Cid "a todo momento" e que “tudo será resolvido”.
O governador era esperado também em evento do PT Ceará, que realizou encontro com os prefeitos e vices eleitos do partido no Hotel Amuarama, no Bairro de Fátima. Às 18h30mim, houve burburinho nos bastidores de que Elmano não iria mais por conta de uma reunião na Casa Civil. O encontro com os gestores petistas terminou às 19h15min sem a presença do chefe do Executivo cearense.
Antes da desistência de Fernando, indicação era vista como 'irreversível'
Mesmo com o desconforto causado com Cid e outros nomes, a indicação de Fernando Santana era vista como "irreversível". Um dos que manifestou esse entendimento foi o líder do governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT).
Para ele, recuar seria desmoralizador para Elmano. "A indicação para a base do Elmano na Assembleia Legislativa do Fernando Santana é prego batido e ponta virada", afirmou o deputado. "Não vejo como retroceder. Seria uma desmoralização do próprio governador".
Guimarães considera que só poderia haver alteração de rota a depender do próprio Fernando. "Qualquer mudança evidentemente passa pelo deputado, mas, do ponto de vista do PT, nós estamos sintonizados com a indicação do Fernando para presidir a Assembleia", reforçou no começo da semana.
Outros petistas seguiam a linha de raciocínio. "Quem tem a prerrogativa de conduzir e analisar os passos para a sucessão é o governador. O governador está olhando a sua sucessão, então, é natural que ele tenha, e eu não tenho dúvida que esse processo foi tratado, foi conversado, foi discutido com as lideranças, e dado ao governador a prerrogativa dele, como foi com o Camilo, como foi com o Cid", ressaltou o líder do PT na Assembleia, De Assis Diniz após a notícia da possível saída de Cid da base de Elmano.
"Eles escolhem. Eles ofertam. Então, como você [vai] querer imputar a um terceiro a decisão de uma relação que é, exclusivamente, de um processo que lhe dá, para dentro dessas questões amplas, uma situação de governabilidade?", tinha indagado ainda.
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