2 de novembro de 2022

Lula sinaliza ao centro político e escolhe Alckmin para coordenar conversas

Alckmin agradeceu a Lula pela missão e disse que o trabalho será norteado pelos princípios de interesse público, transparência, agilidade e continuidade dos serviços" (Foto: Flávio Tavares)

Vice-presidente eleito, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSB), foi indicado ontem para assumir a coordenação da equipe de transição de governo. A escolha do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), sinaliza a montagem de um governo que contemple os diferentes partidos que ajudaram o petista durante a campanha eleitoral. A reação de integrantes do mercado financeiro ao nome de Alckmin foi positiva.

A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Aloizio Mercadante também farão parte da equipe de transição. Ela irá cuidar a articulação política e ele, das questões programáticas e técnicas.

Integrantes da equipe, que será dividida por áreas, serão indicados amanhã. Ao anunciar a escolha de Lula a jornalistas em São Paulo, Gleisi afirmou que Alckmin "tem mais do que legitimidade e poder político e institucional para conduzir" o processo, que durará cerca de dois meses.

Em mensagem publicada ontem no Twitter, Alckmin agradeceu a Lula pela missão e disse que "o trabalho da nossa equipe será norteado pelos princípios de interesse público, colaboração, transparência, planejamento, agilidade e continuidade dos serviços."

A nova tarefa de Alckmin também reforça os indicativos de que ele assumirá uma vice-presidência turbinada, após desempenhar durante a campanha o papel de fiador do ex-presidente junto a grupos que divergem do PT.

A união com Alckmin foi crucial para Lula conquistar apoio de nomes fora da esquerda e sinalizar aos eleitores que não nutre sentimento de revanchismo após a prisão no âmbito da Lava Jato. O perfil do vice fez com que personalidades públicas declarassem voto na "chapa Lula-Alckmin" - e não apenas no petista.

O acerto com o ex-adversário foi parte da estratégia de Lula também para governar. Ele assumirá a Presidência aos 77 anos, com o país politicamente dividido, um Congresso hostil, desafios econômicos e as instituições desgastadas, e tem dito que contará com a experiência política de Alckmin para a missão.

O presidente eleito prometeu, durante a campanha, que o vice não terá papel decorativo em seu governo. Nos bastidores, petistas consideram que Alckmin pode acumular a vice com um ministério forte ou, no mínimo, liderar missões centrais. Uma delas será a negociação de uma nova legislação trabalhista, que tende a ser liderada pelo vice-presidente eleito, segundo Lula sugeriu na campanha.

Alckmin chegará a Brasília depois de duas candidaturas frustradas à Presidência pelo PSDB. Em 2006, foi derrotado por Lula. Em 2018, não chegou ao segundo turno, que foi disputado pelo presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e por Fernando Haddad (PT).

Uma vez unido a Lula, Alckmin recebeu a incumbência de ajudar a desarmar o espírito de atores econômicos, dialogar com a classe média, com o agronegócio e com setores de saúde, além de criar espaço para o avanço do PT no interior conservador do Estado de São Paulo e em cidades bolsonaristas em Minas Gerais.

Durante as viagens de campanha, Alckmin mantinha por telefone contato com importantes nomes da economia. Conseguir a adesão do ex-ministro da Fazenda do governo de Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan, foi uma das articulações mais duras encampadas pelo vice.

Malan ainda guardava mágoas pelas referências de Lula ao que chamava de "herança maldita" na economia deixada em 2003 pelo PSDB, mas acabou declarando voto na chapa. O vice também ajudou a atrair Pérsio Arida, um dos pais do Plano Real, além de uma lista de tucanos históricos.

Coube ainda a Alckmin a tarefa de buscar Simone Tebet (MDB-MS), candidata à Presidência no primeiro turno, antes do encontro da senadora com Lula. Alckmin também fez acenos discretos ao presidente do MDB, Baleia Rossi, fiador da campanha de Simone. Em eventos com empresários, Alckmin passou a fazer referência a uma PEC de autoria do deputado quando falava em reforma tributária.

O perfil discreto que rendeu a Alckmin o apelido pejorativo de "picolé de chuchu" em disputas passadas tornou-se um ativo político do vice para ajudar a atrair descontentes e indecisos durante uma eleição entre dois candidatos com alto índice de rejeição.

O ex-governador chegou a ser rejeitado por uma ala do PT e vaiado em um evento durante a pré-campanha. Em poucos meses, no entanto, reverteu o mal-estar a ponto de ser bem recebido ao subir em um palco montado no Armazém do Campo, local de venda de produtos do MST no centro de São Paulo. Ao fim da campanha, ouviu gritos carinhosos da militância que dizia, durante uma carreata, "chuchu no Jaburu" e "o chuchu é nosso".

Com informações portal O Povo Online

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