De acordo com o Samir Magalhães, médico do Sono, a ausência do descanso regular podem acarretar problemas fixação ou resgate de memórias (Foto: Reprodução/Facebook)
Brenda Sanford, psicóloga e terapeuta comportamental, explica que “O tempo para a pausa é tão importante quanto o tempo para a produtividade. Pausas regulares permitem que o cérebro e o corpo se recuperem, promovendo a sensação de bem-estar, melhorando o desempenho e prevenindo o esgotamento, desenvolvendo um autocuidado”.
De acordo com o Samir Magalhães, neurologista e médico do Sono no Hospital Universitário Walter Cantídio, a ausência do descanso regular, a privação de momentos de relaxamento e sono, podem acarretar problemas relacionados à atenção, a fixação ou resgate de memórias no cérebro, tendo impacto na performance cognitiva do indivíduo.
Além dos problemas relatados, distúrbios psíquicos, segundo o médico, podem acontecer também. “A Privação de descanso pode ser um fator que leva ao favorecimento de problemas psiquiátricos. Outros fatores como genéticos e hereditários são muito importantes nessas condições psiquiátricas, ou seja, o indivíduo tem uma predisposição e os fatores precipitantes como a privação do descanso podem ser um gatilho”, explica Samir.
Para Juliana Murta, psicóloga e coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital de Saúde Mental de Fortaleza (HSM), a privação do descanso do corpo tem uma relação direta com o humor do indivíduo, considerando que o sono ruim é sinônimo de mau humor. “O descanso e o humor são inseparáveis e influenciam diretamente na maneira de agir, de responder a atividades estressoras, laborais, sociais e afins", argumenta a psicóloga.
É um consenso popular que a saúde mental e a saúde física tem relação entre si. Uma advogada que conversou com O POVO e preferiu não se identificar, disse que entre os sintomas que sentiu está a confusão mental, e taquicardia como consequência de uma ansiedade causada pelo excesso de atividades laborais no ambiente de trabalho.
Queixa muito parecida com as de Débora Barreira, trabalhadora do ramo da gestão de qualidade na área de alimentos, “Comecei a sentir falta de ar, taquicardia, não conseguia dormir, principalmente muita falta de ar e muita insônia”, disse a trabalhadora.
Débora considera que pessoalmente se cobrava muito, a dar resultados o que favoreceu o seu quadro de saúde. “Eu passava o final de semana no celular resolvendo as atividades, cinco da manhã meu telefone começava a tocar, às vezes dava meia-noite e eu estava resolvendo problema, final de semana eu estava resolvendo problema, foi quando eu me vi meio esse furação sem conseguir dormir, sem conseguir viver, sem conseguir dar atenção a minha filha”, disse ela.
O psiquiatra Helder Gomes, que também atua no HSM, considera que questões de pressão no trabalho são gatilhos para quadros ansiosos. “O ritmo que vivemos muitas vezes acelerado sem ter tempo para cuidar do nosso bem-estar com atividades que sejam positivas como exercícios físicos, medidas de relaxamento e um trabalho que toma uma carga horária cada vez maior, com um tempo cada vez menor para descanso, pode culminar no surgimento de transtornos ansioso”, explica o médico.
A neurologista Danielle Mesquita, que atende no Hospital Universitário Walter Cantídio, também considera que a falta de descanso e momentos de sono corretos, podem funcionar como gatilhos para quadros de ansiedade, depressão, burnout e outros problemas psíquicos.
“Havendo privação de sono, você também está suscetível a um maior estado inflamatório e pode haver uma piora de sintomas psiquiátricos. De fato, tem até uma correlação bidimensional e tanto a ansiedade, como a depressão podem estar relacionados a insônia (ausência do sono), como a insônia retroalimenta a ansiedade e a depressão”, disse Danielle.
É o que confirma o paciente Leonardo Petrus, que trabalha como autônomo no ramo de confeitaria, considerando que o aumento de problemas no trabalho e ausência de momentos de pausa, ocasionam o agravamentos de problemas relacionados à ansiedade. “Geralmente quando tenho algum problema pessoal ou no trabalho, agrava a minha ansiedade”, explica ele.
