12 de novembro de 2023

As previsões fracassadas do mercado após as eleições

Analistas projetavam suspeitas sobre o desempenho das estatais e sucesso para as varejistas de consumo (Foto: Olga Yastremska)

A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais do ano passado foi acompanhada de dias turbulentos no mercado financeiro, os quais geraram perdas na B3 - a bolsa de valores brasileira - e alta na cotação do dólar entre outubro e o fim de dezembro de 2022.

Ao mesmo tempo, analistas projetavam suspeitas sobre o desempenho das estatais e sucesso para as varejistas de consumo, especulando sobre a condução do Governo Federal.

Passado 1 ano e 15 dias desde o segundo turno das últimas eleições presidenciais, o cenário é completamente diferente do projetado e O POVO ouviu especialistas para saber o que fez as previsões do mercado financeiro para 2023 fracassarem.

Incertezas

"A gente enxergava incertezas naquele momento, porque o presidente Lula ganhando, os analistas viam uma guinada nas políticas econômicas devido ao histórico dele. O mercado entendia que seria um governo gastador e isso preocupa porque o mercado financeiro procura trabalhar com estabilidade e previsibilidade e, naquele momento, ninguém sabia ao certo qual seria a política econômica do presidente Lula", avalia Luiz Viana, professor de Economia e Finanças da Universidade de Fortaleza (Unifor).

Na prática, diziam que o aumento dos gastos e do déficit públicos pressionaria a economia, a qual já contava com uma escalada da taxa básica de juros por consequência da inflação elevada.

Mas as medidas costuradas pela equipe de transição - conduzida por Fernando Haddad hoje ministro da Fazenda - inverteram boa parte das especulações.

Mudança de opinião

Ricardo Coimbra, economista e conselheiro da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) do Brasil, observa que as tomadas de decisões que asseguraram o novo arcabouço fiscal e a reforma tributária, no caso da política econômica, além da retomada de programas que aceleram o crescimento do País, redirecionaram a opinião dos analistas.

"A gente começa a observar que o espelho do Lula 3 começa a parecer um pouco com o Lula 1 e isso mostra uma reativação dos programas que geraram um crescimento. As projeções eram de 1% de crescimento em 2023 e, agora, estão chegando a 3%", observa Coimbra, comparando o primeiro e o atual mandato do presidente.

Sobre o desempenho das estatais, especialmente a Petrobras, ele aponta a valorização do petróleo no mercado internacional, o investimento em energias renováveis e principalmente a manutenção do pagamento de dividendos como elementos que fizeram os analistas encararem a companhia de forma positiva.

Isso fez com que a empresa se mantivesse como a mais valiosa da B3, com ações em alta no último ano. É a diferença entre o discurso eleitoral e o de gestão, aponta Viana.

Varejistas

Rafael Meyers, gestor na Solutions MFO, empresa do Grupo Solutions WM, diz que as varejistas seguiram um outro viés, sem que o governo tivesse atuação decisiva. A crise sobre as Americanas, deflagrada em dezembro de 2022, interferiu no setor ao elevar expectativas sobre Magazine Luiza e Via Varejo/Casas Bahia, inicialmente.

Mas o cenário de endividamento elevado encareceu ainda mais o crédito, ao mesmo tempo, em que os juros se mantiveram elevados, impossibilitando o aumento do poder de compra e barrando o consumo como se esperava no fim do último ano.

"Isso aí acabou impactando negativamente as companhias. Outro fator foi a concorrência com os chineses que acabou, de certa forma, reduzindo a participação de mercado dessas empresas."

Bancos

Incólumes às especulações dos analistas, os bancos mantiveram o valor de mercado e o crescimento das ações ao longo deste ano, alheios às políticas econômicas ou interferências externas. Parte do mercado financeiro, esse setor se consolida por conseguir ganhar dinheiro na maioria dos cenários, diz o professor Luiz Viana.

"Eu costumo dizer em sala de aula que banco é banco, sempre vai ser, e nunca vai perder dinheiro. Na prática, do ponto de vista dos fundamentos de um banco, se a inflação está alta, ele empresta dinheiro a taxas mais altas. Por outro lado, sofre risco maior e precisa fazer provisão para devedores duvidosos maior porque com uma taxa de juros mais alta tem uma tendência de uma inadimplência maior. Se a taxa de juros está baixa, ele está ganhando menos por cada operação, mas ele está ampliando o crédito concedido."

Com informações portal O Povo +

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