Presidente diz que ataques aos Três Poderes foram "revolta dos ricos que perderam as eleições" (Foto: Sergio Lima) |
"O que aconteceu no Palácio do Planalto, na Suprema Corte e no Congresso foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições", enfatizou. "Não podemos brincar, porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e resolver fazer as coisas mudarem neste país. Eu ganhei as eleições exatamente para fazer as mudanças que não eram feitas. Se nós conseguirmos decepcionar esse povo, e o povo passar a desacreditar de nós, fico pensando o que será deste país."
Também conforme o chefe do Executivo, "este país não pode continuar sendo governado para uma pequena parcela da sociedade, mas para a grande maioria do povo brasileiro".
As declarações de Lula reforçam o clima do "nós contra eles" e destoam de outras falas do presidente, que pregam a pacificação do país.
A advogada constitucionalista Vera Chemin — mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV) — afirmou que Lula "parece mais interessado em recrudescer a divisão de classes", além de tentar angariar maior popularidade, especialmente junto às classes menos favorecidas.
"Afirmar que o evento de 8 de janeiro foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições é subestimar a inteligência do eleitorado, além de aumentar ainda mais os conflitos de natureza ideológica", disse. "Acredito que tal assertiva não poderia ser exteriorizada, sob risco de acirrar ainda mais os ânimos, tendo em vista a atual conjuntura de grave polarização político-ideológica", ressaltou.
Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, observou que o início do mandato de Lula foi marcado por momentos conturbados e que os comentários servem como aceno a sua base eleitoral. Porém, analisou que o presidente deveria seguir com a agenda de governabilidade.
"A gente começa um governo que ainda, de certa maneira, é pautado por um ex-presidente. Dá para entender esse sentimento do presidente Lula, mas não justifica", frisou. "Na perspectiva de um político experiente, ele deveria descer do palanque e preocupar-se com uma agenda pró-ativa na busca da governabilidade e de questões que pudessem pacificar o país, inclusive como ele de fato disse."
Na opinião de Prando, "essa forma de ele tratar as ações do dia 8 como 'a elite que perdeu a eleição' é uma hipersimplificação". "Da perspectiva política, da pacificação, a fala do Lula contribui muito pouco. Ele está sendo contraditório com as suas ações e os seus discursos", pontuou.
Já o cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, destacou que o discurso do petista foi uma tentativa de justificar uma preferência por políticas sociais em detrimento da política fiscal.
"Quando fala isso, está querendo justificar a adoção de medidas sociais em detrimento de políticas fiscais, como se a política fiscal beneficiasse apenas os mais ricos. Ele tenta fazer esse tipo de separação, que não tem amparo nenhum na realidade", avaliou. "Muitas pessoas de classe média, alta, pessoas com educação superior também votaram no PT", acrescentou.
Pressões
Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que, embora o presidente esteja na missão de pacificar o país e terminar com o clima de animosidade, tem enfrentando pressões.
"O 8 de janeiro, sobretudo esse dia, é uma declaração de guerra contra o governo. Organizada, orquestrada, com centralidade de ordem, com distribuição de tarefas, com infiltrados no governo do Distrito Federal. Portanto, Lula não pode dar declaração diferente da que deu", enfatizou. "Lula terá de ser contundente. Se não, ele não governa. Pedem de Lula, o tempo todo, paz e tranquilidade, e o tempo todo provocam."
Segundo ele, "basta ver as declarações dos bolsonaristas na posse no Senado e na Câmara. Quem tem de sinalizar pacificação são as ex-autoridades que deixaram o governo".
Ainda na posse de Mercadante, o petista comentou a respeito a falta de reajuste salarial de servidores públicos e do próprio salário mínimo. "A minha pergunta é: como a gente pode falar em estabilidade, previsibilidade, credibilidade, se a gente sequer cumpre o dever de reajustar o salário mínimo todo ano, não apenas de acordo com a inflação, mas dar um pouco do crescimento da economia, quando ela crescer, para repartir com o povo?", questionou.
Com
informações portal Correio Braziliense
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