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28 de outubro de 2022

Denúncia das rádios foi tiro no pé de Bolsonaro, por Luiz Carlos Azedo

Em entrevista coletiva Bolsonaro afirmou que ia até "as últimas consequências", mas ordem na campanha é esquecer o fato (Foto: Fátima Meira)

A ordem na campanha de Bolsonaro é esquecer a história das rádios e deixar o assunto morrer na Justiça, porque a denúncia foi uma Operação Tabajara, como diria o humorista Claudio Manoel, da antiga Casseta & Planeta. Não se sustentou 24 horas, porque revelou atraso na entrega dos programas às rádios, falhas no monitoramento das redes sociais e uma desconfiança, por parte da própria equipe de campanha, de que o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fábio Wajngarten, autor da trapalhada, comprou gato por lebre, ao acreditar que o dossiê com a denúncia tivesse total veracidade e poder de provocar até o adiamento das eleições.

A tese foi comprada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria, que divulgou a denúncia em entrevista coletiva na segunda-feira, sem que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o marqueteiro da campanha, Duda Lima, fossem consultados. Como todo candidato que está perdendo a eleição acredita em qualquer coisa que possa mudar o rumo da história, Bolsonaro se empolgou e agarrou a denúncia com as duas mãos, mas foi demovido de um confronto mais sério com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, pela cúpula das Forças Armadas e os caciques do Centrão - o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e próprio presidente do PL, Valdemar Costa Neto - tão logo as rádios começaram a desmentir as informações.

Quando Bolsonaro convocou a reunião ministerial de emergência, na quarta-feira à noite, os políticos e militares do governo já estavam conscientes de que a "bala de prata" seria um tiro no pé. Ainda tentaram demover Bolsonaro de comentar o assunto, mas já era tarde, porque ele estava muito irritado com a resposta de Moraes e havia anunciado a entrevista. Ontem, porém, o assunto já era tratado como uma agenda negativa, sobre a qual a campanha não deveria mais tratar. O foco foi todo voltado para a agenda de Bolsonaro no Rio de janeiro, que fora suspensa na véspera, e sua preparação para o debate de hoje, na TV Globo.

Nada de braçada

O resultado foi que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou o dia de ontem nadando de braçadas: "Eu não sei o estado psicológico do presidente, mas essas coisas da rádio são incompetência da equipe dele. Não temos nada a ver com isso. Ele está um pouco desesperado, percebeu que tem a possibilidade de perder a eleição", disse entrevista ao Correio, à Clube FM e à TV Brasília. "Nós ainda temos que disputar (o voto de) algumas pessoas que estão indecisas e pessoas que votaram nulo e branco no primeiro turno, mas é o direito que ele tem de chorar, espernear, de quem sabe que vai perder as eleições. O Bolsonaro está ciente que vai perder as eleições. Ele estuda pesquisa, encomenda pesquisa e ele sabe que vai perder".

Enquanto o clima na campanha de Bolsonaro era de que a semana fora perdida, Lula manteve a ofensiva. "O povo quer o Brasil mais alegre, com esperança, com prazer de ser brasileiro. Um país que distribui livros, não armas. Os servidores não receberam nenhum reajuste desde 2017. É um absurdo. O brasileiro era o povo mais feliz do mundo", disse, num claro recado para os servidores públicos, que em Brasília são a categoria mais numerosa.

No final da tarde, lançou um documento intitulado Carta para o Brasil do amanhã, com propostas de governo com o claro propósito de agradar o mercado financeiro e o agronegócio, além da classe média, que vota majoritariamente com Bolsonaro. "Democracia e liberdade", "desenvolvimento econômico com investimentos", "desenvolvimento sustentável e transição ecológica", "reindustrialização do Brasil" e "agricultura sustentável" são os principais temas do documento, que tem 13 capítulos. Na abertura da carta, Lula diz: "Temos consciência da nossa responsabilidade histórica e, junto com amplas forças que apoiam a democracia brasileira, a partir de um permanente processo de diálogo e escuta da sociedade, apresentamos nossas principais propostas para a reconstrução do país".

O documento servirá de referência para a participação de Lula no debate da TV Globo, hoje à noite, que é considerado uma espécie de batalha final com o presidente Bolsonaro. O petista não se saiu bem nos debates anteriores, embora isso não tenha alterado radicalmente o curso das eleições. Sua intenção é não cair nas armadilhas de Bolsonaro e manter o apoio que já tem, sem aumentar a rejeição. Em contrapartida, Bolsonaro aposta tudo no debate, porque precisa reverter sua desvantagem estratégica: 50% de rejeição, contra 45% de Lula.

O ex-presidente liderou o primeiro turno da eleição com 48,4% dos votos ante 43,2% do atual presidente da República, uma diferença de cerca de 6 milhões de votos. No fim da tarde, a pesquisa Atlas mostrou que a campanha de Lula se manteve na dianteira em Minas Gerais, onde Bolsonaro esperava reverter a vantagem, e no computo geral registrou 52,4% para o petista e 46,0 %, para o presidente da República, nas intenções totais de votos, uma vantagem de 6,4 pontos, a maior até agora no segundo turno. No começo da noite, o DataFolha também divulgou nova pesquisa, com Lula apresentando 49% dos votos totais e Bolsonaro, 44%, uma diferença de cinco pontos. Em termos de votos válidos, a pesquisa Atlas registrou 53,2% a 46,8% e a DataFolha, 53% a 47%, a favor de Lula. Em termos de votos válidos, o que pode alterar esse resultado são as abstenções.

 Blog Negro Nicolau com foto de portal Correio Braziliense

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