Com audiência na casa dos milhões de espectadores, o último debate desta eleição seguiu o modelo adotado no primeiro turno (Foto: Reprodução/Tv Globo) |
A última cartada da mais tensa e violenta disputa presidencial já vista no país desde a redemocratização foi dada ontem à noite, no debate da TV Globo. Frente a frente, o presidente Jair Bolsonaro (PL), que busca a reeleição, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tenta voltar ao poder depois de dois mandatos entre 2002 e 2010, passaram a maior parte do programa trocando acusações e deixando em segundo plano propostas de governo.
Com audiência na casa dos milhões de espectadores, o último debate desta eleição seguiu o modelo adotado no primeiro turno, em que os candidatos puderam administrar o próprio tempo.
Bolsonaro levou para o estúdio dois de seus principais coordenadores de campanha, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, e o marqueteiro Fábio Wajngarten, além do ex-ministro e ex-desafeto Sergio Moro (União Brasil), eleito senador pelo Paraná.
Lula chegou à emissora acompanhado da esposa, Rosângela da Silva, a Janja; do vice de chapa, Geraldo Alckmin (PSB); da ex-ministra Marina Silva (Rede); e da senadora Simone Tebet (MDB). No estúdio, além de Janja, teve como auxiliares de palco a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o marqueteiro da campanha, Sidônio Palmeira.
Confirmando as expectativas, os dois candidatos partiram, logo no primeiro bloco, para a troca de provocações. A primeira pergunta, por sorteio, foi feita por Bolsonaro, que questionou Lula sobre acusações feitas na propaganda petista de que ele iria congelar o salário mínimo e aposentadorias.
O ex-presidente aproveitou o tema para perguntar por que o governo atual não deu aumento real para o mínimo, como ocorreu na gestão do petista. Bolsonaro mordeu a isca, ficou na defensiva, com o argumento de que o país viveu uma crise por causa da pandemia. E prometeu elevar o valor do mínimo para R$ 1,4 mil no ano que vem.
A partir daí, expressões como "mentira" e "mentiroso" passaram a ser constantes em todas as participações. Até que Lula cobrou o fraco crescimento econômico nos últimos anos. Bolsonaro disse que recebeu o país em crise, referindo-se ao governo Dilma Rousseff. Nesse ponto, o primeiro bloco atingiu seu momento mais tenso. O petista lembrou que o presidente "recebeu o governo de um golpista chamado Michel Temer, não recebeu de Dilma".
O chefe do Executivo perguntou por que adversário "esconde" nomes que se envolveram no escândalo do mensalão, como os ex-ministros Antônio Palocci e José Dirceu. Lula rebateu dizendo que no governo dele havia transparência e que quem está escondendo aliados é o presidente. Citou o ataque feito pelo ex-deputado Roberto Jefferson a uma equipe da Polícia Federal.
No segundo bloco do debate, cada candidato teve o direito de escolher um tema para discussão. Lula perguntou sobre combate à fome. Bolsonaro defendeu o Auxílio Brasil e contestou os dados de que há mais de 30 milhões de brasileiros sem ter o que comer. Apresentou dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que indicariam redução da extrema pobreza de 5,1% para 4% da população. "Diminuiu comigo a extrema pobreza", disse o presidente. O petista lembrou do governo dele, quando "o povo tinha dinheiro para comprar comida, trocar de fogão, viajar".
Bolsonaro escolheu o tema "respeito à Constituição" e afirmou que "joga dentro das quatro linhas da Constituição" há três anos e 10 meses. E atacou Lula dizendo que o ex-presidente apoia invasões de terra. "Isso é respeitar a Constituição?", provocou o chefe do Executivo. O adversário respondeu dizendo que quem ameaça ministros do Supremo é o presidente. Bolsonaro retrucou argumentando que suas opiniões são "liberdade de expressão".
O aborto foi outro assunto do bloco, a partir de uma provocação de Lula, que relembrou um discurso de Bolsonaro na Câmara, nos anos 1990, defendendo um remédio abortivo. E perguntou se o concorrente se lembrava das declarações. O presidente admitiu, mas minimizou a questão dizendo que a declaração havia sido dada "muito tempo atrás". E devolveu a acusação: "Você é abortista convicto", acusou. O petista revidou sustentando que sempre foi contra o aborto. "Se você quer jogar a culpa do aborto em alguém, em mim não cola", enfatizou Lula.
