15 de março de 2023

As contradições de Lula, por Ítalo Coriolano

Não é de hoje que o presidente Lula relativiza regimes ditatoriais (Foto: Ricardo Sturket)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é, sim, um democrata. Sua trajetória política fala por si. Entretanto, existem nuances nessa classificação que precisam ser discutidas, ainda mais quando se trata da principal autoridade do País, eleita após quatro anos de extrema tensão no nosso sistema institucional, leia-se, a atuação autocrática do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Não é de hoje que o petista relativiza regimes ditatoriais, como é o caso de Cuba, Venezuela e, principalmente, da Nicarágua, comandada desde 2007 com mão de ferro pelo presidente Daniel Ortega, uma máquina de trucidar adversários. A volta de Lula ao poder, dentro de um contexto bastante distinto das outras duas vezes em que chegou à Presidência, exige dele uma nova postura enquanto estadista. E qual seria? Condenar de forma clara os abusos que são cometidos pelos países vizinhos.

Não há ideia de soberania ou receios de eventuais fissuras diplomáticas que justifiquem o silêncio em relação ao que acontece no país da América Central. Segundo atestaram peritos da ONU, a gestão de Daniel Ortega já passou de todos os limites. "Violações generalizadas dos direitos humanos que equivalem a crimes contra a humanidade estão sendo cometidas contra civis pelo governo da Nicarágua por razões políticas".

Lula e o PT pós-2022 precisam modernizar o pensamento político para além das nossas fronteiras. Quem mostrou bem o caminho das pedras foi Alberto Cantalice, membro do diretório nacional da sigla e diretor da Fundação Perseu Abramo. Sem melindres, ele deu a classificação exata para Ortega, Maduro e companhia: "Protoditadores, aprendizes autoritários". Se dissociar dessas figuras, como já fizeram Gustavo Petro (Colômbia) e Gabriel Boric (Chile), elevaria o atual governo a outro patamar de respeitabilidade em termos mundiais, além de enterrar uma contradição bem explorada pela oposição.

Falando em contradição, outra que precisa ser urgentemente sanada se refere à indicação para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) que se abre em maio, com a aposentadoria compulsória do ministro Ricardo Lewandowski. Lula não pode fazer discursos inclusivos e, ao mesmo tempo, alegar que a escolha não levará em conta a questão de gênero. Um claro desrespeito a uma demanda do campo feminino que também se estende ao Judiciário. Não é hora de atender a amigos, mas de compreender pautas históricas e colocá-las em prática. Se guiar por outros interesses é apequenar-se.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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