O deputado André Fernandes conquistou quase a metade dos eleitores de Fortaleza (Foto: Aurélio Alves)
Fortaleza não é uma cidade petista, e o dividido cenário eleitoral do domingo passado mostra isso. Mas, é inegável que há um amplo setor progressista, de centro-esquerda. Que tem resistência a conservadores, vide as seguidas derrotas de Moroni Torgan e Capitão Wagner. André Fernandes (PL) foi bem-sucedido em algo que Wagner muito tentou: moderar a imagem e ampliar o eleitorado. Entender como uma cidade com fama de progressista quase elegeu um bolsonarista radical — ao menos até poucos meses antes da eleição — é algo ainda a ser interpretado.
Natureza
do voto contestador de Fortaleza
Há um voto conservador em Fortaleza, mas ele nem sempre é majoritário. Em 2020, ficou em 17% com Luizianne. Em 2016, também com ela, 15%. Em ambas as eleições, o Psol ficou na casa de 1% a 2,6%. Em 2008, com a mesma candidata, concorrendo à reeleição, passou de 50% pela única vez até hoje em um 1º turno. Mas tinha também a força das máquinas municipal, estadual e federal unidas. Sozinho, o voto de esquerda talvez nunca tenha sido maioria em Fortaleza. Em 2004, no 1º turno, Luizianne e Inácio Arruda (PCdoB) dividiram a esquerda, que ainda tinha Heitor Ferrer. Somados, no 1º turno eles tiveram 45%. Em 2000, Inácio fechou o 1º turno com 30%. Quatro anos antes, teve 18%. Em 1992, pior momento da esquerda numa eleição em Fortaleza, o candidato do PT foi Fernando Branquinho, que ficou na casa dos 4%.
O voto de esquerda raiz eu diria estar nas proximidades dos 20% obtidos em 1996, 2016 e 2020. Passou disso ao conseguir ampliar alianças, discursos e potenciais. Maria Luiza, vale destacar, foi eleita antes de haver 2º turno, com 34% — um terço do eleitorado.
Ao longo da década de 1990, o voto progressista foi para o grupo de Juraci. O foco ali era derrotar o grupo do Cambeba, liderado por Tasso Jereissati (PSDB), no Governo do Estado. Juraci estava à direita de Tasso, mas representava o contraponto. Trata-se de um eleitor que, ideologicamente, parece ter mais ressalvas que paixões.
Embora tenha um nível até aguçado de pragmatismo, que considera o impacto concreto para a vida, o eleitor fortalezense é dado a ousadias novidades. Penso ser isso, mais que uma eventual identificação ideológica, que explica muitos dos resultados eleitorais surpreendentes na Capital.
E aí entra Fernandes e o que ocorre no Brasil desde 2018. O extremismo de direita se tornou o principal discurso de mudança e ruptura. É o canal de contestação, ao passo que a esquerda, que antes criticava as “instituições burguesas”, passou a defender o status quo. Ainda mais no Ceará, onde é hegemônica.
Os
anos de poder da esquerda fazem com que seja associada aos problemas de caráter
público. A direita, então, torna-se a mudança. Assim André conquistou a metade
dos eleitores de Fortaleza.
Publicada originalmente no portal O Povo +
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