A preocupação do presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos do Ceará, Eduardo Sávio Martins, é que os oceanos nunca estiveram tão quentes (Foto: Reprodução/Funceme) |
A
intensidade deste El Niño, iniciado em fevereiro, tem projetado perfil de
moderado a forte, mas os indicadores não descartam que ele possa alcançar o
perfil de um super El Niño (termo usado pelos pesquisadores), como foram os de
2016 e 1983. E o temor é que isso possa repercutir também nas quadras chuvosas
dos anos seguintes, mesmo que nem haja cenários lançados ainda para 2025. É uma
perspectiva lançada por quem monitora o globo terrestre diariamente.
Ontem, durante reunião ordinária do Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conerh), órgão que coordena e fiscaliza a execução da política de recursos hídricos, o consenso entre meteorologistas e gestores de águas no Ceará é de que no ano que vem se abrirá um novo período de estiagem severa. Com repercussão muito desfavorável na recarga dos açudes do Estado. Choverá pouco, não haverá boa reposição nas barragens.
A informação é confirmada pela Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por acompanhamento em várias bases de dados, e pelos técnicos da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). Durante o encontro, realizado na sede da Cogerh, os dois órgãos apresentaram as "Perspectivas das implicações do El Niño no semiárido nordestino" e a "Situação do aporte hídrico no Ceará".
Se será um ciclo tão longo e grave de estiagem, como foi de 2012 a 2018, não é possível confirmar previamente. Aquela foi a pior seca da história, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No Ceará, foram sete anos, a mais longa já registrada; chegou a seis anos em grande parte do Nordeste.
Ainda não é possível cravar como serão as chuvas de 2024. A previsão oficial da quadra chuvosa, que vai de fevereiro a maio, só será anunciada na segunda quinzena de janeiro. A pré-estação, entre dezembro e janeiro, também deverá ser impactada.
Na descrição do presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, com o El Niño medido por trechos do Pacífico, "quando é mais próximo da costa oeste da América do Sul, o atual El Niño se iguala ao de 2016, se mais distante dessa costa oeste, (a intensidade) é mais próximo ao de 1983". E reforça: "De todo modo, muito ruim em termos de total pluviométrico para a quadra. Em termos de recursos hídricos, aportes serão muito baixos".
Segundo Martins, os oceanos nunca estiveram tão quentes. As informações são de pelo menos seis modelos e sistemas de acompanhamento no globo terrestre, em séries comparadas por mês e trimestre. As águas do Atlântico Norte, que mesmo não sendo tão influentes poderiam amenizar esses efeitos, também estão muito mais aquecidos do que o normal e agravam os cenários para 2024.
"O hemisfério norte está todo aquecido. Se isso aqui continuar, acho difícil, com essa amplitude atual, a gente reverter, os ventos alísios dos hemisférios norte e sul vão convergir mais ao norte. A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) vai ficar longe (do continente) e não produzirá chuvas para o Nordeste e o Ceará. É por isso que a Amazônia está na seca grande. A ZCIT está lá em cima", detalha.
Desde 2016, uma nova cor precisou ser incluída nos gráficos internacionais com as medições de temperatura da superfície dos mares (TSM). Até então, a maior anomalia (desvio) usava o bordô para mostrar 3°C acima da média. Agora, a cor oliva confirma que a escala dos registros piorou.
Foram
registrados seis El Niños fortes e dois "super" desde 1950
Na série temporal monitorada desde 1950, o registro feito é de que seis El Niños entraram na categoria de "fortes". As informações são da Funceme. Os anos foram 1957/1958, 1972/1973, 1982/1983, 1991/1992, 19987/1998 e 2015/2016.
É neste grupo que o fenômeno de 2023/2024, já consolidado, entra como novo caso de grande intensidade. Pelo menos três desses foram classificados como "Super El Niños", em 1982/1983, 1997/1998 e 2015/2016.
O El Niño é confirmado quando o índice Oceanic Niño Index (ONI) supera valores de 0,5°C por cinco trimestres consecutivos e sobrepostos. Em relação à intensidade, considera-se a anomalia média da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) na porção central do Pacífico Equatorial (chamada Niño 3.4) no trimestre Dezembro-Janeiro-Fevereiro.
Para o fenômeno ser descrito como forte, as anomalias médias de TSM na região do Niño 3.4 devem passar de 1,5°C.
Em 2023, a TSM do trimestre agosto-setembro-outubro chegou a 1,5°C na região do Niño 3.4. Em outubro, o valor foi de 1,54°C, indicando mais um El Niño de moderado a forte. Que deverá ser atuante até abril de 2024. Os técnicos da Funceme dizem que ainda é cedo para apontar um novo super El Niño (TSM acima de 2°C). Mas a quadra chuvosa será afetada.
Com
informações portal O Povo +
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