2 de janeiro de 2024

O que as forças políticas do Ceará irão buscar em 2024

José Sarto será candidato a reeleição e já enfrenta oposição da direita e extrema direita (Foto: Reprodução/Facebook

Em inícios de ano é comum fazer planos e traçar objetivos para o futuro, mas também é usual, com o decorrer do tempo, que parte das metas sejam alteradas ou fiquem pelo caminho. Na política, não é diferente. 2024 será decisivo para partidos e lideranças do Ceará, com uma eleição que pode reconfigurar a distribuição das forças políticas no Estado.

Com a disputa por prefeituras e pelas vagas nas Câmaras Municipais, legendas e lideranças buscarão se consolidar, a fim de expandir a influência de seus grupos (ver quadro). Dentre esses atores políticos estão o ex-governador e ministro da Educação, Camilo Santana (PT), o senador Cid Gomes (ainda no PDT e perto de ir para PSB), o grupo do ex-ministro Ciro Gomes (PDT), que conta com o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) e com o prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT); a oposição liderada por Capitão Wagner (União Brasil); o bolsonarismo representado pelos deputados André Fernandes e Carmelo Neto, ambos do PL.

Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), trata o ano que se avizinha como um "divisor de águas" no Ceará. "Há muita expectativa nesta eleição, para sucesso ou fracasso de estratégias e de grupos políticos. Acredito que a consolidação da força do Camilo poderá ser mais sentida a partir desta eleição, que é quando veremos as prefeituras que seus aliados vão conquistar, o tamanho do PT, a expressividade do PT, do PDT, do PSB, que deve acolher o Cid, do União e do PL".

Camilo buscará consolidar-se como força hegemônica no Ceará e tentará fazer do PT a sigla com o maior número de prefeituras no Estado. No ano passado, o petista deixou o governo com boa aprovação e foi o principal puxador de votos na campanha do atual governador, Elmano de Freitas (PT), que venceu a disputa ainda no primeiro turno. A eleição de 2024 será crucial no sentido de consolidar, ou não, o camilismo.

Cid Gomes, que parte do mesmo grupo de Camilo e Elmano, deverá buscar manter a relevância política e a coesão dentro do grupo de prefeitos e deputados por ele liderado, ao passo em que tenta sedimentar um novo destino - ao que tudo indica o PSB. Cid tem sofrido reveses em meio à indefinição, com aliados e ex-filiados do PDT, como Evandro Leitão (PT) e prefeitos do interior, se antecipando e se filiando a outras legendas.

Monalisa avalia que o cidismo perdeu espaço ao longo dos anos, embora continue relevante. "Cid vem perdendo espaço, ainda que com o cargo de senador, muito embora sua influência construída ao longo de anos ainda lhe garanta relevância. Esse processo de saída do PDT é parte do esforço para manter-se relevante. Influenciando, fazendo tratativas. Não à toa, ele ficou chateado quando Evandro se filiou sozinho ao PT, meio que se descolando dele. Isso foi uma variável que fez com que o cálculo precisasse ser refeito".

Ex-aliados do governismo estadual, RC e Sarto vão trabalhar para preservar a relevância do PDT no Estado. O partido, campeão em prefeituras conquistadas em 2020, deve sofrer baixas com a saída iminente de mais de 40 prefeitos ligados a Cid, mas já se articula para dialogar com novos atores nos municípios que antes governavam. André Figueiredo e Ciro Gomes são lideranças importantes nessa tentativa de aglutinar novos quadros ao partido.

Torres cita que para o grupo de Ciro, com apoio de André e do presidente licenciado Carlos Lupi, 2024 trata-se de manter e "conquistar espaços". Neste cenário, Fortaleza passa a ser prioridade para o PDT local e Nacional, com Sarto pré-candidato à reeleição na Capital.

Do lado da oposição, a Prefeitura de Fortaleza entra, novamente, na mira. Candidato em outras duas oportunidades, Capitão Wagner começará o processo eleitoral como principal nome desse grupo, embora, desta vez, uma divisão na direita esteja em curso, com a pré-candidatura de André Fernandes (PL), apoiada por Bolsonaro, já posta. Sobre Wagner, Monalisa Torres avalia que a prefeitura significaria uma "ascensão para esferas maiores".

"Wagner virá com muita força e tentará compor com as outras forças. Já tem um eleitorado fiel, mas é preciso observar se não haverá divisão de votos", reforça. Embora tenha sido derrotado na eleição de 2022, Wagner foi o candidato mais votado na Capital, com pouco mais de 600 mil votos.

O Capitão tem como desafio se confirmar como principal força da oposição, num cenário em que o bolsonarismo lançará um nome e disputará espaço pela primeira vez com um representante "puro-sangue" e com o senador Eduardo Girão (Novo) entrando na disputa.

Sobre essa ampliação de nomes, Torres aponta que serve para mensurar a força de cada ator. "Vejamos como se saem nas pesquisas, qual o tamanho do eleitorado e a partir dessa aferição será possível negociar. Seria desastroso para a oposição pulverizar votos".

A analista projeta que 2024 também será uma prévia de 2026: "O mandato de Girão acaba em 2026. 2024 é uma tentativa de medir sua aceitação e rejeição. Será importante esse teste. Para ele, a preocupação maior seria a reeleição. Já para o bolsonarismo, que continua forte, principalmente no Congresso, lançar nomes faz parte dessa dinâmica de ampliação da base eleitoral; é pensar as eleições locais mirando as nacionais", conclui

Com informações portal O Povo +

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