31 de outubro de 2024

A influência do governador sobre Fortaleza, por Érico Firmo

O Palácio da Abolição tem emplacado os favoritos nas eleições na Capital, enquanto o Cambeba perdia (Foto: Tiago Stille)

Houve um tempo, por mais de uma década, em que governador não elegia prefeito de Fortaleza. Foi durante a era Juraci Magalhães até o primeiro mandato de Luizianne Lins (PT). A divisão durou de 1990 até 2006. Naquele ano, a então prefeita ajudou a eleger Cid Gomes (PSB) governador. Em 2008, ele retribuiu e a apoiou à reeleição. Foi quando se usou o slogan “Fortaleza três vezes mais forte”, adaptado para a campanha estadual de Elmano de Freitas (PT) 14 anos depois. Naquela ocasião houve o primeiro desentendimento público, ao que me lembre, entre os irmãos Ferreira Gomes. Cid e Ivo Gomes com Luizianne, Ciro Gomes e Lia Gomes com Patrícia Saboya. O fato é que, de 2008 para cá, sempre o candidato apoiado pelo governador foi eleito.

Se, durante a era Tasso Jereissati (PSDB), o grupo do governo perdeu quatro eleições municipais na Capital, em 1992, 1996, 2000 e 2004, desde então o governismo estadual, em outras mãos, venceu cinco: 2008, 2012, 2016, 2020, 2024.

Coincidência ou algo mais?

Como explicar que o candidato apoiado pelo poder estadual tenha perdido quatro eleições seguidas com um grupo e depois vencido cinco com outro grupo? Pode ser coincidência, mas me soa improvável. Também não é fato que os recentes governos sejam muito mais populares, ou muito melhores, que os anteriores. O governo Tasso foi responsável por uma grande ruptura política e no serviço público. Muita gente que estava no funcionalismo — a depender do lado da história — foi prejudicada ou perdeu privilégios. O chamado Cambeba se desgastou com setores da classe média e, além de tudo, abriu mão do debate público com a opinião pública.

A partir da chegada ao poder de Cid Gomes (PSB), em 2007, houve distensionamento da relação com esses setores. Contribuiu a aliança com o PT. Não é que Fortaleza seja uma cidade de maioria progressista. Mas, há segmento progressista bem considerável. Para Cid, ajudou bastante ter a aliança com o PT.

Não significa que não houvesse rejeição. Ao final do mandato, em 2014, Cid estava bem desgastado na Capital. Naquela eleição, Camilo Santana (PT) foi eleito governador, mas Eunício Oliveira (MDB) terminou na frente, com boa diferença.

Ainda assim, Luizianne em 2008 e Roberto Cláudio em 2012 foram apoiados por Cid. Em 2016 e 2020, Roberto Cláudio foi reeleito e José Sarto (PDT) foi eleito sem apoio formal de Camilo. Porém, ambos eram os preferidos do então governador, que não fez campanha para Luizianne, a candidata oficial do partido. No 2º turno, Camilo entrou em campo pelos agora adversários.

1ª campanha de prefeito com Camilo

Este ano, aliás, foi a primeira eleição para prefeito da Capital que contou com envolvimento de Camilo desde o começo, depois de ele se tornar personagem de primeira grandeza na política cearense. Em 2012, ele chegou a ser pré-candidato pelo PT, que escolheu Elmano de Freitas — voltas que o mundo dá, escolhido uma década mais tarde por Camilo para concorrer a governador. Naquela ocasião, Camilo participou de atos de campanha a favor de Elmano contra Roberto Cláudio. Porém, não tinha a relevância de agora.

E agora foi determinante na campanha de Evandro Leitão (PT). Em 2016 e 2020, como relatado, atuou nos bastidores apenas nos bastidores no 1º turno. Na eleição passada, foi para o embate público com Capitão Wagner (União Brasil). Mas, campanha livre e aberta desde o começo só fez agora.

É a primeira vez que se testa a força de Camilo numa eleição na Capital depois de ele chegar a governador.

Publicada originalmente no portal O Povo +

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