30 de novembro de 2024

Em reunião no Planalto, Tarcísio e Nunes, silenciam sobre críticas à tentativa de golpe

No evento foram anunciadas obras financiadas pelo  Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Foto: Gabriela Biló)

Uma reunião de anúncio de investimentos em mobilidade urbana para São Paulo, nesta sexta-feira, virou palco para integrantes do governo federal condenarem a tentativa de golpe de Estado revelada por investigação da Polícia Federal — segundo a apuração, o ex-presidente Jair Bolsonaro foi o líder da trama. No evento, no Palácio do Planalto, estavam dois aliados importantes do ex-chefe do Executivo: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes.

Ambos foram ao Planalto para assinar, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um aporte de R$ 10,65 bilhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a compra de ônibus e a finalização de obras do metrô e de rodovias.

O primeiro a citar a tentativa de golpe foi o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, ao fim de seu discurso. "Não é fácil um presidente e um vice-presidente que foram ameaçados de morte, de golpe de Estado e tudo ao que nós assistimos recentemente, manter a atitude de compromisso e respeito ao voto popular com quem é eleito, um PAC que trata com todos os prefeitos e governadores", disse Mercadante. O vice-presidente Geraldo Alckmin também estava presente.

Depois, o chefe da Casa Civil, Rui Costa, foi mais enfático. Ele argumentou que o diálogo de Lula com prefeitos e governadores que não são de seu partido, o PT, mostra compromisso com a democracia e respeito ao resultado das urnas. "O senhor mostra, mais uma vez, a figura de um estadista, que não se abala um milímetro mesmo com todas as informações e notícias que vieram à tona daqueles que tramaram um golpe de Estado", frisou o ministro, dirigindo-se ao presidente.

"Chegaram a tramar algo que ninguém neste salão ou no país imaginava que poderia acontecer no país: que alguém teria a coragem de tramar a captura, o sequestro, a morte de um ministro do Supremo Tribunal Federal, de um presidente da República eleito e de um vice-presidente da República eleito", acrescentou Costa.

Por fim, o último discurso foi de Alckmin. Ele foi menos direto, mas também celebrou a democracia e disse que a ditadura militar já foi superada. "Quando fui prefeito da minha cidade natal, no período triste da ditadura no Brasil, onde nós prefeitos éramos separados pelo partido político, só tinham reunião com o governo federal quem era do partido do presidente. Triste período já superado", afirmou. Lula não discursou.

Silêncio

Tarcísio é aliado de primeira hora de Bolsonaro e principal cotado para substituí-lo nas urnas em 2026. Após o indiciamento do ex-presidente, ele chegou a dizer que a acusação é uma "narrativa disseminada que carece de provas". Após a quebra de sigilo do inquérito, de mais de 800 páginas, e revelação das provas coletadas pela PF, ele não se pronunciou mais sobre o caso. Nunes, por sua vez, foi reeleito ao cargo com apoio tímido de Bolsonaro. Apesar de serem aliados, o prefeito se ressentiu da falta de engajamento do líder do PL em sua campanha. Durante o evento, Nunes e Tarcísio não comentaram sobre a tentativa de golpe e falaram apenas sobre as obras financiadas.

O governador destacou a importância das obras e disse esperar novas parcerias com o BNDES no futuro. Já Nunes deu destaque à compra de ônibus elétricos para a cidade, aos benefícios trazidos para o meio ambiente e à economia aos cofres públicos em relação a modelos movidos a diesel.

As obras financiadas pelo aporte estão dentro do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Incluem a compra de 44 trens para o metrô e a expansão da Linha 2 Verde; a conclusão do Rodoanel Mário Covas, ligando as 12 rodovias que passam pelo entorno de São Paulo; a compra de 1.300 ônibus elétricos; e a criação de um trem entre a capital e Campinas.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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