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5 de outubro de 2024

As tendências das eleições municipais, por Antonio Lavareda e Vinícius Alves

Mapa do Brasil de acordo com resultado das eleições de 2022 (Foto: Reprodução/CB)

As competições municipais no Brasil usualmente são oportunidades para que o eleitor se conecte a questões relativas à zeladoria e boa gestão da cidade em que vive. Mas não raro promovem também discussões mais amplas sob a influência de lideranças nacionais ou estaduais, que entram em cena oferecendo apoio aos candidatos e candidatas da arena local. Além disso, já foram caracterizados por nós como "barômetros ideológicos", capazes de mensurar ou atualizar o peso dos campos políticos, podendo sinalizar perspectivas para o sistema nacional nos pleitos subsequentes.

Em algumas ocasiões, despertam discussões acaloradas sobre comportamento e formação de preferências dos eleitores, reacendendo debates importantes para estudiosos da comunicação política. Mais do que isso, são capazes ainda de suscitar reflexões abrangentes sobre a qualidade da representação no país e a influência do arranjo federativo para o funcionamento da democracia brasileira.

Neste ano, algumas dessas discussões ganharam relevo ao longo do processo eleitoral e outras durante a pré-campanha. Destacamos, neste texto, algumas mais presentes. As disputas municipais seriam capazes de replicar a clivagem Lula (PT) x Bolsonaro (PL), muito discutida no cenário da política nacional? Quem levaria vantagem em uma polarização das disputas locais, aliados de Bolsonaro ou de Lula? Qual é o panorama para o desempenho dos prefeitos candidatos neste ano? É possível projetar o crescimento de legendas de direita a partir das intenções de voto dos principais competidores em 2024? Quais partidos se destacariam nesse âmbito? O tradicional (e por vezes subestimado) tempo de TV ainda é capaz de exercer influência no contexto da corrida de 2024?

Chamamos atenção inicialmente para o efeito da presença na competição dos prefeitos no exercício de mandato. Em 2020, esse fator mostrou-se decisivo para a definição dos competidores vitoriosos nas capitais e municípios com mais de 200 mil eleitores. Neles, a taxa de sucesso dessas candidaturas se aproximou de 77% (em torno de três em cada quatro mandatários das maiores cidades brasileiras que buscaram se reeleger em 2020 foram bem-sucedidos).

No pleito de 2024, tendo em vista a evolução das intenções de voto dos principais competidores até aqui, projeta-se um efeito semelhante, com taxa de sucesso de incumbentes de ao menos 60% nas capitais e de 80% nos outros municípios do G103 (aqueles com possibilidade de segundo turno). Vale considerar que algumas dessas disputas não serão resolvidas em primeiro turno, o que pode fazer oscilar essa projeção, para mais ou para menos, mas nada indica até o momento que este ano eleitoral será disruptivo em relação à força dos mesmos.

Sobre esse ponto, observamos que a quantidade de prefeitos candidatos nas capitais aumentou consideravelmente (passou de 13, em 2020, para 20 em 2024). Relembramos, também, que no último pleito aqueles que buscavam a reeleição competiram em um contexto potencialmente mais favorável à renovação de seus mandatos. A continuidade tinha forte apelo eleitoral e parecia a opção mais segura diante de uma acentuada crise de saúde pública.

Sobre o tema da polarização, que se mantém influente no contexto da política nacional, é preciso destacar que o ex-presidente Bolsonaro (PL) e o presidente Lula (PT) não são figuras tão presentes ou marcantes sobre o quadro geral das corridas deste ano na maior parte das cidades brasileiras. Ressalvadas algumas competições em que colocaram seu time em campo, os dois personagens mais influentes no cenário atual da política brasileira não são decisivos para estruturar a corrida municipal ao longo do país, pelo menos não na dimensão que se conjecturou a partir de 2022.

