Lula deu a deixa para Moro atacá-lo e fez dele vítima em dose dupla (Foto: Waldemir Barreto) |
Como
a coluna registrou, ao fazer acusação sem provas contra o senador — duvidando
indiretamente da PF —, Lula marcou um dos maiores gols contra de toda sua
trajetória política. Deu a deixa para Moro atacá-lo e fez dele vítima em dose
dupla, tanto da ameaça do crime organizado quanto da leviandade de sua suspeita
desprovida de base.
Desde a fala sobre "armação", Lula vem recebendo todo tipo de críticas, que vão das justificadas até aquelas exageradas, que comparam sua declaração com os piores momentos do bolsonarismo — como se as baixarias de Jair Bolsonaro e seus asseclas não fossem resultado de uma gigantesca e permanente estratégia de destruir reputações, algo muito diferente de uma rara fala condenável em que Lula usou o fígado para tratar de seu desafeto.
Nos últimos dias, por causa da incontinência verbal do petista, o lavajatismo saiu do túmulo e se juntou ao bolsonarismo para desancar o presidente. O jogo estava bastante desfavorável para Lula. Até que ontem Sergio Moro jogou contra o patrimônio: também marcou um gol contra memorável.
Por conta da divulgação de que uma das contas de email investigadas entre as várias que serviram de ponto de partida para desbaratar o plano do PCC tinha o endereço lulalivre1063@icould.com, o senador jogou nas suas redes sociais uma suspeição irresponsável. "Gostaria de entender por que um dos criminosos do PCC, investigado no plano de sequestro e assassinato, utilizava como endereço de email lulalivre1063?", questionou.
A acusação indireta de parceria entre PT e tráfico foi endossada por Deltan Dallagnol, fiel escudeiro de Moro — que, de quebra, requentou a lorota bolsonarista sobre a ida de Flávio Dino à favela da Maré: "Finja surpresa: membro do PCC usava email 'lulalivre'. Em áudio que divulguei dia 22, PCC reclamou de Moro porque com ele não tinha conversa, enquanto com o PT tinha. Não surpreende também que o Ministro da Justiça de Lula entre livremente em área dominada pelo crime organizado", acusou Deltan.
A
própria polícia explica que os integrantes do PCC usavam emails de terceiros
para despistar. Assim como o fato de a juíza Gabriela Hardt tratar do caso das
ameaças ao ex-juiz não dá a Lula o direito de dizer o que disse, o aparecimento
de endereço eletrônico com o nome do presidente no meio da investigação é
obviamente insuficiente para justificar qualquer suspeita infundada de Moro e
Dallagnol. Mas nenhum dos dois levou isso em consideração antes de atacar o PT.
Com
essa desprezível intriga, Moro marca a semana não apenas por ser vítima de um
plano do PCC e passa também à lamentável categoria dos parlamentares que fazem
politicagem com qualquer coisa — inclusive com eventuais desventuras. Tanto a
acusação leviana de Lula quanto a ilação inconsequente de Moro, rebaixam a já
desvalorizada política nacional. Mas não é um empate.
O
petista sempre poderá argumentar que tem motivos de sobra para ressentimento
contra o ex-juiz que, em processo sem provas e recheado de ilegalidades, o
obrigou a ficar 580 dias na prisão e entregou o país de bandeja para Bolsonaro.
Já Moro não explicou ainda a fixação que tem por Lula desde 2014 e que agora o faz perder o controle da situação. Cientistas políticos parecem não dar conta. Talvez seja o caso de recorrer a Freud.
Publicado originalmente no portal Uol
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