Estudantes da Escola Padre Luís Filgueiras na Caminhada Antirracista em Nova Olinda (Foto: Lucélia Muniz) |
Com o tema “20 anos da lei 10.639/2003 – educação, resistência e equidade racial”, o evento foi aberto pela manhã com uma grande “caminhada antirracista” pela valorização da história e cultura dos povos negros e originários do Brasil, vindo a percorrer as principais ruas da cidade.
O objetivo com a caminhada é sair dos quatro muros da escola e das quatro paredes da sala de aula e fazer a aula nas ruas. A ideia era estabelecer um diálogo com a população e com as outras escolas do município de Nova Olinda para que juntos, refletissem sobre a importância de contar outra história dos povos negros e dos povos originários diferente desta se percebe nos livros. Queremos trazer uma história não de quem dominou e escravizou, mas a história de quem lutou, resistiu e que contribuiu e contribui para a formação do nosso país. Queremos contar uma historia do povo negro e dos povos indígenas na visão deles próprios.
Durante
todo o percurso que teve paradas estratégicas, como em frente as escolas da
rede municipal, Padre Cristiano Coelho e Avelino Feitosa e em frente à sede da
Prefeitura, o público acompanhou dados de pesquisas realizadas com estudantes e
educadoras/es, como a que tratou sobre o quantitativo de pretos, pardos e
indígenas. 76,5% dos estudantes são negros e 1,8% se reconhecem como indígena.
Os dados também mostraram que 67,6% das professoras e professores são negros e
5,9 dos professores são indígenas.
Blocos divididos por temáticas também fizeram parte da caminhada, a exemplo do “Identidade”, “ancestralidade”, onde as religiosidades e a capoeira deram a tom. No “personalidades”, a escola homenageou nomes pertencentes as etnias dos povos originário e povos negros. “Quantos homens e mulheres negras e indígenas aparecem nos livros que você estuda? Quantas lideranças; quantos escritores e escritoras; quantos reis e rainhas, caciques e pajés aparecem nas suas aulas? Foram alguns dos questionamentos feitos. As indígenas cearenses Tereza Kariri e Merremii Jaguaribaras e indígenas reconhecidos por suas lideranças até fora do Brasil, como Raoni, Ailton Krenak e Sônia Guajajara estiveram nesse bloco. Quanto a negros/as, Abdias do Nascimento, Oliveira Silveira, Maria Felipa, Dandara e a cearene Tia Simoa marcaram presença entre estudantes.
Pensar os povos indígenas somente nas aldeias é uma visão do passado. Os povos indígenas são muitos por aqui e possuem diferenças entre si. Eles estão em todos as partes do Brasil e não somente nas aldeias. O lugar onde vivem não é apenas uma moradia, mas um lugar território que precisa ser protegido. E eles estão em todos os lugares e ocupando várias posições. São médicas, advogados, professoras, lideranças políticas, escritores e escritoras. O bloco dos povos originários – “Afirmação” e o bloco “artefatos indígenas” disseram muito sobre isso.
Quem foi às ruas de Nova Olinda na manhã de segunda também acompanharam o reisado da mestra Angelina Umbelina. Nova Olinda é uma terra indígena e uma das tradições que demonstra isso é o reisado. Mesmo sabendo que a origem da folia dos reis tem base portuguesa e espanhola, no Brasil ela chegou durante a colonização e há pesquisadores que afirmam que a folia dos reis foi usada para catequisar os povos indígenas. O Fato é esta manifestação cultural vem sendo sustentada e é um dos elementos da identidade indígena. Dona Angelina Umbelina, a mestra Angelina, fundadora do Grupo de Danças Tradicionais e que ao longo dos anos vem atuando para fortalecer essa cultura em solo novo-olindense, realizou apresentações do grupo junto ao grupo jovem.
No período vespertino, estudantes se deslocaram para o Teatro Violeta Arraes - Engenho de Artes Cênicas para acompanhar a palestra do professor Dr. João Luís do Nascimento Mota, o professor Mota, da URCA. Mota alou sobre a temática “a luta do negro e a negritude”. Em uma linguagem simples e direta, ele destacou sua origem de luta e ativismo em São Tomé e Príncipe, um país africano, até sua vida dedicada aos estudos no Brasil onde correlacionou com a luta pela inclusão da história da população negra na educação. Mota é Doutor pelo Programa de doutorado em Direito Econômico e Sócio Ambiental da PUCPR (PPGD) e atualmente é professor da Faculdade de Juazeiro do Norte e professor associado do quadro efetivo da Universidade Regional do Cariri.
A palestra de Mota foi aberta o coral da Escola Padre Luís Filgueiras que cantou o hino sul-africano dialético Zulu. Entre uma apresentação e outra, o público assistiu o designer gráfico, agora as faces do movimento negro com a apreciação de nomes importantes, como Abdias Nascimento.
“Antes das pessoas querem ver a capoeira numa olimpíada, a capoeira precisa estar em todas as escolas, porque é um instrumento educacional, social, desenvolvedor de vários saberes e as pessoas pouco conhecem.” Essa frase, muito certa por sinal, foi dita pelo mestre Coala. E foi com ela que o grupo de capoeira da PLF encantou o público.
Temas caros ao Brasil, sobretudo para negros e indígenas, como as cotas raciais, foram trazidas para discussão. Segundo o professor Kabengele Munanga, as pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. Por isso as cotas são essenciais no Brasil. Elas são uma medida de ação contra a desigualdade num extremamente racista como o nosso. E foi com esse propósito que estudantes encenaram a peça “cotabilize”, que foi segundo lugar no Ceará Científico na etapa regional deste ano.
No final, ainda teve danças, poemas e músicas que visaram destacar não só o racismo estrutural, mas a força, a luta e a valorização dos povos negros e originários.
O estudante do segundo ano “a” da PLF, Fabrício, deixou o público atento com o recital SLAM, uma poesia de protesto escrita pelo estudante Marcos Antônio, da mesma sala. Já João Neto, do 1º ano B, Gente, veio com um musical intitulado “respeita a minha pele”. Alegria e celebração das riquezas culturais do nosso povo veio para o palco com uma dança afro-brasileira interpretada por estudantes.
Nessa mesma tônica, o evento foi encerrado com duas belíssimas apresentações e com duas vozes que não cantaram, mas encantaram. As estudantes Ingrid Vitória, do 3º ano B, cantou a música “resistência” e Emilly Deylane, estudante do 9º ano da Escola Avelino Feitosa, uma das convidadas, cantou a música “a carne”, da brilhante Elza Soares.
O evento fez parte das ações do Projeto “aCORde uma voz”, da área de ciências humanas, que está em sua 3ª edição, e contou com a colaboração dos demais professores e professoras e equipe gestora.
Com informações Equipe
de Ciências Humanas da EEMTI Padre Luís Filgueiras
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