Dom Gregório Paixão participou do lançamento da campanha em Fortaleza (Foto: Fábio Lima) |
Em Fortaleza, para dar início às programações da CF, um evento de lançamento foi realizado no Centro de Pastoral "Maria, Mãe da Igreja", no Centro. Na ocasião, o arcebispo de Fortaleza, dom Gregório Paixão, declarou que o tema da Campanha deste ano é de fundamental importância no atual contexto do País e mundial.
“É fundamental que a gente coloque o nosso coração para enxergar o outro como um irmão, não como adversário. É fundamental enxergar toda a pessoa humana como alguém que está aqui, apesar de talvez pensar ou agir diferente da gente, como uma possibilidade”, explica o arcebispo.
Descrevendo a sociedade como “adoecida”, a Campanha ainda lista sintomas maléficos que devem ser combatidos. Entre eles estão: as redes sociais como espaço para mensagens discriminatórias e abusivas; famílias divididas por conflitos ideológicos; crimes como racismo, feminicídio e assédio; a aversão do outro e a crise do hiperindividualismo.
Sobre uma das temáticas que mais devem ser debatidas durante a CF 2024, dom Gregório explica que conflitos decorrentes da polarização política e social sempre existiram. Contudo, as redes sociais os intensificaram.
“As pessoas têm o direito de eleger quem desejam e devemos respeitar essas escolhas. Não podemos enxergar aqueles que pensam diferente como inimigos. O ciclo é: primeiro a gente tem raiva, depois a gente começa a enxergar o outro como adversário e, depois, começa a vê-lo como inimigo. Antes de querer matar o outro, nós já o matamos no coração”, elucidou Dom Gregório, durante coletiva de imprensa.
A temática ocorre um ano após a Campanha da Igreja Católica ser fortemente criticada por cristãos extremistas de direita. Na época, com o tema “Fraternidade e fome”, a edição de 2023 foi apontada como um modelo de conspiração comunista. Grupos conservadores teriam influenciado outros fiéis a não participarem e não realizarem doações para a campanha.
No texto bíblico que inspira o lema da CF 2024, escrito pelo Apóstolo Mateus, Jesus censura os fariseus e doutores da Lei que se serviam da religião judaica para assegurar os seus próprios interesses. Aos que se consideravam superiores aos outros por causa de sua religiosidade, Jesus declara: “Vós sois todos irmãos e irmãs…”.
60
anos de Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade surgiu em 1964 para celebrar a Quaresma. Além das orações e do jejum, o objetivo é "exercitar a caridade associada à reflexão e ação sobre um tema específico"
Entre as ações realizadas durante a CF de 2024, estão a promoção de reflexões sobre o tema da Campanha em celebrações comunitárias, catequeses, reuniões, em pastorais, movimentos sociais, associações, escolas e universidades, dentre outros.
“Nós desejamos dialogar com o universo político, com a grande sociedade, além de estar presente com esse tema dos ambientes escolares e universitários. Queremos também, principalmente, envolver [o tema] na vida de toda a igreja, de todos os cristãos”, concluiu o arcebispo de Fortaleza.
Recursos
coletados em 2023
A Campanha da Fraternidade termina, todos os anos, no Domingo de Ramos. Também de forma tradicional, a data marca o dia da Coleta Nacional da Solidariedade, que reúne doações destinadas a projetos sociais e religiosos. Em 2023, segundo a Arquidiocese de Fortaleza, o Ceará coletou um total de R$ 216.768,84.
Destes, 60% (R$ 126.037,30) foram repassados ao Fundo Diocesiano de Solidariedade. Outros 40% (R$ 90.731,54) foram enviados ao Fundo Nacional de Solidariedade.
Para a abertura da Campanha da Fraternidade, o papa Francisco emitiu sua tradicional mensagem desejando que a ação auxilie as pessoas e comunidades do Brasil. Ele convidou os fiéis a “construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas”.
Confira a carta do Papa Francisco na íntegra:
Queridos irmãos e irmãs do Brasil,
Ao iniciarmos, com jejum, penitência e oração, a caminhada quaresmal, uno-me aos meus irmãos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil num hino de ação de graças ao Altíssimo pelos 60 anos da Campanha da Fraternidade, um itinerário de conversão que une fé e vida, espiritualidade e compromisso fraterno, amor a Deus e amor ao próximo, especialmente àquele mais fragilizado e necessitado de atenção. Este percurso é proposto cada ano à Igreja no Brasil e a todas as pessoas de boa vontade desta querida nação.
Neste ano, com o tema "Fraternidade e Amizade Social" e o lema "Vós sois todos irmãos e irmãs" (cf. Mt 23, 8), os bispos do Brasil convidam todo o povo brasileiro a trilhar, durante a Quaresma, um caminho de conversão baseado na Carta Encíclica Fratelli tutti, que assinei em Assis, no dia 3 de outubro de 2020, véspera da memória litúrgica de São Francisco.
Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas.
Infelizmente, ainda vemos no mundo muitas sombras, sinais do fechamento em si mesmo. Por isso, lembro da necessidade de alargar os nossos círculos para chegarmos aqueles que, espontaneamente, não sentimos como parte do nosso mundo de interesses (cf. FT 97), de estender o nosso amor a "todo ser vivo" (FT 59), vencendo fronteiras e superando "as barreiras da geografia e do espaço" (FT 1).
Desejo que a Igreja no Brasil obtenha bons frutos nesse caminho quaresmal e faço votos que a Campanha da Fraternidade, uma vez mais, auxilie às pessoas e comunidades dessa querida nação no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, superando toda divisão, indiferença, ódio e violência.
Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, e como penhor de abundantes graças celestes, concedo de bom grado a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham pela fraternidade universal, a Bênção Apostólica, pedindo que continuem a rezar por mim.
Roma, São João de Latrão, 25 de janeiro de 2024, festa litúrgica da conversão de São Paulo Apóstolo.
Com informações portal O Povo +
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