Foram levadas em conta 73 votações de projetos em plenário, que receberam orientações a favor e contra do governo e da oposição (Foto: Evandro Éboli) |
A oposição ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara dos Deputados tem enfrentado resistência até mesmo entre o seu grupo. Boa parte dos deputados da direita, conservadores e patriotas, ignora que apoiaram Jair Bolsonaro no passado e, nas votações da Casa, tem seguido a orientação do governo.
Esses opositores têm tentado de tudo para conter a debandada. Promoveram obstruções e suspensões de sessões, mas nem todos acompanharam. Primeiro, alertaram os "conservadores infiéis", com ameaças de excluí-los dos grupos de WhatsApp de direita e, agora, decidiram expô-los publicamente, listando na internet como vota cada um deles, se a favor ou contra o governo.
Essa ação de perseguição aos "dissidentes" envolve a elaboração de um quadro batizado de "placar do Congresso, políticos monitorados", no qual a oposição revela como cada um desses deputados se comportou nas 73 votações que tiveram orientação do governo na matéria, se para votar a favor ou contra.
"Vamos mostrar para a sociedade quem são os parlamentares que se vendem como conservadores e de direita e, na verdade, votam com o governo, sempre interessados em cargo", disse o deputado Maurício Marcon (PL-RS), vice-líder da oposição na Câmara, e responsável pelo levantamento.
Mas esse estudo pode também ser um tiro no pé e revelar surpresas, mostrando que não apenas os partidos que apoiaram Bolsonaro estão hoje com Lula, casos do PP e do Republicanos, que têm até ministros na Esplanada, como deputados do próprio PL estão longe de ser tão fiéis assim à oposição.
Pelo menos sete deputados do PL são classificados na relação como "governistas". Casos, por exemplo, de João Carlos Bacelar (BA) que, das 46 votações das quais participou, dessas 73, em 41 delas votou de acordo com a orientação do governo. Josimar Maranhãozinho (MA) fechou com o Planalto em 33 das 43 sessões que participou. Outro caso é de Mateus Noronha (CE), que participou de 44 votações e, em 23, seguiu a orientação da liderança do governo.
O deputado Tiririca (SP) está entre os mais governistas do PL. Ele participou de 58 sessões e votou 53 vezes de acordo com o desejo do governo Lula. Um alinhamento com o Planalto de 90%. É classificado como um deputado do "governo".
Alinhamento
Se o critério para medir fidelidade a oposição for esse, nem o líder do PL, Altineu Côrtes (RJ), escapa. Pelo levantamento de seu correligionário, ele é ausente nas votações. Ele não esteve presente em 67% das sessões. Das 73, compareceu em apenas 24, votando em todas alinhado com a oposição.
Por partido, e considerando percentuais, o Novo lidera no quesito "alinhamento com oposição" ao governo Lula, com 91,7% de adesão a essa posição. Importante considerar que a legenda tem apenas três deputados. O PL, naturalmente, aparece em segundo, com uma taxa de 86,9%.
O levantamento chega a contabilizar os votos numéricos. No PL, nas 73 votações com orientações no painel do plenário, os 98 deputados do partido de Jair Bolsonaro despejaram 5.282 votos contra o governo e 775 a favor.
Na outra ponta, o PT entregou ao governo um nível de alinhamento de 99,2%. Foram 4.435 votos "sim" dos 68 petistas aos projetos de interesse de Lula, contra apenas 35 contrários, ou seja, 0,8%.
Na base governista, depois do PT, as legendas mais fiéis aos projetos de interesse do Planalto são, pela ordem, o PCdoB (99,1%), o PV (97,2%), o PDT (94,2%) e o PSB (92,5%).
Matemática
Dois partidos que viraram governistas durante essa terceira gestão de Lula, o Republicanos e o PP — que ganharam ministérios recentemente —, também há pouco tempo deram uma guinada pró-Planalto.
A bancada do PP, de 49 deputados e partido que emplacou André Fufuca (MA) no Ministério dos Esportes, tem uma taxa de adesão ao governo de 63,3%. O Republicanos, que indicou com sucesso o deputado Silvio Costa Júnior (PE) para a pasta dos Portos e Aeroportos, está entregando 70% dos votos de seus 41 parlamentares a favor das propostas governistas.
Na conversa com os jornalistas na última sexta, Lula justificou nomear os dois para esses ministérios, e também ter entregado à Caixa ao Centrão. O presidente foi direto: "Eles juntos têm mais de 100 votos, e eu precisava desses votos para continuar governando", afirmou.
Se for considerar por região, as bancadas federais dos estados do Nordeste são as mais fiéis a Lula. As da Região Sul são as mais afinadas com a oposição. Dos nove estados mais alinhados ao Planalto, oito são nordestinos: Piauí (91%), Bahia (83,4%), Maranhão (83%), Ceará (76%), Paraíba (73,4%), Pernambuco (72,6%), Sergipe (72,8%) e Alagoas (68,5%).
Do outro lado, quatro das cinco bancadas mais conectadas ao bolsonarismo e contrárias ao governo, que votam contra o Planalto, são do Sul e do Centro-Oeste, redutos do ex-presidente. O mais oposicionista é o agro de Mato Grosso (29,2% de alinhamento com o governo), seguido de Santa Catarina (33,8%), Rio Grande do Sul (51,5%) e o Distrito Federal (54,6%).
Com
informações portal Correio Braziliense
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