Compras da Páscoa no Mercado São Sebastião em Fortaleza (Foto: Fábio Lima) |
A Quinta-Feira Santa, ponto facultativo, pode ou não ser dia de expediente a depender do seu ramo de trabalho. A Sexta-Feira da Paixão, no entanto, é feriado para todos. Mas engana-se quem acha que descansar na data é uma escolha unânime.
No Mercado São Sebastião, em Fortaleza, o movimento na manhã de ontem era indistinguível de um dia útil. Considerando que muitos dos clientes estavam justamente aproveitando o feriado para fazer compras, em alguns aspectos a lotação talvez fosse até maior que a de uma semana regular.
A equipe do O POVO chegou ao local por volta das 7h30min, já constatando o ânimo de vendedores e compradores. O local abre às cinco da manhã. Nas barracas e prateleiras, produtos tão distintos quanto acessórios para celular e temperos. Mas a parte mais disputada, sem dúvida, era a dos peixes.
Não que houvesse muito espaço no mercado como um todo: os corredores estreitos abarcam, com dificuldade, duas pessoas por vez. Portanto, é comum trocar, com desconhecidos, um contato físico breve, quando, por exemplo, uma repórter e um fotógrafo avançam em uma direção e uma família inteira, com sacolas de compras, vem no sentido oposto.
Voltando aos peixes, no mínimo uma dúzia de pessoas, via de regra mais, se aninhava em frente a cada um dos quiosques. A oferta era farta. Não havia uma disputa pelo estoque restante. Difícil mesmo é conseguir a atenção do vendedor para fazer o pedido — na maioria dos boxes há apenas um responsável pelo atendimento aos clientes, enquanto duas ou três outras pessoas cortam, descamam e evisceram os pescados.
Trocar algumas palavras com os próprios peixeiros é um pouco mais fácil. E era nesta dinâmica que Jaime Nogueira, enquanto limpava a pele de um dos animais ou retirava a cabeça de outro, lamentava que as vendas de 2024 estão mais escassas que as do ano passado.
Ele pontuou também que nesta Páscoa muitas pessoas decidiram antecipar a compra tradicional do peixe. Jaime não arrisca um palpite sobre a razão da mudança. Um indicativo seria o da coincidência da Semana Santa com o fim do mês, o que pode ter influenciado a decisão de ao menos parte dos clientes.
Mesmo entre aqueles que não observam a Quaresma, o consumo dos pescados em ao menos um dos dias da Semana Santa é comum. Há quem aproveite, no entanto, para conseguir bons preços na carne vermelha, produto do qual também não faltavam vendedores, nesta sexta-feira, no Mercado São Sebastião.
Adson Bruno, que há sete anos oferta cortes bovinos no local, pontua que o preço está mais atraente que o dos peixes. Pela lei da oferta e da demanda, tanto os pescados — e uma boa quantidade de boxes também vendia camarões — ficam mais caros com a maior procura, quanto as carnes vermelhas acabam mais baratas pela necessidade de movimentar o estoque, especialmente considerando que os produtos são altamente perecíveis.
Para Adson, aparentemente, tem funcionado. Ao contrário do vendedor de peixes ouvido pelo O POVO, o comerciante de carne vermelha notou um aumento nas vendas em comparação com 2023. Mas não o suficiente para reverter o que, segundo ele, "é uma das piores semanas do ano". O jeito é esperar até depois da Páscoa.
Para além da proteína animal, produtos tradicionais do Ceará compõem a mesa do almoço nesta época. "Feijão verde com peixe!", propõe animado um vendedor da leguminosa. Os sacos, de um quilo cada, saem por R$ 20.
A autônoma Nilda Araújo olha os pacotes e considera a oferta. O peixe, já na sacola, aguarda quais serão seus acompanhamentos. A única certeza até aquele momento, disse ela, era a salada de verduras.
Na mesma barraca, outro vendedor oferece cheiro-verde a uma potencial cliente. Ela ouve o preço, de R$ 3, e se assusta. "A unidade?", diz, incrédula, ao que o comerciante confirma. Descontente, ela sai em busca de outro local para comprar o pacote que une um maço de cebolinha e um de coentro.
Logo ao lado estão as lanchonetes, onde são vendidos os carros-chefe do local: buchada e panelada. Alguns indicam como o remédio perfeito para evitar a ressaca após uma noite "intensa". O segredo, dizem os defensores do método, é esticar a festa até de manhã e, na volta para casa, fazer uma parada no Mercado São Sebastião para consumir uma porção generosa do prato.
No pátio que liga os dois prédios principais do Mercado, um grupo de teatro apresenta uma versão resumida da Paixão de Cristo. Alguns clientes dão uma pausa nas compras para assistir à encenação.
Outros aproveitam o tempo do espetáculo para escolher, com filas menores, mais produtos para o almoço de celebração. Das abóboras e pimentas de cheiro às garrafas com manteiga da terra, o objetivo é enriquecer a mesa para receber a família.
Com informações portal O Povo +
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