25 de fevereiro de 2023

Lula reforça pedido de paz entre Rússia e Ucrânia no dia de um ano da guerra

 

Lula publicou em suas redes sociais um apelo para que outras nações avancem no sentido de pôr fim ao problema por meio de uma conciliação (Foto: Ricardo Stuckert)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lançou em viagem este mês aos Estados Unidos uma proposta de paz para o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia. Na manhã desta sexta-feira (24/02), em que o conflito entre os dois países completa um ano, o petista publicou em suas redes sociais um apelo para que outras nações avancem no sentido de pôr fim ao problema por meio de uma conciliação.

“No momento em que a humanidade, com tantos desafios, precisa de paz, completa-se um ano da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. É urgente que um grupo de países, não envolvidos no conflito, assuma a responsabilidade de encaminhar uma negociação para restabelecer a paz”.

Nesta quinta-feira (23/2), o governo russo disse estar analisando um plano proposto por Lula para tentar cessar o conflito que completa um ano nesta sexta-feira (24). A informação foi anunciada pelo vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin.

"Nós notamos as declarações do presidente do Brasil sobre o tema de uma possível mediação para tentar encontrar meios políticos de evitar escalada na Ucrânia, corrigindo erros de cálculo no campo da segurança internacional com base no multilateralismo, e considerando os interesses de todos os atores”.

Galuzin pontuou a parceria entre Moscou e Brasil, China, Índia e África do Sul no grupo Brics e disse "apreciar" a decisão brasileira de não enviar armas à Ucrânia. A Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, Lula afirmou que, se enviasse armas, estaria fatalmente entrando na guerra.

Guerra entre Rússia e Ucrânia completa 1 ano

Há exatamente um ano, no dia 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu o território da Ucrânia. De lá para cá, a estimativa é que o conflito no leste europeu já tenha deixado cerca de 300 mil mortos, entre soldados ucranianos, russos e civis. Recentemente, a guerra teve uma escalada, por meio do envio de ajuda ao exército ucraniano pelos Estados Unidos e Alemanha e, também, dos discursos dos presidentes Joe Biden e Vladimir Putin. Após um ano, o conflito parece longe do fim.

Uma das explicações sobre a origem da guerra é a insatisfação do presidente russo com a Organização do Atlântico Norte (Otan). A aliança militar foi fundada em 1949, no contexto da Guerra Fria, para evitar a expansão da então União Soviética (URSS) — que também criou uma organização própria à época: o extinto Pacto de Varsóvia. Para o chefe de Estado russo, a Otan tem "ambições imperialistas" e quer se aproximar da fronteira da Rússia.

Segundo o professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) Roberto Goulart Menezes, o argumento de Putin é plausível, mas a Ucrânia pode tomar a decisão de ingressar na Otan, pois é um país soberano. "Com o fim da União Soviética, a questão era qual seria o rumo da Otan. E a Otan passou a buscar uma nova razão de ser. A partir de 1991, essa aliança foi se expandindo para o leste europeu e começou a incorporar os países que antes faziam parte do Pacto de Varsóvia", explica.

"A Rússia, entre as décadas de 1990 e 2000, teve um bom diálogo com a Otan, mas sempre realçou a preocupação no ingresso da Ucrânia na Otan, pois poderia levar a 'nuclearização' do território ucraniano, ou seja, levar armas nucleares a uma fronteira extensa que a Ucrânia tem com a Rússia", emendou o especialista.

Outro ponto é que o conflito tem origem histórica. Isso porque tanto a Rússia quanto a Ucrânia foram formadas pelo estado medieval eslavo Rus de Kiev. Por isso, Putin afirma que russos e ucranianos são "um só povo", enquanto a Ucrânia reivindica o reconhecimento de sua soberania e independência. O professor aposentado e mestre em relações internacionais Alexandre Martchenko, conta que a avó dele sempre se identificou como russa, mesmo tendo nascido em Kiev. "Quando ela era pega falando em ucraniano, tinha advertências", comenta.

Longe do fim

Roberto Goulart destaca que a guerra está longe do fim pois ainda não houve uma proposta de paz factível. "O presidente Putin colocou condições para a Ucrânia, em um provável processo de paz, que eram simplesmente inaceitáveis e ele não retirou isso até agora", pontua. As condições incluem a rendição ucraniana e a aceitação de que aproximadamente 1/5 do território fosse anexado à Rússia. De acordo com o professor, esses fatores condicionantes violam a soberania da Ucrânia.

