Adiada ao longo da semana, a decolagem do avião presidencial ocorreu às 14h02min de ontem (Foto: Cadu Alves) |
Depois de fazer uma transmissão ao vivo em redes sociais, na qual se despediu de apoiadores e criticou o novo governo, o presidente Jair Bolsonaro deixou o Brasil, ontem (30/12), rumo a Orlando, nos Estados Unidos, dois dias antes da posse do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva. Primeiro chefe do Executivo a perder a disputa pela reeleição, Bolsonaro também será o primeiro a não passar a faixa a um sucessor escolhido em votação direta desde a redemocratização.
Adiada ao longo da semana, a decolagem ocorreu às 14h02, com atraso no plano de voo do Airbus VC-1 da Força Aérea Brasileira, que previa o início da viagem às 13h45. O comboio presidencial saiu do Palácio da Alvorada, sem passar pelo portão principal. Assim que Bolsonaro cruzou o espaço aéreo brasileiro, o vice-presidente Hamilton Mourão entrou em exercício da Presidência da República.
Bolsonaro deve ficar fora do país até, pelo menos, 30 de janeiro. Ainda não há informações sobre como e quando será o retorno dele ao Brasil, já que, por ter deixado o cargo, não poderá mais usar o avião da Força Aérea Brasileira (FAB) — a não ser que Lula autorize.
Em Orlando, Bolsonaro vai passar a virada de ano. A expectativa é de que ele fique em um resort em Palm Beach, de propriedade do ex-presidente Donald Trump. Depois, possivelmente seguirá para Miami. O Diário Oficial da União de ontem trouxe a autorização que liberou cinco assessores para uma "agenda internacional" com o presidente entre domingo e 30 de janeiro.
Antes de viajar, Bolsonaro fez uma live em que aproveitou para alfinetar a nova gestão, dizendo tratar-se de "um governo que começa capenga". Ele lamentou a eleição de Lula, mas afirmou que "o mundo não vai acabar em 1º de janeiro". Ao admitir a posse do petista, o presidente decepcionou os apoiadores que ainda esperavam que ele pudesse se manter no Palácio do Planalto.
"Bolsonaro também criticou a tentativa de ataque com bomba ao Aeroporto de Brasília no último sábado, véspera de Natal. Ele afirmou que o "ato terrorista" foi isolado e não representa a maioria dos manifestantes. O presidente disse que a ameaça de bomba "não se justifica", e ainda criticou a imprensa por identificar o homem preso como "bolsonarista". "Massifica, em cima do cara, como 'bolsonarista' o tempo todo", afirmou.
Ele
ressaltou que em momento algum participou das manifestações que vêm acontecendo
desde o fim das eleições e que evitar comentar o assunto foi melhor para não
"tumultuar" a situação, pois, segundo enfatizou, suas falas são
tiradas do contexto na imprensa. "Isso tudo trouxe uma massa de pessoas
para as ruas, protestando. Tem uma massa atrás de segurança, eles foram para os
quartéis. Não participei desse movimento. Eu me recolhi", destacou. O
chefe do Executivo frisou que os protestos foram pacíficos e do "povo",
sem uma liderança.
Pelo que deu a entender na transmissão, Bolsonaro tentará voltar ao poder. "Tenho certeza de que não vai demorar muito, e o Brasil vai voltar ao eixo da normalidade. O Brasil não sucumbirá. Acredito em vocês, acredito no Brasil, acredito em Deus. Temos um grande futuro pela frente. Perde-se a batalha, mas não a guerra", disse, com a voz embargada. O presidente também fez outras afirmações, parte delas enganosa.
O pronunciamento foi mal recebido na base. Do lado de fora do Alvorada, um pequeno grupo de apoiadores que acompanhava a transmissão — alguns ajoelhados — se dispersou. Um homem xingou Bolsonaro e disse que ele era "covarde".
No chat do YouTube, uma das plataformas em que se veiculou o pronunciamento do presidente, seus apoiadores pediam que ele colocasse em prática o "artigo 142" e que usasse as Forças Armadas para impedir que Lula assumisse o cargo. No entanto, as solicitações de cunho golpista deram espaço às lamentações, ao perceberem que Bolsonaro não ia atendê-los. Surgiram emojis de choro e até xingamentos ao presidente. (Com Agência Estado)
Checagem
Proibido
de falar sobre a covid-19 — enganoso
Bolsonaro não foi proibido de falar sobre a doença. No relatório entregue pela Polícia Federal ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente é acusado de ter cometido crimes durante a pandemia por disseminar informações falsas a respeito do coronavírus. Esse inquérito se refere a um pedido feito pela CPI da Covid tendo como base a live feita pelo chefe do Executivo na qual ele vinculou a vacina contra a covid-19 ao risco de contrair aids.
Liberdade
de médicos foi tolhida na pandemia — enganoso
“Você não podia falar sobre a covid, até a liberdade dos médicos foi tolhida”, afirmou o presidente. Na verdade, o Conselho Federal de Medicina (CFM) não condenou a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem eficácia comprovada contra a covid-19.Na época, o CFM chegou a reconhecer que ambos os remédios não são eficazes no combate ao vírus. No entanto, justificou a não punição de médicos como “respeito à autonomia médica”.
Em
2020 não existia vacina — enganoso
Bolsonaro disse ter comprado diversas doses da vacina contra covid-19 e que quem quis se imunizou. Afirmou que em 2020 não existia vacina. A declaração contradiz o que foi falado pelo então diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, na época da CPI da Covid. Segundo ele, em dezembro, o laboratório tinha quase 10 milhões de doses da CoronaVac. A vacinação no mundo começou em dezembro daquele ano. No Brasil, apenas em 17 de janeiro. A investigação feita pela CPI apontou que o Ministério da Saúde recebeu a primeira oferta de vacinas contra a covid-19 em 30 julho de 2020, mas ficou sem resposta.
Esteve
com familiar do petista assassinado em Foz do Iguaçu — verdadeiro
O presidente fez uma chamada de vídeo com a família do guarda municipal Marcelo Arruda, dirigente do PT que foi morto na festa de aniversário pelo agente penal Jorge Guaranho. O contato foi feito na época do ocorrido. O chefe do Executivo também recebeu o irmão da vítima.
O
futuro governo vai taxar o PIX — enganoso
Não há elementos que sustentem a ideia de que a equipe do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai taxar o PIX. Quando questionado sobre essa possibilidade, no último dia 14, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, descartou cobrança de tributos nessa forma de transação.
Não
negociou cargos com partidos — enganoso
Em
2020, em meio à crise gerada pela pandemia, Bolsonaro negociou com os partidos
do Centrão a entrega de cargos da administração pública em troca de apoio no
Congresso.
Com
informações portal Correio Braziliense
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