Pandemia
No terceiro bloco, com tema livre, Lula retomou a discussão sobre a pandemia e perguntou por que o presidente "esconde" o próprio cartão de vacina e por que cortou recursos do programa Farmácia Popular. Também questionou por que o Brasil, que tem 3% da população mundial, foi responsável por 13% das mortes pela doença em todo o mundo. Bolsonaro defendeu as ações do seu governo e reafirmou que o país foi um dos primeiros a iniciar a vacinação em massa. Não falou sobre o sigilo em relação ao seu cartão de vacina. O petista acusou o adversário de não demonstrar nenhum gesto de solidariedade às famílias que perderam parentes para a pandemia. Disse que o concorrente foi ao velório da rainha Elizabeth, do Reino Unido, "enquanto 640 mil pessoas morreram de covid no Brasil".
Lula indagou Bolsonaro sobre os investimentos do atual governo na área da saúde. "Sabe o que você fez a mais? Comprou 35 mil caixas de Viagra para dar às Forças Armadas. Explique por que, já que o povo não tem sequer fraldão geriátrico", frisou. "Lula, o Viagra é usado para vários tratamentos", disse o presidente. Nessa hora, o petista foi até o adversário e o interrompeu: "Essa eu quero ver você responder, explique". "Eu expliquei: o Viagra é usado para tratamento de (câncer de) próstata", frisou o chefe do Executivo. Foi a deixa para Lula provocar: "Só as Forças Amadas têm direito, por que você não distribui de graça para o povo?"
Outro tópico que entrou na reta final do debate foi a da política de liberação de armas para civis, promovida pelo atual governo. Bolsonaro acusou Lula de se encontrar com "chefões do tráfico" quando visitou o Complexo de favelas do Alemão, no Rio de Janeiro. "Você propôs aos chefões do tráfico entregar fuzis ou apenas fez média com eles para ganhar votos do pessoal do comunidade?", atacou. "Eu sou o único presidente da República que tem coragem moral para entrar numa favela, ser tratado como ser humano e tratar a todos com respeito. Todo mundo ali é gente trabalhadora, extraordinária", respondeu o petista, que prometeu retomar o controle e a fiscalização das armas no país por meio do Exército.
Na sequência, foi a vez de Lula provocar o adversário informando que o governo cortou todos os recursos orçamentários para proteção da mulher. Bolsonaro defendeu-se afirmando que o Orçamento poderá ser modificado depois pelo Congresso.
Emprego
Na última rodada de debates, com temas pré-definidos, Bolsonaro escolheu falar de geração de emprego, lembrando que os dados deste ano são positivos para a geração de empregos, com uma média de 250 mil vagas abertas mensalmente. Lula revidou, sustentando que os números só são positivos porque foram incluídos na conta o trabalho informal, o trabalho eventual e os microempreendedores individuais. No governo dele, os dados se referiam ao emprego com carteira assinada, que registraram saldo de 22 milhões de vagas. O presidente ressaltou que o Brasil se recuperou da pandemia gerando milhares de empregos.
Foi nesse bloco que Bolsonaro apresentou, pela primeira vez, projetos de governo na área da infraestrutura. Listou uma série de investimentos que deverão ser tocados, se reeleito. "A costa do Nordeste será um oásis com (usinas) eólicas", disse. Elencou, também o futuro metrô de Belo Horizonte, o término da construção da usina nuclear Angra 3 (RJ) e o início da exploração de lítio no Vale do Jequitinhonha (MG).
Lula optou por fazer uma pergunta sobre meio ambiente, destacando a crise climática global. Bolsonaro respondeu apresentando dados que, segundo ele, mostrariam que os números do desmatamento no governo Lula era superiores aos do atual governo. O ex-presidente citou a presença da ex-ministra Marina Silva e se comprometeu a acabar com o desmatamento ilegal. "Eu não vou ficar discutindo os números invisíveis que ele traz e eu nem sei qual é a fonte", enfatizou o petista. "Eu dei a fonte e, se você quiser, depois do evento, discutir com os jornalistas aqui, eu discuto sem problema nenhum", rebateu.
Publicado
originalmente no portal Correio Braziliense
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