De acordo com Brenda Sanford, para se tratar de qualquer distúrbio causado pelo excesso de carga de trabalho, é preciso estar atento a sinais de forma precoce, como: falta de energia para realizar as atividades cotidianas, cansaço excessivo mesmo depois de uma noite de sono, sentimento de desesperança, perda de interesse em atividades que antes eram prazerosas, insônia, preocupação excessiva, sentir-se frequentemente agitado ou irritado, bem como outras mudanças no humor.
“Outro ponto importante é avaliar a carga de trabalho. Muitas vezes, partindo da crença de que ‘é preciso dar conta de tudo’, sendo esta disfuncional, passamos a exceder o ritmo de trabalho, nos levando a prejuízos físicos e mentais. Dessa forma, é válido certificar se a carga de trabalho é gerenciável e realista”, explicou a psicóloga.
Brenda explica que o desenvolvimento de uma rotina em que são promovidos hábitos saudáveis, como, sono adequado, atividade física, alimentação balanceada e pausas regulares, são cruciais para a promoção da qualidade de vida. “É importante, buscar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, aumentar a satisfação e manter uma relação saudável entre ambas as partes, uma boa opção é dedicar-se a atividades de lazer e ao fortalecimento de suas conexões sociais em sua rotina”, explicou a psicóloga.
Outro ponto que a psicóloga considera importante é o indivíduo aprender a delimitar limites e a dizer NÃO a si mesmo. “Aprender a dizer não nem sempre é fácil, mas estabelecer limites claros reduz o nível de estresse, diminui a sobrecarga e nos direciona ao que realmente é essencial e prioridade”, completa a profissional.
Débora Barreira disse que foi preciso pedir demissão do emprego e começar a prática de atividade física diária para conseguir mitigar os sintomas da ansiedade. “Através do esporte eu ocupei o meu tempo. Tanto com o surfe como com o crossfit. Diariamente eu ia para o treino do crossfit, depois ia para o treino de surfe, e à tarde, eu conseguia produzir”.
Segundo
a advogada que preferiu não se identificar, para se tratar dos problemas, “o
primeiro passo é procurar uma ajuda de um profissional, uma psicóloga ou
psiquiatra; isso para mim, com certeza, foi um fator muito importante para
minha melhora, além de buscar mudar a raiz dessa rotina tão atarefada”.
Tempo de cada um para o repouso
Mas diante desse quadro, quantos dias tirar de férias? Como descansar? Sobre as férias, Danielle Mesquita explica que essa também pode variar de acordo com o indivíduo e suas atividades laborais diárias. De acordo com ela, não existem estudos que diga quantos dias de descanso cada trabalhador precisa ter.
"Isso é uma questão muito individual, algumas pessoas precisam de uma quantidade de dias de descanso melhor para se sentirem restauradas, outras não. Então isso leva muito em consideração características individuais de cada um", argumenta a médica. Para Danielle, entre os profissionais que merecem atenção, estão caminhoneiros e profissionais de saúde que realizam plantões noturnos.
Para além do sono, o descanso também inclui momentos de relaxamento e lazer. Em relação a eles, Samir relata que a preferência por atividades de lazer diárias ou nas férias do trabalhador, podem variar de acordo com o gosto pessoal de cada pessoa.
De acordo com Samir Magalhães, o descanso regular diário, pode variar de acordo com cada indivíduo, existindo pessoas que precisam dormir mais horas ou menos. Conforme explica o médico, a maioria das pessoas precisa dormir entre sete horas e meia, a oito horas e meia, sendo a que a variação é possível a depender de quanto tempo o corpo de cada pessoa precisa para recompor suas funcionalidades de forma correta.
"As pessoas que têm a necessidade de tempo total de sono maior, são os dormidores longos, podendo dormir até dez horas; enquanto os que dormem seis horas são os dormidores curtos. Se esse indivíduo dorme às dez horas e ele consegue ter uma atividade de vigília normal, isso é plenamente possível porque são variações biológicas, cada pessoa tem o seu padrão", completou Samir.
