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30 de janeiro de 2024

À porta dos Bolsonaros, por Érico Firmo

Desde o tempo que estava no poder o ex-presidente Bolsonaro demonstrava temor de que ele e seus filhos fossem atingidos por investigações (Foto: Reprodução/Facebook)

A acusação que levou a Polícia Federal a bater à porta da família Bolsonaro é de uso político da estrutura de inteligência governamental contra adversários políticos, com objetivo, em última instância, de permanecer no poder.

É atingido um ponto reconhecidamente sensível para o ex-presidente, os filhos. Em público e reservadamente, desde que estava no poder ele demonstrava temor de que eles fossem atingidos por investigações.

Naquele 22 de abril de 2020, na reunião ministerial que pareceu uma versão hiperbólica, sem talento e sem graça da “Escolinha do Professor Raimundo”, o então presidente dizia da preocupação: “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”.

Nos dias que se seguiram, Bolsonaro trocou o superintendente da PF no Rio de Janeiro, o diretor-geral da PF e o ministro da Justiça e Segurança Pública — no caso, Sergio Moro, que saiu acusando o presidente de tentar interferir na PF. Depois, na campanha eleitoral, estava Moro ao lado daquele a quem acusou de algo tão grave.

Carlos Bolsonaro é aquele com a posição menos relevante entre os Bolsonaro com mandato. Mas, é tido como o mentor da estratégia de redes sociais do pai, a razão da relevância política alcançada pela família. No dia da posse, ele foi no Rolls-Royce presidencial, com o pai e Michelle Bolsonaro. A investigação atinge Bolsonaro de maneira sensível tanto pessoal quanto politicamente.

A operação escancara um problema evidenciado ao longo do mandato de Bolsonaro: a ascendência dos filhos sobre o governo, o acesso a instrumentos oficiais e espaços de poder. No caso de Carlos, ele era apontado como ausente do mandato, na Câmara do Rio de Janeiro, enquanto despachava recorrentemente em Brasília. Filho não é cargo e as funções públicas cabem aos agentes designados para tal.

Essa informalidade, a mistura entre ambiente doméstico e o espaço de governo e o uso do público pelo interesse privado são a razão de os Bolsonaro se complicarem.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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