Os chefes de Estado da América Latina estão reunidos em Brasília (Foto: Ricardo Stuckert) |
Ao receber Nicolás Maduro, ontem (29/05), no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acusou a comunidade internacional de ter "preconceito" contra a Venezuela. Segundo ele, foi por causa dessa antipatia que "brigou" com líderes europeus que se recusavam a reconhecer o chefe do governo venezuelano, e que uma "narrativa" fez de Juan Guaidó "presidente" do país vizinho. Por causa disso, segundo Lula, o encontro entre eles foi um "momento histórico".
"Briguei muito com companheiros social-democratas europeus e pessoas dos Estados Unidos. Achava a coisa mais absurda do mundo para as pessoas que defendem a democracia negar que você era presidente da Venezuela, tendo sido eleito pelo povo, e o cidadão que foi eleito deputado (Guaidó) fosse reconhecido como presidente da Venezuela. Se quiser vencer uma batalha, preciso construir uma narrativa para destruir o meu potencial inimigo. Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, de antidemocracia e do autoritarismo", afirmou.
Lula e Maduro — que esteve no Brasil pela última vez em 2015, para a posse da ex-presidente Dilam Rousseff, e desde 2019 estava proibido de entrar, por decreto de Jair Bolsonaro — fizeram um pronunciamento depois do encontro entre representantes dos dois governos, no Palácio do Planalto, no qual se discutiu o aumento do fluxo de comércio e o pagamento da dívida que Caracas tem com o Brasil por causa de financiamentos para empreendimentos. O presidente também criticou o governo dos Estados Unidos, que desde 2015 impõe sanções comerciais à Venezuela.
"O Maduro, por exemplo, não tem dólar para pagar as suas importações. Quem sabe ele começa a pagar em yuan (moeda chinesa)? Quem sabe a gente pode receber em moeda de outro país para que a gente possa trocar? É culpa dele? Não, é culpa dos Estados Unidos, que fez um bloqueio extremamente exagerado. Sempre acho que um bloqueio é pior do que uma guerra porque, na guerra, normalmente, morre o soldado que está em batalha. Mas o bloqueio mata crianças, mulheres, pessoas que não têm nada a ver com a disputa ideológica que está em jogo", lamentou.
Por conta disso, o presidente voltou a levantar a hipótese de uma moeda comum dos países sul-americanos, para que pudessem negociar sem a dependência do dólar. Para Lula, é preciso encontrar alternativas à moeda norte-americana.
"Sonho que a gente tenha uma moeda, entre nossos países, para que a gente possa fazer negócio sem ficar dependendo do dólar. Até porque, com o dólar, só um país tem a máquina de rodar dólar, e esse país faz o que quiser. Sonho que o BRICS (bloco econômico integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) possa ter uma moeda, como a União Europeia construiu o euro", observou.
Segundo Lula, agora cabe à Venezuela "mostrar a sua narrativa para que as pessoas possam mudar de opinião". "Queria dizer aos meus amigos do Brasil, à imprensa brasileira, a alegria deste momento histórico. Depois de oito anos, o presidente Maduro volta a visitar o Brasil, e nós recuperamos o direito de fazer política de relações internacionais com a seriedade que sempre fizemos, sobretudo com os países que fazem fronteira com o Brasil", ressaltou.
Maduro, porém, fez um discurso menos enfático do que Lula — sobretudo porque os EUA vêm afrouxando as sanções e retomou compras de petróleo venezuelano no início do ano passado. E confirmou o interesse venezuelano em participar do BRICS.
"Temos conversado sobre o papel do BRICS e seu surgimento frente à nova geopolítica mundial. Vemos no âmbito geopolítico um elemento que pode nos fazer avançar: a união de cinco países muito poderosos. O bloco está se transformando em um grande imã daqueles que buscam um mundo de paz e de cooperação", salientou.
Com
informações portal Correio Braziliense
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