Na segunda-feira (20/2), o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, fez uma visita surpresa à Ucrânia e prometeu "apoio inabalável" ao país. O chefe de Estado norte-americano também anunciou US$ 500 milhões em ajuda, o que inclui equipamentos militares. Um dia depois, Biden visitou Varsóvia, capital polonesa. "Um ano depois, eu diria que a Otan está mais forte do que nunca", disse.

Em contrapartida, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou as nações ocidentais de terem começado a guerra e ameaçarem a Rússia. Foram eles que começaram a guerra. E estamos usando a força para encerrá-la", disse Putin, durante discurso anual. Ele também elogiou a resistência da economia russa que, mesmo em meio a sanções, "revelou-se muito mais forte do que o Ocidente pensava".

Para o mestre em relações internacionais Alexandre Martchenko, a visita de Biden à Ucrânia não deve ser lida apenas como uma ação política em busca da paz, mas também como uma demonstração de "envolvimento" no conflito. O especialista lembra que a Rússia acusou o filho do presidente norte-americano, Hunter Biden, de patrocinar laboratórios para desenvolvimento de armas biológicas na Ucrânia. O governo dos EUA, no entanto, nega a afirmação e diz que a acusação faz parte de uma "campanha de desinformação" de Moscou.

"No tocante ao Putin, apesar de estar mais sob controle à luz dos embargos iniciais, ele não deixa de ter uma série de pressões internas e externas. No seu discurso recente, ele coloca que abriu mão do acordo nuclear com os Estados Unidos, o que caracteriza a possibilidade de utilização de armas nucleares. É um aspecto absolutamente temerário", ressalta Alexandre. Uma outra perspectiva para o futuro da guerra é a possibilidade de envolvimento direto de outros países, além da Rússia e Ucrânia.

Impactos da guerra

A Rússia é o país com o maior arsenal nuclear do mundo, o que coloca a humanidade em alerta pela ameaça do uso dessas armas desde o início do conflito. "Essa é uma tensão geopolítica global", descreve o professor Roberto Goulart. Segundo o especialista, a guerra também marca um impacto do ponto de vista estratégico: a aproximação da Rússia com a China. "O tensionamento está gerando uma aproximação entre os países, o que leva os Estados Unidos a engrossar o discurso frente à China. Os riscos geopolíticos advém exatamente dessas alianças", frisa.

m aspectos econômicos, a guerra no leste europeu fez com que o preço da energia aumentasse no mundo todo, especialmente na Europa. "Os preços dos alimento também aumentaram e gerou inflação em vários países. Indiretamente, o conflito entre Rússia e Ucrânia afeta a economia mundial, pois mesmo países como o Brasil, que não estão diretamente envolvidos, acabam sendo afetados", observa o professor.

Posição do Brasil no conflito

Segundo o professor Roberto Goulart, o Brasil tem adotado duas medidas em relação à guerra no leste europeu. A primeira é não endossar as sanções diplomáticas e econômicas contra a Rússia; e a outra é tentar trazer a diplomacia de volta ao primeiro plano. "Com o governo Bolsonaro, o Brasil não manteve a neutralidade, pois tomou lado da Rússia desde o início. A posição do Brasil no Conselho de Segurança da ONU sempre foi acessória, ora votava contra a Rússia, ora criticava", cita o especialista.

"A ideia do presidente Lula é, quem sabe, formar um grupo envolvendo a Índia, Indonésia, Turquia, México, e seria bom se tivesse a China também, para reunir condições de fazer uma mediação do conflito. A política atual do Brasil não é de neutralidade no sentido de não tomar partido, pois o presidente condenou a guerra e avalia que se continuar isolando cada vez mais o Putin, a guerra só tende a se aprofundar", acrescenta o professor.

Na quinta-feira (23/2), o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, elogiou a postura brasileira e disse que o país vai avaliar a proposta de paz sugerida pelo presidente Lula. "Ficamos sabendo das declarações do presidente brasileiro sobre uma possível mediação política para impedir a escalada do conflito na Ucrânia. Estamos analisando essa iniciativa, mas claro, levando em conta a situação no terreno", disse o vice-chanceler à agência estatal Tass.

Com informações portal Correio Braziliense

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