6 de janeiro de 2024

O que a direita condena no 8 de janeiro é ter dado errado, por Érico Firmo

Senadores de oposição divulgaram um manifesto no qual reagem ao ato organizado pelos Três Poderes para marcar um ano da intentona (Foto: Gabriela Biló)

Passado um ano, a direita brasileira tem postura de desfaçatez em relação ao 8 de janeiro. Foi um levante golpista, violento e destrambelhado. Representantes desse campo político com mandato fingem que nada têm a ver com isso, responsabilizam o governo que foi alvo, ao mesmo tempo que defendem os réus, num rompante de direitos humanos, inusitado da parte de quem nunca foi disso. Senadores dessa ala ideológica tiveram a pachorra de divulgar um manifesto no qual reagem ao ato organizado pelos Três Poderes para marcar um ano da intentona. Chegam a dizer que “a volta à normalidade democrática não pode mais esperar”.

Até dizem condenar os atos golpistas, num negócio da boca para fora, que não para em pé diante das posturas públicas. Um dos argumentos é que o levante não teria como tomar o poder. É verdade, mas burrice, incompetência e incapacidade hermenêutica não são álibis. Não se livra de punição quem tenta executar um crime e falha. Para uma turma que queria curar Covid-19 com cloroquina, não é absurdo tentar derrubar governo daquela maneira. Para alguns que dizem repudiar o 8 de janeiro, a verdadeira ressalva que fazem é a ter fracassado.

A teoria de Ciro e a prática

Em entrevista outro dia à Globonews, Ciro Gomes (PDT) criticou a reforma tributária, mas foi questionado por Mario Sergio Conti sobre como fazer diferente com o atual Congresso Nacional. O ex-ministro e ex-governador ensinou: precisa mudar a relação com os parlamentares. Além disso, propôs reestruturar a dívida de todos os estados e municípios, em troca da mediação de governadores para fazerem alinhamento das bancadas para aprovarem a reforma. A ideia é boa.

Mas, era Ciro mesmo quem recomendava olhar o que ele fez no Ceará, e ouvir a opinião dos cearenses sobre ele, para referenciar o que pretendia fazer no Brasil. Não sei se ele ainda sugere isso depois da votação que recebeu em 2022.

Bom, mas imaginemos Ciro Gomes na busca de uma relação diferente com o Congresso. E vejamos como está a relação dele com os deputados federais do partido dele. De cinco, quatro participam das articulações para deixar o PDT. Não vou nem falar do senador pedetista cearense, o irmão dele, Cid Gomes. Se Ciro tem tanta receita sobre relação com o Congresso, podia mostrar essa capacidade toda com o pessoal do partido dele, no estado dele.

Ah, mas atenderia os governadores. Boa iniciativa. Mas, há alguns problemas. Os chefes do Poder Executivo estadual hoje não têm a mesma ascendência de anos atrás sobre as bancadas. Reflexo das emendas impositivas. No Ceará, desde que Camilo Santana (PT) estava no Palácio da Abolição, o governador não consegue acordo nem para destinar emendas de bancada, que dirá aprovar projeto alheio.

Aliás, vale lembrar como este Ciro, que fala em articulação com os governadores, relacionou-se com os últimos chefes do Poder Executivo no Ceará: é oposição a Elmano de Freitas (PT), rompeu com Izolda Cela (sem partido), brigou com Camilo, brigou recentemente com o irmão dele, Cid Gomes, e rompeu com Lúcio Alcântara. Com o amigo e ex-padrinho político Tasso Jereissati (PSDB) também chegou a romper, em 2010, e só se recompôs uma década depois. Afora mandatos tampões que houve no meio, o governador anterior foi o próprio Ciro e, antes, também havia sido Tasso. Antes foi Gonzaga Mota, com quem Ciro também rompeu, junto de Tasso. Para trás era o período da ditadura e Ciro não tinha mandato.

Com Tasso e Cid, as brigas foram quando eles não estavam mais no governo, mas fica a amostra. O Ciro, que apostaria em articulações com os governadores para aprovar um importante projeto, rompeu com todos os governadores eleitos no Estado desde que está na política, vão-se mais de 40 anos. Só não rompeu com ele mesmo, e olhe lá.

Com informações portal O Povo +

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