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29 de junho de 2023

Censo 2022: o novo desenho da população do Ceará

O novo retrato demográfico do Ceará apresentado na prévia do Censo de 2022 aponta o segundo menor crescimento populacional desde o início da série histórica, em 1872. Nos últimos 12 anos, o número de habitantes no Estado subiu de 8,4 milhões para 8,9 milhões, alta de 5,72%. O mais baixo percentual,5,39%, foi registrado entre os recenseamentos de 1890 e 1900.

A desaceleração é progressiva há mais de 40 anos. De 1970 a 1980, o incremento médio anual da população caiu de 34,56% para 19,78%. No interstício seguinte (1980 a 1991), recuou para 18,25%. A queda se manteve nos intervalos de 1991 a 2000 (16,59%) e de 2000 a 2010 (13,93%). O declínio observado em 2022, além de confirmar a tendência das últimas décadas, é o maior já registrado no comparativo entre duas edições consecutivas.

O ritmo de crescimento no Ceará é inferior à média nacional. No País, o avanço populacional ficou em 8,9% na comparação com o Censo de 2010. Apesar disso, o Estado se mantém com a oitava maior população entre as Unidades da Federação. Dos 184 municípios, 106 tiveram acréscimo no número de habitantes e 78 fizeram o caminho inverso, registrando quantidade menor de moradores.

Os dados preliminares apontam crescimento populacional maior na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) em detrimento de quedas acentuadas no Interior. Enquanto a área no entorno da Capital concentra 3 dos 5 municípios com maior aumento percentual no número de habitantes, o Interior reúne as três cidades que mais perderam moradores.

Para o superintendente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no Ceará, Francisco Lopes, o quadro reflete uma dinâmica socioespacial observada há décadas no Estado: a migração de pessoas do campo para grandes centros urbanos, fenômeno conhecido como êxodo rural.

“Está havendo uma diminuição muito grande na zona rural. Quem está permanecendo nessas localidades são aquelas pessoas mais idosas. Os jovens, normalmente, estão saindo dessas localidades para regiões mais urbanas em busca de uma melhor qualidade de estudo e de trabalho”, pontua o superintendente.

Na linha do diagnóstico apontado pelo representante do IBGE, Fortaleza foi a cidade cearense com maior elevação populacional em números absolutos. No total, a Capital cearense ganhou 143.972 moradores no intervalo de 12 anos. Em média, foram 11,9 mil novos habitantes a cada ano. A prévia indica que a população cresceu 5,87%, indo de 2,4 milhões, em 2010, para 2,5 milhões em 2022.

Em termos proporcionais, o aumento foi maior em Jijoca de Jericoacoara, no Litoral Oeste do Estado, onde o número de moradores subiu de 17 mil para 29,4 mil, perfazendo incremento populacional de 73,34%. Cercada de belezas naturais, a cidade é um dos principais destinos turísticos do Ceará.

Na avaliação de Francisco Lopes, o acréscimo considerável no número de novos habitantes está diretamente relacionado com o potencial turístico do município. “Essa realidade tem a ver com a busca das pessoas por locais que ofereçam ao mesmo tempo, lazer, belezas naturais e qualidade de vida”.

O aumento no número de habitantes deve ser ainda maior na próxima década, conforme projeta o prefeito de Jijoca de Jericoacoara, Lindbergh Martins (PSD). Ele toma como base não só a diversidade de atrativos turísticos, mas a expansão da atividade econômica local a partir de robustos investimentos externos. “Pelo que a gente analisa e as perspectivas de negócios, nos próximos 10 anos essa população vai dobrar”, prospecta.

O prefeito pondera que a perspectiva de crescimento requer uma atenção maior do poder público para áreas essenciais como saúde, educação e segurança pública. Além disso, acrescenta ele, é necessário ampliar o olhar sobre a dinâmica de ocupação do território, evitando que o crescimento demográfico imponha sacrifícios ao ecossistema local.

“Quando vêm mais pessoas, vem o desenvolvimento, vem a geração de emprego, geração de renda e uma série de coisas boas, mas devemos ter uma atenção especial com o meio ambiente para que esse crescimento seja sustentável”, enfatizou o gestor. Por mês, segundo ele, a cidade recebe cerca de 70 mil visitantes, entre turistas nacionais e estrangeiros.

Além de Jericoacoara, ganhos populacionais expressivos foram registrados em Itaitinga (69,48%), Eusébio (60,03%), São Gonçalo do Amarante (33,99%) e Guaramiranga (36,31%). Os três primeiros ficam localizados na RMF. O número de habitantes de Eusébio saltou de 46 para 73,6 mil entre 2010 e 2022.

O aumento da população, segundo o prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), tem relação com o desenvolvimento social e econômico experimentado pelo município em escala progressiva desde meados de 2005. “Implantamos várias políticas públicas que trouxeram melhoria de vida para a população. Esse cuidado especial chamou a atenção das pessoas para essa cidade”.

O prefeito ressaltou que os números do novo Censo impõem uma necessidade ainda maior de planejamento urbano para evitar que haja ocupação desordenada do território nos próximos anos. Segundo ele, o plano diretor do município passa por revisões periódicas com foco na qualidade de vida dos habitantes.

“Temos um planejamento pautado na construção de ruas projetadas largas, permitindo o livre fluxo. Além disso, cuidado com o meio ambiente. Nunca fizemos doações ou liberações de áreas verdes para construções”, complementou Gonçalves.

Em São Gonçalo do Amarante, a Prefeitura associa o aumento populacional às obras de expansão e o pleno funcionamento do Complexo Portuário do Pecém, em 2010, e ao início das atividades da Companhia Siderúrgica do Pecém, em 2016. "Tivemos um aumento significativo nos empregos diretos e indiretos em nossa região na última década", avaliou a gestão em nota enviada ao O POVO.

Na cidade serrana de Guaramiranga, a 105 quilômetros de Fortaleza, a pandemia pode ter sido uma das causas do crescimento no número de habitantes. Segundo a Prefeitura, estudos realizados pela Secretaria Municipal de Saúde apontaram que turistas escolheram a cidade para morar após o período mais restritivo de isolamento social. Não há, contudo, nenhum dado preciso relacionado a isso. A prévia do IBGE aponta o município com aproximadamente 5,6 mil moradores, cerca de 1,4 mil a mais do que no Censo de 2010.

Com informações portal O Povo Online

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