1 de junho de 2023

Quero ser primeiro-ministro, por Plínio Bortolotti

Para cumprir esse mister, Lira une-se ao que há de pior na Câmara (Foto: Bruno Spada)

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), move uma guerra fria contra o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pois mesmo sem atacá-lo diretamente impõe-lhe derrotas sobre derrotas com o objetivo de enfraquecer a sua administração.

Primeiro, fatiou-lhe dois ministérios, a banda esquerda da coalizão que o levou ao poder, esvaziando os poderes de Marina Silva (Rede), do Meio Ambiente, e Sonia Guajajara (Psol), dos Povos Indígenas, sobrando às duas um papel decorativo, se as medidas não forem revertidas.

Agora, Lira liga novamente a motosserra contra os recursos naturais ao comandar a votação do projeto que estabelece um marco temporal para a demarcação de terras indígenas, uma peleja na qual exibiu os músculos, impondo uma derrota por 283 votos contra 155 para o governo.

Se o perdedor fosse exclusivamente Lula, ainda seria passável. Mas o que a Câmara está fazendo é a imposição de medidas que agridem os recursos naturais, os indígenas e o País, que vai ter manchada a sua reputação internacional.

Na insana disputa política por adquirir mais poder, Lira desveste-se de qualquer consideração — a não ser seu próprio ego — e vai pilotando a roçadeira, sem preocupar-se com os efeitos colaterais que está provocando em uma população vulnerável e ao ecossistema.

Para cumprir esse mister, Lira une-se ao que há de pior na Câmara: os ruralistas, em especial o setor truculento do agronegócio, e a bancada bolsonarista, gente disposta a tudo para derrotar a "esquerda" e os ecologistas. Não foi acaso o assédio contra Marina e Guajajara.

Faz tempo que Lira está enviando "recados" dissimulados a Lula, usando o Parlamento para pressionar o governo. Ele já reivindicou "mais protagonismo" para o Congresso Nacional, liberdade para agir que dispunha com o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A tradução dos recados de Lira é a seguinte: além das emendas, ele quer dispor de poderes do Executivo, para agir como uma espécie de primeiro-ministro, como fez durante o governo de Bolsonaro.

Mas como no Brasil não existe o cargo de premiê , ele faria um bem enorme ao País se passasse a agir como parlamentar, esperando 2026 para candidatar-se a presidente.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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