8 de maio de 2024

Prevenir desastre não dá Ibope, por Érico Firmo

Centro de Porto Alegre inundado (Foto: Florian Plaucheur)

Governo do Rio Grande do Sul, Prefeitura de Porto Alegre, Governo Federal e Congresso Nacional têm sido cobrados pela falta de investimentos em prevenção de desastres. As chuvas têm sido tão extremas que duvido muito que fosse possível evitar a tragédia. Mas, além de atenuar, ao menos se poderia alegar que foi feito o possível — e definitivamente não foi o caso. Daria para terem feito mais, todos os entes.

A Prefeitura, conforme o Portal da Transparência, diferentemente de anos anteriores não destinou nenhum recurso para “melhoria no sistema de proteção contra cheias”.

No Estado, são destinados R$ 115 milhões para enfrentar eventos climáticos, de um orçamento de R$ 83 bilhões. Não chega a 0,15%. O problema não é apontado de agora. Em novembro do ano passado, o ótimo site de notícias independente Sul21 já expunha a situação, e destacava que o governo gaúcho considerava o montante “robusto”.

No âmbito federal, o orçamento para prevenção a desastres cresceu bastante em relação a 2022, quando o governo Jair Bolsonaro (PL) deixou o menor valor previsto em 14 anos. Porém, os R$ 2,6 bilhões para este ano ficam muito abaixo dos R$ 4,3 bilhões orçados dez anos atrás, no orçamento para 2014, conforme mostrou O Globo. Isso sem considerar a inflação do período, que não foi pouca. E apesar de as ocorrências relacionadas ao clima virem em alta constante.

No Congresso Nacional, dos 31 deputados federais e 3 senadores do Rio Grande do Sul, houve apenas uma que destinou emendas ao orçamento para prevenção de desastres, mostrou o site Congresso em Foco. Foi a deputada Fernanda Melchionna (Psol). Maria do Rosário e Reginete Bispo (ambas petistas) destinaram valores para educação ambiental.

Na Câmara como todo, de 513 deputados federais, apenas uma no Brasil inteiro apresentou emenda para ações relacionadas a mudanças climáticas, conforme levantamento do UOL. Foi também uma parlamentar do Psol: Célia Xakriabá (MG).

Por que não se previne

É vergonhoso, de todos os lados. Mas há razões políticas para isso. Quando se investe em prevenção de desastres, se tudo der certo, não se vê o resultado do dinheiro aplicado. Na melhor das hipóteses, a população nem percebe o trabalho pfreventivo realizado. Tal qual um seguro, é uma despesa que se faz e se espera nunca precisar usar.

E, quando a prevenção a desastres é necessária, também não rende dividendos políticos. Ninguém fica satisfeito com um desastre pequeno, uma tragédia atenuada. A ideia de que "poderia ter sido pior" não é algo que se costuma comemorar. A agenda é, necessariamente, negativa. Talvez o governante colha mais dividendos de coletinho, capacete na cabeça, água pela cintura, mostrando serviço depois de a catástrofe consumada.

Costuma-se dizer que político não investe em saneamento porque a obra é debaixo da terra e as pessoas não veem. Prevenção — seja de desastre, de criminalidade ou de doença — não são despesas midiáticas. As pessoas cobram quando sofrem, mas não acham que estão seguras e saudáveis por causa de políticos — e estão certas, ainda que o governo tenha importantes obrigações para que isso ocorra.

Em resumo, governos são avaliados pelo que fazem, não pelo que evitam — até porque nem sempre fica evidenciado. Vale o que acontece, não o que deixa de acontecer.

Mas, se a visão é um pouco menos estreita, governantes ganham, sim, com uma sociedade menos violenta e mais saudável. E, se desastres não acontecem, eles deixam de perder, e muito.

Não fecharam a porta nem depois de roubados

A falta de prevenção no caso do Rio Grande do Sul é particularmente mais chocante. Comentei ontem, o Estado vem de um ano repleto de eventos extremos. As chuvas de setembro passado eram o pior desastre natural da história do Estado, até serem superadas agora. Fala-se que brasileiro só fecha a porta depois de roubado. No caso, houve o saque e a porta seguiu escancarada.

Publicado originalmente noportal O Povo +

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