Feita essa observação sobre os limites da polarização, é possível notar que a competição deste ano apresenta uma situação mais favorável ao PL em grandes centros metropolitanos. A superioridade da performance do PL frente ao PT é visível: o partido de Bolsonaro lidera em cinco capitais, enquanto o Partido dos Trabalhadores está à frente em somente uma,Teresina. Nos outros municípios que integram o G103 contabilizamos nove lideranças para o PL e cinco para o PT. Além dessa contagem, o Partido Liberal projeta-se com maior força também para as prováveis disputas em segundo turno. Enquanto o PL ocupa a segunda colocação em quatro capitais e 17 cidades do G103, os candidatos petistas estão na vice-liderança em três capitais e 12 dos maiores municípios.

A situação mais favorável ao partido de Bolsonaro em relação à legenda de Lula deve ser compreendida em meio ao contexto do nosso sistema político, historicamente mais favorável a partidos de direta na arena local. Sob essa perspectiva, vale destacar também que a sua votação nacional agregada tem crescido desde as eleições de 2016. A respectiva proporção nacional de sufrágios para prefeito era de menos de 30% em 2012, chegou a cerca de 38% em 2016, e passaria a mais de 54% em 2020. Tendência que deve se repetir na eleição deste ano. Considerando a classificação ideológica adotada por especialistas acadêmicos e a evolução das intenções de voto dos candidatos desse segmento, terão destaque partidos como PSD, União Brasil e PL.

O avanço da direita se projeta em detrimento do desempenho da esquerda e do centro, tanto nas capitais como nos grandes municípios. Se ela já havia se fortalecido com o pleito de 2020, quando venceu em quase metade das capitais e grandes cidades (respectivamente, 46% e 53%), as eleições deste ano sinalizam um cenário ainda mais favorável ao campo ideológico em destaque (lidera hoje em 73% nas capitais e 64% dos municípios do G103).

De outro lado, os desafios para a esquerda e o centro são consideráveis. Se em 2020 os dois espectros foram exitosos, respectivamente, em cinco e nove capitais (aproximadamente 19% e 35% deste subconjunto), hoje a esquerda lidera em somente três, e o centro em quatro capitais. Examinando o quadro nos outros municípios com possibilidade de segundo turno, é possível projetar um contexto igualmente desafiador (as legendas de esquerda lideram em 14 grandes cidades, tendo vencido em 11 desse subconjunto no último pleito). O mesmo para o centro, que venceu em 20 e agora lidera em 15 dos municípios que reúnem os maiores eleitorados no país.

Por último, vale notar que o tempo de televisão ainda se apresenta como um importante recurso de campanha, associado às candidaturas mais competitivas para prefeito. Ainda que os novos meios de comunicação, em especial as redes sociais, despertem muita atenção e estejam ganhando cada vez mais influência sobre a dinâmica dos últimos pleitos, a TV não pode ser subestimada. Ela ainda conserva sua relevância, o que se evidencia ao observarmos que os primeiros colocados possuem, em média, cerca de 220 segundos de exposição diária, enquanto os candidatos que estão na segunda posição dispõem de aproximadamente 175 (algo em torno de 45 segundos a menos, na média, em relação aos líderes). Na sequência, em ordem decrescente de exibição na TV, estão aqueles posicionados em terceiro, que possuem menos de 100 segundos.

Nota-se, portanto, que o tempo de veiculação de propaganda está fortemente associado ao posicionamento dos candidatos na corrida de 2024. Cerca de 69,2% dos candidatos nas capitais com o maior tempo de TV estão hoje na liderança, enquanto algo em torno de 23,1% ocupam o segundo lugar. Apenas 7,7% daqueles com maior tempo de TV estão em terceira posição. Em síntese, 85% dos competidores que estão em primeiro ou segundo na disputa das capitais dispõem do maior ou segundo maior tempo de exposição no horário gratuito.

*Antonio Lavareda é presidente do Conselho Científico do Ipespe.

*Vinícius Alves é diretor do Ipespe Analítica, responsável pelo Índice CNN do qual os dados citados foram extraídos

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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