Ainda de acordo o médico, as pessoas devem ficar atentas aos sinais do corpo e entenderem o quanto de descanso ele precisa para se recompor. Como é evidente para todos, o sono é parte integrante do descanso mental e físico. Mas como dormir bem? Segundo Samir Magalhães é importante priorizar o sono, organizar o ambiente, respeitar o tempo correto de sono. Além de evitar alimentos pesados à noite, bem como praticar atividade física após às 19 horas, ou se expor às telas pouco antes de dormir.
Já
ouviu falar em Burnout?
Talvez o nome ainda pareça estranho, mas ele é uma das causas mais recorrentes de problemas que afetam trabalhadores frustrados e exaustos do excesso de atividades no ambiente de trabalho. Uma síntese de sintomas mentais e físicos, o Burnout foi descrito pela primeira vez em 1974 pelo médico americano Freudenberger, e tem como sinais, dores de cabeça, cansaço no corpo, enxaqueca, dores musculares, problemas gástricos, dentre outros problemas.
O psiquiatra Helder Gomes, explicou que também são sintomas característicos da doença: a exaustão emocional, a frustração e falta de realização profissional, a sensação de agir como um robô durante a rotina diária. "Sem muita emoção, sem muito sentimento, simplesmente cumprindo a jornada de trabalho que nós temos", completou.
Em entrevista ao O POVO, a professora universitária e treinadora de líderes, Luana Segato disse que foi diagnosticada com a síndrome em 2018, porém já vinha de uma rotina estressante a alguns anos. Ela conta que trabalhava como administradora de uma rede de shoppings, e que muitas vezes precisava realizar de duas a três viagens de avião na mesma semana. "Foi um momento que eu tinha uma carga de trabalho muito grande e, por conta de alguns aspectos pessoais, como falta de autoconhecimento e gestão do tempo eu acabava não tendo momentos de recuperação", conta ela explicando questões de personalidade que favorecem o surgimento da doença.
Entre seus sintomas, Luana relata dores nas costas, dores de cabeça e dores gástricas. Ela explica que a cada dia, pelo menos uma das dores se fazia presente, e além destes, sintomas emocionais como frustração e irritabilidade. "Eu já sabia que eu não estava bem, meu marido falava algumas vezes pra mim que eu já estava no ápice de descontrole emocional em casa, de muita irritabilidade", diz ela lembrando também que sempre procurava medicação aos fins de semana em um hospital do bairro Jabaquara, na cidade de São Paulo, onde reside.
Luana conta os primeiros tratamentos: "Eu entendi que o meu ciclo, naquele ambiente, ele tinha se encerrado; então eu me desconectei". Ela relata ter procurado um profissional de medicina integrativa, para tratar o corpo como um todo, e não se medicar para cada tipo de dor que sentia.
Com um quadro mais agudo da síndrome. Luana explica precisou tomar medicamentos alopáticos, como antidepressivos e ansiolíticos. "Além de fazer bastante atividade física, tentei corrigir meu ciclo circadiano e conseguir dormir, ter a higiene do sono", acrescenta.
De acordo com Helder Gomes, vários fatores contribuem para o surgimento do Burnout, desde a jornada excessiva de trabalho, um ambiente de pressão ou competitividade, dificuldades com a chefia e frustração com relação à remuneração ou realização profissional.
O tratamento da síndrome pode variar de acordo com os sintomas e a intensidade em cada paciente.
Mulheres
sofrem mais com excesso de trabalho
Os estudos mais recentes, indicam que as mulheres são o principal grupo acometido por problemas relacionados a excesso de trabalho e falta de descanso, sejam eles a ansiedade ou a depressão. Na pesquisa Women in the Workplace de 2021, 42% das entrevistadas falaram ter algum sintoma característico do burnout.
Por motivos estruturais da sociedade humana, as mulheres e, particularmente as mães, além das suas atividades diárias no ambiente de trabalho, ainda trabalham com a casa, e administram a rotina dos filhos, uma combinação que precisa ser vista com atenção.
O
psiquiatra Helder Gomes, destaca que as mulheres são as pessoas mais afetadas
por problemas de estresse no trabalho. "As mulheres muitas vezes têm a
pressão de ser uma boa trabalhadora, uma boa pessoa em casa, uma boa esposa,
uma boa mãe, cuidar da família, e também ter seu rendimento financeiro",
explica o médico.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
Leia também:
Insônia pode ser sintoma de depressão, diz estudo
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